Infecção do trato urinário (ITU) em pediatria — atualização 2021 

No dia 22 de setembro, a SBP lançou um documento contendo as novas diretrizes na abordagem da infecção do trato urinário (ITU) em pediatria.

No dia 22 de setembro, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um documento científico contendo as novas diretrizes na abordagem da infecção do trato urinário (ITU) em pacientes pediátricos. O documento visa apresentar informações mais práticas para o tratamento de ITU febril em lactentes.

A ITU é caracterizada como um processo inflamatório do trato urinário por patógenos.  É a segunda causa de infecção bacteriana mais prevalente na faixa etária pediátrica, com  picos de incidência em lactentes, pré-escolares e adolescentes. Alguns fatores, como anomalias estruturais do sistema urinário e refluxo vesicoureteral, predispõem a maiores chances de desenvolver tal infecção.

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Infecção do trato urinário em pediatria — atualização 2021 

Apresentação clínica

Os sintomas mais comuns podem variar de acordo com a faixa etária. Em recém-nascidos (RN) e lactentes, devemos estar atentos a febre, vômito, icterícia e sinais de sepse. Em pré-escolares, escolares e adolescentes, é comum haver dor abdominal, disúria, polaciúria, odor fétido da urina, febre, dor lombar e urgência miccional. 

Diagnóstico

Para diagnosticar corretamente, é necessário a coleta de urina de forma adequada por cateterismo vesical, punção suprapúbica ou pelo método “clean catch”. A urocultura permanece como padrão ouro para o diagnóstico de ITU. Esta deve ser considerada como positiva para > 50 mil UFC/mL por jato intermediário, > 1000 UFC/mL por cateterismo vesical ou qualquer contagem de colônias por punção suprapúbica. 

Podemos lançar mão também de outros testes, como teste da fita reagente, bacterioscopia e sedimento urinário. Este último mostra-se sugestivo de ITU quando apresenta nitrito positivo, esterase leucocitária positiva ou acima de 5 a 10 leucócitos por campo. 

Tratamento

Inicialmente, a antibioticoterapia empregada deve ser empírica de menor espectro, de preferência, guiada pela coloração de Gram. Se a bacterioscopia não estiver disponível, priorizar cobertura para E. coli

Em lactentes maiores de três meses, dar preferência para antibioticoterapia oral. Se houver febre, tratar como pielonefrite suspeita (lembrem-se: está contraindicado a nitrofurantoína e ácido nalidíxico na suspeita de pielonefrite). Em lactentes menores de dois meses, se não houver adesão ao tratamento oral ou em caso de pacientes criticamente doentes, é necessária antibioticoterapia venosa.   

O documento sugere revisão da terapia antimicrobiana em 48 a 72 horas, atentando para o descalonamento da terapia com base no antibiograma. Em caso de piora clínica ou não melhora em 48 horas, deve-se ampliar cobertura antibiótica e avaliar malformações urinárias.  Se não houver melhora clínica ou sensibilidade do antibiótico em uso, não é necessária nova urocultura. 

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Não há consenso sobre o tempo de tratamento, porém a maioria das diretrizes internacionais orienta na ITU febril de 10 a 14 dias de tratamento. Drogas parenterais sugeridas: cefuroxime, gentamicina, amicacina, cefotaxime ou piperacilina-tazobactam. Drogas orais sugeridas: cefuroxime, cefaclor, nitrofurantoína, cefalexina e sulfametoxazol-trimetoprima.  

Profilaxia

Até o momento não existe consenso sobre a profilaxia. Alguns autores recomendam profilaxia até o término da investigação nos casos de: alterações ultrassonográficas, ITU febril com PCR positiva, refluxo vesico ureteral grau 4 ou 5, uropatias obstrutivas e ITU recorrente (mais que 3 episódios de cistite, mais que dois episódios de pielonefrite e um episódio de cistite com um de pielonefrite). As drogas sugeridas são nitrofurantoína e sulfametoxazol-trimetoprima.

Investigação complementar: tem o intuito de identificar malformações em trato urinário. A maioria dos autores sugere que se a pielonefrite ocorrer em menores de 2 anos de idade, o exame de escolha deva ser o ultrassom (USG) renal e de vias urinárias. A solicitação de retrocistografia miccional e cintilografia renal com DMSA (ácido dimercaptossucínico marcado com tecnécio 99) se divergem por algumas diretrizes internacionais.

Prognóstico

A ITU possui bom prognóstico se tratada adequadamente. ​ Malformações renais congênitas ou função renal alterada são as que têm a maior probabilidade de doença renal crônica

Nota da autora

O guideline americano da American Academy of Pediatrics (AAP) sugeriu como limite apropriado a contagem de 50.000 UFC/mL para os casos de coleta por cateterismo vesical.

Referências bibliográficas: 

  • Sociedade Brasileira de Pediatria. ​Infecção do Trato Urinário em Pediatria – Existe consenso entre os consensos? – Atualização 2021. Disponível em: https://www.sbp.com.br . Acesso em 29/09/2021
  • INFECTION SOUT. Reaffirmation of AAP Clinical Practice Guideline: The Diagnosis and Management of the Initial Urinary Tract Infection in Febrile Infants and Young Children 2-24 Months of Age. Pediatrics. 2021;138(6):

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