Infarto agudo do miocárdio tipo 2: qual a prevalência e especificidades?

O infarto agudo do miocárdio (IAM) pode ser dividido em 5 tipos, sendo os mais comuns o tipo 1 e o 2, muitas vezes é difícil diferenciá-los.

O infarto agudo do miocárdio (IAM) pode ser dividido em 5 tipos, sendo os mais comuns o tipo 1, resultante de trombose coronária, geralmente por ruptura de placa aterosclerótica, e o tipo 2, ocasionado por um desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio no miocárdio, na ausência de trombose.

Na prática, muitas vezes é difícil diferenciá-los, já que os sintomas, alterações eletrocardiográficas e laboratoriais são muito semelhantes. Porém, é importante que seja feita essa diferenciação, pois o tratamento pode ser diferente. Para o IAM tipo 1 existe tratamento bem estabelecido na literatura. Já para o IAM tipo 2 não há terapêutica bem definida e o que fazemos é tratar as alterações que levaram ao desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio. Existem alguns estudos que avaliaram a prevalência do IAM tipo 2 e diferenças no seu tratamento e prognóstico, porém os resultados são conflitantes. Recentemente foi publicado o maior estudo de coorte já feito sobre o assunto.

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Infarto agudo do miocárdio tipo 2: qual a prevalência e especificidades?

Método do estudo e população envolvida

Foram analisados dados de 28 hospitais americanos, responsáveis por 58% das internações no país. Foram obtidos dados de pacientes com IAM tipo 1, tipo 2 ou ambos por um período de 3 meses.

Resultados

O número de pacientes internados por IAM neste período foi 255.947, sendo 84,6% com IAM tipo 1, 14,8% com IAM tipo 2 e 0,6% com ambos na mesma internação. As principais diferenças significantes encontradas foram:

  • Pacientes com infarto tipo 2 eram mais velhos (71 x 68 anos), mais mulheres (47,3% x 40%), tinham mais insuficiência cardíaca (27,9% x 10,9%), doença valvar (9,3% x 3,3%), fibrilação atrial (31% x 21%), doença renal crônica (35,7% x 25,7%), doença hepática (4,6% x 2,9%), anemia (26% x 18,9%), depressão (11,9% x 9,4%) e uso de álcool (4,5% x 3,4%). Quando o IAM tipo 2 era o diagnóstico secundário, os diagnósticos primários mais frequentes eram sepse (24,5%), hipertensão (16,9%), arritmias (6,1%), insuficiência respiratória (4,3%) e pneumonia (2,8%).
  • Pacientes com infarto tipo 1 tinham maior prevalência de fatores de risco para doença aterosclerótica: tabagismo (25,6% x 21,9%), dislipidemia (55,9% x 39,2%), infarto (13% x 8,7%), angioplastia (14,2% x 8,6%) e cirurgia cardíaca (8,1% x 7%) prévios.
  • As taxas de realização de cineangiocoronariografia foram muito menores no IAM tipo 2 (10,9% x 57,2%), assim como angioplastia (1,7% x 38,5%) e cirurgia (0,4% x 7,8%). Dos que tiveram IAM tipo 2, quem foi submetido a intervenção era mais novo, do sexo masculino, com maior prevalência de doença vascular periférica, diabetes e obesidade.
  • A mortalidade intra-hospitalar foi menor no grupo com IAM tipo 2, que teve tempo de internação mais prolongado. As taxas de readmissão em 30 dias foram semelhantes nos dois grupos e a principal causa nos dois foi hipertensão.

Conclusão e mensagem prática

Apesar de ser um estudo de coorte observacional, estes dados nos dão uma ideia da prevalência do infarto agudo do miocárdio tipo 2 e nos mostram que esses pacientes têm um perfil clínico diferente, são mais complexos e com mais comorbidades e são submetidos a menos exames diagnósticos e a intervenção coronária.

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Ainda não há evidência em relação a necessidade de revascularização desses pacientes, sendo que a decisão é tomada caso a caso. O mesmo vale para o tratamento medicamentoso, que ainda não está bem definido. Mais estudos randomizados são necessários para identificar os pacientes que podem ter benefício de intervenção, assim como para a definição da terapêutica mais adequada para este grupo de pacientes.

Referências bibliográficas:

  • Thygesen K, Jaffe AS. Adjusting the MI Codes Into the Framework of the Universal Definition of Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol 2021;77:848–57. doi: 10.1016/j.jacc.2021.01.003

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