Interação Medicamentosa: Claritromicina + Estatinas

Muito se sabe e se comenta sobre a interação de medicamentos metabolizados pelo citocromo P450 (CYP3A4) hepático, e variedades farmacológicas de diversas classes de medicamentos foram desenvolvidas justamente para evitar essa via metabólica tão passível de interação, conferindo dosagens séricas mais previsíveis, efeito terapêutico menos variável e, principalmente, menor incidência de efeitos adversos. Dentre as …

Muito se sabe e se comenta sobre a interação de medicamentos metabolizados pelo citocromo P450 (CYP3A4) hepático, e variedades farmacológicas de diversas classes de medicamentos foram desenvolvidas justamente para evitar essa via metabólica tão passível de interação, conferindo dosagens séricas mais previsíveis, efeito terapêutico menos variável e, principalmente, menor incidência de efeitos adversos.

Dentre as estatinas, a interação com o CYP3A4 também é fator de toxicidade importante, especialmente quando utilizados em associação com drogas inibidoras, a exemplo do cetoconazol e da claritromicina. Foi pensando nisso que foram produzidas estatinas não metabolizadas pela “engarrafada” via do CYP3A4, sendo elas a pravastatina, a fluvastatina e, mais recentemente, a rosuvastatina. Embora estas medicações interajam com menor frequência com outras, será que estas são realmente seguras e podemos fechar os olhos pra isso? Recente estudo mostrou que não é bem assim.

Em artigo publicado recentemente no renomado Canadian Medical Association Journal, demonstrou-se aumento no risco de eventos adversos associados a co-administração de claritromicina com estatinas não-metabolizadas pelo CYP3A4. Segundo o estudo, a co-administração aumentou em 43% a mortalidade por todas as causas, aumentou em 65% o risco de hospitalização por injúria renal aguda e dobrou o risco de hipercalemia, quando comparada a co-administração das mesmas estatinas com outro macrolídeo, a azitromicina.

A interação neste caso parece acontecer por via independente do CYP3A4 e se dá pela capacidade da claritromicina em inibir os polipeptídeos orgânicos transportadores de ânions 1B1 e 1B3 (OATP1B1 e OATP1B3). A azitromicina, por sua vez, não inibe tais transportadores e demonstrou-se mais segura para co-administração com estas estatinas.

O aumento do risco absoluto de eventos adversos, no entanto, foi de menos de 1%, o que pode ser considerado baixo. Ainda assim, o impacto populacional pode ser considerável, dada a popularidade destas drogas e a alta frequência de co-administração das mesmas.

Tais achados chamam a atenção para a procura de novos mecanismos de interação medicamentosa e para alertar prescritores quanto aos riscos da co-administração de medicamentos, especialmente das estatinas ditas de baixa interação (não metabolizadas pelo CYP3A4), por demonstrar que outros mecanismos de interação também podem determinar toxicidade e que o tratamento deve ser monitorado. Fica a dica então: “para usuários de estatinas, sejam elas metabolizadas ou não pelo citocromo famoso, evitar claritromicina”.

 

Referência:

  • Li DQ , Kim R, McArthur E, et al. Risk of adverse events among older adults following co-prescription of clarithromycin and statins not metabolized by cytochrome P450 3A4. CMAJ 2014; DOI:10.1503/cmaj.140950.

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