Infecção congênita por citomegalovírus: quais os fatores clínicos relacionados?

Pela primeira vez, fatores clínicos de gestantes e de recém-nascidos (RN) foram relacionados à infecção congênita por citomegalovírus.

Pela primeira vez, fatores clínicos de gestantes e de recém-nascidos (RN) foram relacionados à infecção congênita por citomegalovírus (congenital cytomegalovirus infection – cCMV). O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Kobe, no Japão, e o artigo, intitulado Clinical factors associated with congenital cytomegalovirus infection: A cohort study of pregnant women and newborns, foi publicado no jornal Clinical Infectious Diseases.

A equipe de Uchida e colaboradores objetivou determinar os fatores clínicos associados à ocorrência de cCMV. Os pesquisadores então realizaram um estudo de coorte prospectivo entre março de 2009 e novembro de 2017.

médico com a mão em barriga de mulher grávida com infecção congênita por citomegalovírus

Citomegalovírus congênito

No período do estudo, com o consentimento informado das mães de baixo risco, os RN de uma maternidade primária (Nadeshiko Ladies Hospital) foram analisados quanto à reação em cadeia da polimerase (PCR) para o ácido desoxirribonucleico (DNA) do CMV na urina.

Foram coletados dados clínicos, incluindo:

  • Idade;
  • Gravidade;
  • Paridade;
  • Índice de massa corporal (IMC) antes da gestação;
  • Profissão;
  • História de tabagismo;
  • História da terapia com tecnologia de reprodução assistida;
  • Febre materna/sintomas de gripe;
  • Complicações na gravidez;
  • Tipo de parto;
  • Status fetal não tranquilizador durante o parto;
  • Semanas gestacionais ao parto;
  • Peso ao nascer;
  • Sexo;
  • Potencial evocado auditivo de tronco encefálico automático (automated auditory brainstem response – AABR), realizado de 1 a 5 dias após o nascimento.

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As complicações maternas e obstétricas avaliadas neste estudo foram:

  • Distúrbios hipertensivos da gravidez;
  • Doença da tireoide;
  • Diabetes mellitus/diabetes mellitus gestacional;
  • Doença com necessidade de terapia imunossupressora;
  • Aborto espontâneo;
  • Ameaça de parto prematuro;
  • Ameaça de aborto;
  • Parto prematuro;
  • Retardo de crescimento intrauterino (RCIU);
  • Baixo peso ao nascer (BPN).
  • Análises de regressão logística foram realizadas para determinar os fatores clínicos associados ao cCMV.

O cCMV foi diagnosticado por resultados positivos de PCR da urina neonatal em nove das 4.125 gestações. Análises univariadas e multivariáveis revelaram que a presença de sintomas de febre/gripe [odds ratio (OR), 17,9; intervalo de confiança de 95% (IC 95%), 3,7-86,7; p <0,001) e ameaça de aborto espontâneo/parto prematuro no segundo trimestre (OR, 6,0; IC95% 1,6-22,8; p <0,01) foram fatores clínicos independentes associados ao cCMV. A febre materna/sintomas gripais ou ameaça de aborto espontâneo/parto prematuro no segundo trimestre tiveram 100% sensibilidade, especificidade de 53,2% e índice de Youden máximo de 0,85.

Conclusões

O estudo de Uchida e pesquisadores demonstrou, pela primeira vez, que esses fatores clínicos de gestantes e RN estavam associados à ocorrência de cCMV. Esses resultados fornecerão informações úteis para avaliação dos riscos de cCMV em mães de baixo risco, independentemente de apresentarem infecção primária ou não pelo CMV. Os estudos da transmissão e de possíveis danos após a reativação podem ser facilitados pela aplicação destes marcadores clínicos, bem como sorologia específica para a cepa de cCMV e sua caracterização.

No entanto, os autores destacam que o presente estudo teve algumas limitações. O aborto espontâneo ou o parto prematuro podem ser diagnosticados de maneira um pouco subjetiva, dependendo dos profissionais. Os agentes tocolíticos usados ​​para tratamentos de aborto ameaçado ou parto prematuro são diferentes de acordo com o país. Os fatores clínicos associados ao cCMV em mulheres grávidas de alto risco que geralmente são tratadas em centros materno-fetais terciários podem ser diferentes.

Todavia, os achados do presente estudo são válidos para gestações de baixo risco nessa população e devem ser seguidos por outros estudos em outras populações com uma taxa mais alta de cCMV. A sorologia do CMV, o status socioeconômico e a educação das gestantes podem influenciar os resultados. Portanto, o estudo fornece informações úteis para triagem direcionada para avaliar os riscos de cCMV em mães de baixo risco, independentemente de infecção primária ou não por CMV.

Referência bibliográfica:

  • Uchida et al. Clinical Factors Associated With Congenital Cytomegalovirus Infection: A Cohort Study of Pregnant Women and Newborns, Clinical Infectious Diseases (2019). DOI: 10.1093/cid/ciz1156

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