Intensificando o vínculo com o paciente: o quarto componente do MCCP

A qualidade do vínculo com o paciente pode ser determinante no desfecho de um tratamento, principalmente em atendimentos ambulatoriais.

A importância da relação médico-paciente é conhecida pela maioria dos profissionais. A qualidade do vínculo com o paciente pode ser determinante no desfecho de um tratamento, principalmente em atendimentos ambulatoriais. Por esse motivo, o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) aborda esse aspecto em seu quarto componente: intensificando a relação entre a pessoa e o médico, sobre o qual falaremos hoje, em nosso texto final da série sobre esse método. 

Saiba mais: Você conhece o Método Clínico Centrado na Pessoa?

Intensificando o vínculo com o paciente: o quarto componente do MCCP

Médico – Pessoa

Apesar de a utilização do MCCP ser válida em qualquer ambiente de atendimento médico, a prática na Atenção Primária à Saúde (APS) apresenta características que a tornam ainda mais importante. Assim, utiliza-se a palavra “pessoa”, em vez de “paciente”, para descrevermos a relação médico-pessoa, já que não necessariamente essa pessoa terá vínculo a alguma doença. As consultas na APS frequentemente são realizadas com indivíduos que não estão doentes, visando prevenção ou promoção da saúde, por exemplo, além de poderem ser realizadas ao longo do tempo, por motivos ou doenças diferentes. Isso nos “obriga” a enxergar o paciente como um todo – em todos os aspectos relacionados à sua saúde — e a abordá-los como pessoas — não como doenças. Essa “humanização do doente” é um primeiro passo para a construção de um vínculo de qualidade.

O mencionado acompanhamento “ao longo do tempo” — ou longitudinalidade também traz contribuições significativas para o desenvolvimento da relação entre médico e pessoa. Ao mesmo tempo em que possibilita que o médico conheça melhor seu paciente — seu histórico de doenças, seu contexto de vida, sua personalidade — o acompanhamento contínuo através de várias consultas ao longo do tempo permite também que a pessoa conheça — e confie — mais em seu médico. O vínculo de confiança mútua, somado a um conhecimento mais profundo sobre o paciente certamente acarreta em melhores resultados nos tratamentos de saúde: há um potencial curativo na relação médico-pessoa.

Dessa maneira, é preciso que o médico tenha a habilidade de reconhecer as diferentes abordagens que diferentes pessoas requerem, no sentido de intensificar o vínculo. A forma de se comunicar utilizada com um adolescente não será a mesma daquela utilizada com uma idosa, por exemplo. As variedades socioculturais entre pessoas, bem como os diferentes momentos pessoais vividos por cada um no momento da consulta, tornam necessária a flexibilidade na abordagem médica, para se estabelecer a desejável relação de confiança. A atenção à maneira como nos comunicamos – do tom de voz à linguagem corporal – é essencial para construir vínculo; e esta será diferente ao abordar uma pessoa com depressão em prantos, ou outra que vem apenas para consulta de rotina de hipertensão.

Leia também: Elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas: o terceiro componente do MCCP

Nesse sentido, entram em jogo as habilidades de comunicação, talvez as principais ferramentas envolvidas na intensificação da relação médico-pessoa. Sorrir, ir até a porta para receber o paciente, manter contato visual sempre que possível e acenar com a cabeça demonstrando estar ouvindo são algumas das atitudes que contribuem para isso. Deixar o paciente falar livremente, sem interrupções, durante os 2 primeiros minutos da consulta também é uma ótima dica, que inclusive torna a coleta de dados da anamnese mais eficiente. Frases como “Entendo… Mas gostaria de esclarecer melhor essa parte…”, ou “Isso é importante. Podemos voltar a esse assunto depois? Preciso fazer algumas perguntas…” ajudam a conduzir a consulta demonstrando escuta ativa e interrompendo sem ser brusco.

Conclusão

Por fim, é essencial destacar a capacidade que a empatia tem de tornar as relações entre médico e pessoa mais fortes e significativas. O médico deve ser empático não porque é “bonzinho” ou “legal”; deve pois a atitude empática possibilita melhores resultados em saúde. Se colocar no lugar do paciente, tentando sentir como ele se sente, potencializa a intervenção terapêutica e gera vínculo. Essa relação pode, inclusive, ser de mão-dupla: o paciente torna-se empático com o médico, entendendo, por exemplo, caso haja pouco tempo disponível para a consulta ou reconhecendo e compreendendo momentos em que o médico possa estar mais cansado e desgastado.

Uma boa relação entre médico e pessoa, portanto, traz repercussões para ambos e, como componente do MCCP, deve estar presente do início ao fim das consultas para atingir todo o seu potencial. Este, como vimos também em cada um dos textos dessa série, envolve o desenvolvimento de uma prática mais satisfatória — para o médico e para o paciente — e o atingimento mais eficaz dos objetivos da prática clínica: os melhores resultados para a saúde das pessoas.

Referências bibliográficas:

  • Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman TR. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2017. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3934.pdf
  • Duncan, B.B. Schmidt, M.I. Giuliani, E.R.J. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  • Freeman TR. Manual de medicina de família e comunidade de McWhinney. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2018.
  • Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª edição. Cap. 15: Consulta e abordagem centrada na pessoa. Porto Alegre: Artmed; 2019.

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