Há benefício de estatinas para prevenção primária em idosos?

Existe grande variabilidade em relação a recomendação do uso de estatinas para prevenção primária e apenas o Reino Unido o uso em idosos.

Existe grande variabilidade em relação a recomendação do uso de estatinas para prevenção primária nas diversas diretrizes, sendo que apenas a diretriz do Reino Unido sugere fortemente o uso desta medicação em pacientes idosos com mais de 75 anos. As demais têm recomendações mais fracas, com base no risco global estimado pelo PCE (do inglês, pooled cohort equations).

Porém, a maioria dos ensaios clínicos não incluiu pacientes com base no score de risco e há poucas informações sobre a performance e uso desses scores, principalmente nos pacientes muito idosos. Ainda, a magnitude dos benefícios da estatina nos idosos é pouco documentada para gerar uma recomendação forte nesta população.

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Ainda, alguns estudos prévios que não mostraram benefício não incluíram pacientes mais idosos e muito avaliaram tanto pacientes em prevenção primaria quanto secundaria. Metanálise recente que avaliou pacientes com mais de 75 anos em uso de estatina ou placebo e o estudo HOPE-3 que avaliou uso de estatinas em prevenção primária em pacientes com mais de 70 anos não encontraram resultados significativos com o uso da medicação.

Foi feito então um estudo para avaliar o uso de estatinas como prevenção primária em pacientes idosos com o objetivo de avaliar redução de desfechos clinicamente significantes em adultos saudáveis com 65 anos ou mais e o principal desfecho de interesse foi infarto agudo do miocárdio (IAM) com supradesnivelamento do segmento ST (SST) e sua relação com mortalidade em 30 dias.

Há benefício de estatina para prevenção primária em idosos

Método do estudo e população envolvida

De outubro de 2010 a janeiro de 2019 foram analisadas informações de dois grandes registros clínicos com pacientes da Europa. Os pacientes foram admitidos com síndrome coronariana aguda (SCA) e tinham pelo menos umas das seguintes alterações: eletrocardiograma (ECG) compatível com IAM, alteração dos marcadores de necrose miocárdica e/ou documentação de doença coronária. Foram excluídos pacientes com história prévia de doença cardiovascular (DCV): doença coronária, vascular periférica e cerebrovascular e insuficiência cardíaca.

O desfecho principal foi IAMSST e foi também avaliada a associação deste evento com mortalidade em 30 dias. Os pacientes foram divididos em dois grupos: com estatina e sem estatina e o impacto do uso da estatina foi avaliado em pacientes com idade entre 65 e 75 anos e 76 anos ou mais.

Resultados

O número de pacientes com SCA era 23567 e 14542 não tinham antecedentes de DCV. Desses, 5619 tinham 65 anos ou mais. O padrão de exposição aos principais fatores de risco e medicações foi semelhante nos dois grupos e o grupo que usava estatina tinha risco cardiovascular em 10 anos um pouco maior que o que não usava.

Nesta coorte, raramente o risco estimado foi menor que 10%, sendo encontrado em apenas 5,5% dos pacientes entre 65 e 75 anos e 0,8% dos com 76 anos ou mais, sendo assim, foram incluídos na analise apenas pacientes com risco maior que 10%.

O desfecho de IAMSST ocorreu em 3.576 pacientes e pouco mais de 15% dos pacientes usavam estatina. Esses pacientes tinham mais frequentemente antecedente de tabagismo, diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia.

O grupo que usava estatina teve menor taxa de IAMSST comparado a quem não usava e esse achado foi consistente nos dois grupos de idade, sendo o risco relativo (RR) de 0,55 (IC 95% 0,45-0,66) para os com 65 a 75 anos e de 0,58 (IC 95% 0,46-0,76) para os com 76 anos ou mais. O grupo de pacientes mais velhos teve redução absoluta de risco de 17,1% e redução relativa de risco de 51% para ocorrência de IAMSST. Interessantemente, no grupo de pacientes entre 65 e 75 anos essa diferença ocorreu no grupo dos homens (20,7% de redução absoluta de risco), porém não ocorreu no grupo de mulheres.

Em relação a outros fatores de risco, o benefício foi semelhante quando pacientes com e sem hipercolesterolemia e com ou sem diabetes foram comparados.

A apresentação clínica de IAMSST foi fortemente associada a mortalidade em 30 dias e pacientes que usavam estatina tiveram redução de mortalidade, sendo esta redução três vezes maior no grupo de pacientes com 76 anos ou mais comparado aos com 65 a 75 anos (RAR de 10,2% e de 3,8% respectivamente).

Conclusão

Neste estudo, pacientes que usavam estatina tiveram redução da ocorrência de IAMSST, independente de terem hipercolesterolemia ou diabetes, além de redução da mortalidade decorrente do IAMSST. Estes achados sugerem que estatinas devem ser usadas para prevenção primária em pacientes com idade maior que 75 anos. O motivo de menor efeito da medicação no sexo feminino é desconhecido e mais estudos são necessários para confirmar se essas diferenças realmente existem.

Provavelmente o benefício da medicação tem outros mecanismos além da redução de LDL, como o seu efeito pleiotrópico, que leva a alterações na estrutura da placa e maior estabilização.

É importante ter em mente que as estatinas podem causas dor muscular e, raramente, diabetes, doença hepática ou renal e os pacientes idosos são mais sensíveis aos efeitos colaterais. Sendo assim, a decisão sobre uso da medicação para prevenção primária deve levar em conta os benefícios e os riscos envolvidos e a idade isoladamente parece não ser um fator limitante para iniciar ou suspender seu uso.

Referências bibliográficas:

  • Bergami M, et al. Statins for primary prevention among elderly men and women. Cardiovascular Research, 2021;cvab348. doi: 10.1093/cvr/cvab348.

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