Impacto do rituximabe na resposta sorológica após vacinação contra a Covid-19

É essencial conhecer o impacto de tratamentos imunossupressores/imunomoduladores (como o rituximabe) na eficácia da vacina contra Covid-19.

Com a vacinação contra a Covid-19 avançando para a contemplação de grupos de risco em diversos centros no Brasil, pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) serão vacinados cada vez mais frequentemente nos próximos meses, desse modo, é de fundamental importância que conheçamos o impacto dos tratamentos imunossupressores/imunomoduladores (como o rituximabe) realizados na eficácia da vacina. Apesar dessa necessidade, ainda não temos dados definitivos na literatura que nos auxiliem no entendimento dessa questão.

Recentemente, publiquei um texto sobre um pequeno estudo monocêntrico realizado em Kiel, Alemanha, que sugere que a vacinação com vetores adenovirais é segura e apresenta boa eficácia nos pacientes com DRIM.

O rituximabe é um anticorpo monoclonal contra o CD20, molécula presente em grande quantidade na linhagem de células B, a partir dos linfócitos pró-B. Como as células B são as principais responsáveis pela imunidade humoral e, consequentemente, produção de anticorpos após sua diferenciação para plasmócitos, estudos sobre o impacto dos anti-CD20 na resposta sorológica contra a SARS-CoV-2 são importantes. De maneira geral, em outros contextos, recomenda-se que os pacientes aguardem pelo menos 6 meses para qualquer vacinação após a última dose de rituximabe, visando melhorar a resposta humoral nesse contexto.

Leia também: Rituximabe e Covid-19: pacientes recebendo anticorpo monoclonal têm pior prognóstico?

Dados de pacientes acompanhados no Hospital for Special Surgery, em Nova Iorque, foram recém-publicados na Annals of the Rheumatic Diseases (FI: 16.102) na forma de carta ao editor. Nele, Spiera et al. discutem o impacto das medicações antirreumáticas na resposta sorológica após a vacinação, com enfoque no rituximabe, principalmente.

Impacto do rituximabe na resposta sorológica após vacinação contra a Covid-19

Métodos

Trata-se de uma análise retrospectiva de pacientes portadores de DRIM em uso de terapias antirreumáticas que foram vacinados contra a Covid-19. Para serem incluídos, os pacientes deveriam ter recebido pelo menos uma dose de alguma vacina contra a Covid-19. Foram incluídos pacientes que passaram por consultas entre 24/02/2021 e 08/04/2021.

A resposta vacinal foi analisada através da produção de anticorpos contra a proteína spike do SARS-CoV-2, medidos através de um exame de ELISA semiquantitativo. Os pacientes foram divididos em 2 grupos conforme a produção de anticorpos (avaliada de maneira binária).

Resultados

Foram incluídos 89 pacientes, sendo que 83 deles já haviam tomado as duas doses preconizadas da vacina contra a Covid-19 (57% Pfizer e 43% Moderna). Destes, 30 foram tratados com rituximabe (34%) e 35 (39%) estavam em uso de mais de uma medicação antirreumática.

Dentre os 21 pacientes que foram negativos para a pesquisa de anticorpos contra o SARS-CoV-2, 20 haviam recebido rituximabe. O outro paciente foi tratado com belimumabe (anti-BLyS), que interfere na sobrevida de linfócitos B.

Os 10 pacientes que foram tratados com rituximabe e positivaram os anticorpos haviam feito doses há mais tempo (704 [IQR 540-1035] vs. 98 [64-164 dias, p < 0,001). Quando dicotomizados, pacientes que receberam o rituximabe há menos de 6 meses apresentaram menor probabilidade de resposta sorológica (80% vs. 0, p < 0,001).

Saiba mais: Primeiro biossimilar do rituximabe entra no mercado

Onze pacientes tinham estudos de reconstituição de linfócitos B. Quando foram analisados de maneira dicotômica, houve diferença na soropositividade entre aqueles com e sem reconstituição de linfócitos B (p = 0,024).

Comentários

Até o momento, esse foi o estudo que incluiu o maior número de pacientes vacinados contra a Covid-19 em uso de rituximabe. Apesar disso, ainda é um pequeno estudo retrospectivo. Desse modo, é importante que os resultados apresentados sejam confirmados em estudos maiores, com melhor qualidade metodológica.

Vale destacar que a imunidade contra a Covid-19 não se baseia exclusivamente na positividade para anticorpos IgG contra a proteína spike. Existe participação da imunidade celular, além de anticorpos neutralizantes, que não foram analisados nesse estudo.

Assim, é necessário seja feito um seguimento a longo prazo de pacientes em uso de rituximabe para avaliarmos se, de fato, existe diferença na eficácia da vacinação nesse contexto clínico, medida através de taxas de infecção e prevenção de formas graves.

Referências bibliográficas:

  • Spiera R, Jinich S, Jannat-Khah D. Rituximab, but not other antirheumatic therapies, is associated with impaired serological response to SARS- CoV-2 vaccination in patients with rheumatic diseases. Ann Rheum Dis. 2021. doi:10.1136/annrheumdis-2021-220604.

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