Intoxicação por medicamentos em crianças: quais as principais situações?

O estudo buscou identificar os tipos de recipientes aos quais as crianças pequenas acessaram durante a intoxicação por medicamentos não supervisionados.

As embalagens especiais de proteção à criança (EEPC) são um notável sucesso em saúde pública. Nos Estados Unidos, a mortalidade por intoxicações não intencionais por medicamentos em crianças pequenas caiu significativamente após a Lei Poison Prevention Packaging Act (PPPA) da década de 1970, que exigiu o uso dessas embalagens para a maioria dos medicamentos.

No entanto, na década de 2000, como a prevalência do uso de medicamentos aumentou, exposições não supervisionadas a medicamentos em crianças pequenas também aumentaram. Somente em 2010, houve, aproximadamente, 75.000 visitas ao pronto-socorro e 540.000 ligações para os centros de controle de intoxicações (US poison control centers – PCCs) americanos. O uso indevido de medicamentos sólidos por crianças pequenas representa 70% das visitas ao PS pediátrico nos Estados Unidos. Entretanto, os dados que caracterizam as circunstâncias em torno dessas exposições são limitados, dificultando o avanço dos esforços de prevenção de intoxicações.

Para identificar os tipos de recipientes aos quais as crianças pequenas acessaram MS durante exposições não supervisionadas e os destinatários pretendidos desses medicamentos para promover a prevenção, Agarwal e colaboradores realizaram um estudo transversal prospectivo, envolvendo cinco PCC que atendem mais de 40 milhões de pessoas no Arizona, Flórida e Geórgia. O artigo Circumstances Involved in Unsupervised Solid Dose Medication Exposures among Young Children foi publicado na revista The Journal of Pediatrics.

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Intoxicação por medicamentos

De fevereiro a setembro de 2017, os cinco centros incluíram registros de exposições não supervisionadas a medicamentos sólidos (MS) por crianças ≤ 5 anos. Os participantes do estudo responderam perguntas contextualmente direcionadas sobre as circunstâncias da exposição.

Sessenta e dois por cento dos elegíveis participaram do estudo. Entre 4.496 participantes:

  • 71,6% das exposições a MS envolveram crianças com ≤ 2 anos de idade;
  • 33,8% envolviam apenas medicamentos prescritos;
  • 32,8% envolviam apenas produtos de balcão (over-the-counter – OTC) que exigem EEPC;
  • 29,9% envolviam ≥ 1 produto OTC que não requer EEPC;
  • Mais da metade das exposições (51,5%) envolvendo medicamentos prescritos incluiu crianças acessando medicamentos que haviam sido removidos anteriormente da embalagem original, em comparação com 20,8% das exposições envolvendo produtos de venda livre [odds ratio ajustado (aOR), 3,39; Intervalo de Confiança de 95% (IC95%), 2,87-4,00)];
  • Medicamentos para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (49,3%) e opioides (42,6%) geralmente não estavam em nenhum recipiente quando acessados;
  • Anticonvulsivantes (41,1%), agentes hipoglicemiantes (33,8%) e medicamentos cardiovasculares/antitrombóticos (30,8%) foram frequentemente transferidos para recipientes alternativos;
  • Os medicamentos dos avós estiveram envolvidos em 30,7% das exposições a medicamentos sujeitos a receita médica, mas apenas 7,8% das exposições a produtos de venda livre (aOR, 3,99; IC 95%, 3,26-4,87).

Os pesquisadores destacam que progressos recentes na redução da exposição infantil a medicamentos coincidiram com inovações nas embalagens projetadas para limitar o acesso das crianças (por exemplo, embalagens de dose unitária para produtos sólidos de buprenorfina) e educação direcionada aos pais. Todavia, enfatizam que reduções adicionais exigirão esforços para evitar exposições a MS nas quais adultos, e não crianças, removem medicamentos de EEPC.

Mais da autora: Infecção congênita por citomegalovírus: quais os fatores clínicos relacionados?

Conclusões

Uma abordagem é a implementação direcionada embalagens inovadoras projetadas para limitar essa retirada pelos adultos. Além disso, mensagens educacionais para manter os medicamentos à distância e fora do alcance de crianças pequenas devem ter como alvo os avós, assim como os pais das crianças, e incluir avisos sobre como melhorar a segurança se os adultos usarem recipientes alternativos.

No Brasil, a Sociedade de Pediatria de São Paulo pediu, em 2017, a aprovação do projeto de lei (PL) 4841/1994, cujo objetivo é implantar a EEPC em itens que tenham potencial risco à saúde. Emendas de Plenário a esse PL do ex-deputado Fábio Feldman foram aprovadas em 06 de abril de 2017 pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Referências bibliográficas:

  • AGARWAL, M et al. Circumstances Involved in Unsupervised Solid Dose Medication Exposures among Young Children. J Pediatr, p.1-8, 2020
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Sociedade de Pediatria de São Paulo pede aprovação do PL 4841/1994. 2017. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sociedade-de-pediatria-de-sao-paulo-pede-aprovacao-do-pl-48411994/ Acesso em: 20 de fev. 2020
  • C MARA DOS DEPUTADOS. PL 4841/1994. 2017. Disponível em: https://www.camara.leg.br/busca-portal?contextoBusca=BuscaGeral&pagina=1&order=relevancia&abaEspecifica=false&q=PL%204841%2F1994 Acesso em: 20 de fev. 2020

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