Hemostasia na infecção pelo HIV

Recente estudo brasileiro avaliou as alterações na hemostasia de 115 idosos (idade > 60 anos) com HIV, comparando-os com 88 idosos saudáveis.

Indivíduos infectados pelo HIV têm vivido mais nas últimas décadas, devido ao desenvolvimento de novas drogas. No entanto, algumas complicações decorrentes da doença e/ou do tratamento instituído ainda impactam na qualidade de vida e na taxa de mortalidade de tais pacientes. Inflamação e hipercoagulabilidade são observadas na infecção pelo HIV, sendo diretamente proporcionais à idade do paciente. A infecção crônica promove mudanças na hemostasia secundárias às alterações no sistema imunológico, na macro e microcirculação e na síntese hepática de fatores da coagulação. Recente estudo brasileiro avaliou as alterações na hemostasia de 115 idosos (idade > 60 anos) com HIV, comparando-os com 88 idosos saudáveis.

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Hemostasia na infecção pelo HIV

Características do estudo

Entre os indivíduos infectados, 63 (54,8%) eram do sexo feminino e 52 (45,2%) do sexo masculino, com mediana de idade de 66 anos. No grupo controle, havia 64 (72,7%) mulheres e 24 (27,3%) homens, com mediana de idade de 71 anos. Analisando o grupo infectado, 88 (76,52%) tinham contagem de linfócitos T CD4+ ≥ 400/mm³, 53 (46,08%) estavam em uso de inibidor de protease (IP), e 97 (84,34%) tinham carga viral (CV) indetectável.

Os participantes com HIV tiveram maior alargamento no tempo de protrombina (TP) e no tempo de tromboplastina (PTT), enquanto que a contagem plaquetária foi discretamente menor neste grupo, independentemente do início ou não de terapia antirretroviral (TARV).

A fim de evitar a influência do sexo na análise da hemostasia, os dados foram analisados separadamente em homens e mulheres. Observaram-se maiores valores de fibrinogênio nos pacientes em uso de IP, independente do sexo, e nas mulheres com CV indetectável. Mulheres em tratamento com IP também tiveram maior alargamento de PTT. Homens com contagem de CD4+ ≥ 400/mm³ e mulheres com CV indetectável apresentaram aumento dos níveis de fator de von Willebrand.

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Dados da literatura indicam que a classe de IP induz alterações metabólicas, ósseas, vasculares e cardiológicas, além de participar de reações inflamatórias. Inflamação, translocação bacteriana e menor CV costumam ser observadas nos indivíduos que fazem uso de IP. Talvez tais alterações justifiquem os achados dos autores nesse subgrupo de pacientes.

O fato de o PTT encontrar-se mais alargado nas mulheres sugere a influência do climatério e das alterações hormonais na coagulação do sangue. Análises anteriores já evidenciaram associação entre alterações de estrogênio e progesterona com mudanças na hemostasia e estado pré-trombótico. Tais variações parecem ser precoces nas mulheres com HIV. No entanto, poucos estudos sobre o assunto foram publicados até o momento.

Outros autores já haviam observado relação entre climatério, CV e disfunção endotelial com aumento dos níveis de fator de von Willebrand. Tal aumento foi evidenciado em outras populações com HIV estudadas por outros pesquisadores, porém sem relação com o sexo.

Em relação à faixa etária, indivíduos infectados com 68 anos ou mais apresentaram mais alterações laboratoriais do que os indivíduos entre 60 e 67 anos e do que a população controle (ex.: maior alargamento de TP, maiores níveis de fibrinogênio). Fibrinogênio é um marcador de fase aguda, considerado como um biomarcador de risco independente na infecção pelo HIV e na população idosa. Os valores de D-dímero foram maiores entre os pacientes mais idosos com HIV do que na faixa etária menor, porém menores do que nos indivíduos saudáveis.

Um achado importante foi o aumento dos níveis de antitrombina na população com infecção pelo HIV, independente da faixa etária. Os dados na literatura sobre antitrombina e envelhecimento são um pouco conflitantes. Há estudos que mostram queda dos seus níveis com o avançar da idade, tanto em homens como em mulheres, enquanto que outros evidenciam queda entre os homens e aumento entre as mulheres. No entanto, os achados do estudo brasileiro sugerem que a idade e o sexo não tiveram impacto na antitrombina, cujo incremento poderia ser justificado pela infecção pelo HIV.

Mensagem final

São necessárias mais análises sobre o tema, preferencialmente com um maior número de participantes, porém os dados apresentados pelos autores brasileiros sugerem que o perfil hemostático dos pacientes com HIV possa refletir a eficácia da terapia.

Referências bibliográficas:

  • de Magalhães MC, et al. Hemostasis in elderly patients with human immunodeficiency virus (HIV) infection—Cross-sectional study. Plos one. 2020;15(2):e0227763. doi: 10.1371/journal.pone.0227763

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