Novas diretrizes da American Association of Blood Banks foram recentemente publicadas no Journal of American Medical Association (JAMA) com recomendações de hemotransfusão em pacientes hospitalizados hemodinamicamente estáveis.
A publicação recomenda dois limites de hemoglobina que indicam transfusão: 7 g/dL em adultos hemodinamicamente estáveis, mesmo em terapia intensiva; e 8 g/dL para pacientes com doença cardiovascular ou em pré-operatório de cirurgia cardíaca ou ortopédica, sendo o alvo limite de hemoglobina de 10 g/dL.
A transfusão inicial recomendada é de apenas 1 concentrado de hemácias, ao invés de 2 unidades, como habitualmente observado na prática. Estratégia que visa diminuir os riscos de complicações, infecciosas ou não, da hemotransfusão.
O guideline analisou 31 ensaios clínicos randomizados com mais de 12 mil participantes. Foram comparadas uma conduta conservadora na indicação de transfusão (hemoglobina de 7-8 g/dL para indicar transfusão) com uma conduta liberal de indicação de transfusão (hemoglobina de 9-10 g/dL).
A conduta conservadora não demonstrou desfechos piores que a conduta liberal, quando analisados os seguintes desfechos: mortalidade em 30 dias; ressangramento; infarto agudo do miocárdio; acidente vascular encefálico; pneumonia; tromboembolismo venoso.
No entanto, para pacientes portadores de síndrome coronariana aguda, trombocitopenia severa e anemia dependente de transfusão crônica, a evidência não é forte suficiente para mudar conduta, e, portanto, níveis de hemoglobina mais altos como 8-9 g/dL devem ser considerados para transfusão.
A publicação também destaca que o nível de hemoglobina não pode ser o único fator a indicar hemotransfusão, e o julgamento clínico deve considerar as comorbidades e situação clínica do paciente, a disponibilidade e a possibilidade de tratamentos alternativos.
Na realidade dos serviços de saúde no Brasil, essas recomendações não chegam a ser nenhuma novidade, visto que é conduta comum no país adotar medidas conservadoras de indicação de hemotransfusão. A grande importância do novo Guideline é que o mesmo corrobora uma conduta que tem sido amplamente adotada e que, anteriormente, era baseada apenas no resultado de pequenos ensaios clínicos, e, a partir de agora, apresenta ampla evidência favorável.
Referências Bibliográficas:
- Carson, JL MD; Guyatt, G MD; Heddle, NM et al. Clinical Practice Guidelines From the AABB: Red Blood Cell Transfusion Thresholds and Storage. AMA. Published online October 12, 2016. doi:10.1001/jama.2016.9185. Disponível online em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2569055
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