Há diferença entre opioides para tratamento da dor em pacientes ortopédicos?

O uso crônico de opioides é importante e bem fundamentado na literatura no tratamento da dor ocasionada em pacientes oncológicos.

O uso crônico de opioides é importante e bem fundamentado na literatura no tratamento da dor ocasionada em pacientes oncológicos. Entretanto, os ortopedistas estão entre os maiores prescritores dessas drogas. No momento pós-operatório, o controle da dor é um fator de satisfação do paciente e está associado ao decréscimo da taxa de dor crônica pós-operatória. No entanto, o uso de opioides na dor aguda está associado a maior risco de uso a longo prazo, de maneira incorreta e overdose. 

A desospitalização é um momento chave no manejo da dor desses pacientes e a literatura ainda carece de dados concretos para condução nesse período. Foi publicado esse mês no “Journal of American Medical Association” um ensaio clínico duplo-cego randomizado comparando o controle da dor com opioide forte (oxicodona) e fraco (paracetamol + codeína) nesse período pós alta hospitalar afim de demonstrar ou negar uma possível superioridade entre os dois.

opioides

O estudo

Os participantes foram 120 pacientes acima de 18 anos admitidos em um hospital de trauma em Sydney, Australia, com pelo menos uma fratura de osso longo, pelve, patela, calcâneo ou tálus de tratamento cirúrgico entre julho de 2016 e agosto de 2017. Durante a internação foram tratados com oxicodona. Após alta hospitalar foram divididos em dois grupos:

  • Oxicodona 5 ou 10mg quatro vezes ao dia por duas semanas (n=59)
  • Paracetamol 500 ou 1000mg + codeína 8 ou 16mg quatro vezes ao dia por duas semanas (n=61)

A coleta de dados foi realizada pessoalmente durante a internação e por telefone nos dias 3, 7, 14 e 21 pós alta. O desfecho primário foi medido pela “Numerical Pain Rating Scale” (NRS) e os desfechos secundários pelos questionários “EuroQol 5-Dimension 5-Level (EQ-5D-5L)” para qualidade de vida e “Global Perceived Effect (GPE)” para comparação com nível de dor pré-operatório. Além disso foram verificados os efeitos adversos relatados por cada paciente.

Dos dias 1 a 7 após alta, a média do escore de dor  NRS foi de 4,04 (IC 95%, 3,67 a 4,41) no grupo oxicodona e 4,54 (IC 95%, 4,17 a 4,90) no grupo paracetamol + codeína. A diferença entre os grupos para esse desfecho primário não foi estatisticamente significativa (−0,50 [IC 95%, −1,11 a 0,12]; = 0,11) apesar de um do grupo oxicodona ter ingerido uma dose seis vezes maior em equivalentes de morfina. 

No final do estudo, 13,5 % dos pacientes do grupo oxicodona adivinharam corretamente o que haviam ingerido enquanto 30,5% achavam que estavam tomando paracetamol + codeína e 56% não tentaram responder. Já no grupo paracetamol + codeína 34,5% dos pacientes acertaram o que haviam ingerido quando questionados e 26,2% acharam que estavam fazendo uso de oxicodona. Também não foi observada diferença estatística entre os desfechos secundários.

Leia também: Constipação induzida por opioides: uma realidade da prática clínica

Conclusões

De acordo com os resultados do estudo, o uso de opioides mais poderosos como a oxicodona não é superior aos opioides mais leves após a alta de pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas.  

Apesar do uso muito difundido em países com os Estados Unidos, a oxicodona não é tão requisitada na prática ortopédica brasileira. O pós-operatório na nossa realidade geralmente é realizado com um opioide mais leve como a codeína e tramadol, subindo a escada analgésica para oxicodona em casos refratários. 

Mesmo assim, é importante ter em mente a dificuldade em equilibrar o risco-benefício do uso de opioides pós cirurgias ortopédicas ponderando o momento e dose adequadas para uso afim de fornecer a analgesia necessária ao paciente com menos efeitos colaterais.

 

Referências bibliográficas:

  • Jenkin DE, Naylor JM, Descallar J, Harris IA. Effectiveness of Oxycodone Hydrochloride (Strong Opioid) vs Combination Acetaminophen and Codeine (Mild Opioid) for Subacute Pain After Fractures Managed Surgically: A Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2021;4(11):e2134988. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2021.34988 

 

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