Intoxicações agudas por agrotóxicos (Parte III): Medidas de descontaminação

As medidas de descontaminação dos agrotóxicos devem ser realizadas no menor tempo possível do intervalo entre a exposição e o atendimento.

Identificado um quadro de intoxicação aguda por agrotóxicos, o médico plantonista deve conhecer os recursos disponíveis para o manejo clínico desses pacientes, tanto em relação aos recursos gerais para suporte clínico, como as medidas específicas para descontaminação.

As medidas de descontaminação devem ser realizadas no menor tempo possível, considerando o intervalo de tempo entre a exposição e o atendimento, tendo em conta a via de exposição e as substâncias envolvidas, a fase da toxicocinética do agente tóxico conforme o tempo de exposição, bem como os benefícios e efeitos adversos de cada técnica.

A seguir apresentam-se os modos de se proceder à descontaminação de pele e mucosas e o uso de carvão ativado para descontaminação gástrica.

descontaminação

Descontaminação dérmica 

Realize a descontaminação dérmica, especialmente nos casos com suspeita de intoxicação por agrotóxicos de reconhecida absorção por essa via. Para isso:

  • Remova as roupas contaminadas;
  • Realize a lavagem da pele com água, em temperatura ambiente, e sabão neutro, sem esquecer cabelo, unhas, região axilar, umbigo e região genital;
  • Irrigue exaustivamente com água, sem atrasar a estabilização clínica do paciente;
  • Se o agente tóxico for pó ou sólido, antes de lavar o paciente, retire o excesso de produto com pano seco ou compressa;
  • Considere cobrir todos os ferimentos antes de iniciar a lavagem corporal;
    Evite a hipotermia.

Descontaminação ocular 

  • Lave os olhos mantendo um fluxo contínuo de água ou soro fisiológico, com as pálpebras abertas, a partir do canto interno do olho (próximo ao nariz), em direção à lateral da face, por, no mínimo, 20 minutos;
  • Nos casos de exposição de um único olho, evite contaminar o olho não afetado, lateralizando a cabeça;
  • Embora soluções isotônicas com pH neutro sejam preferíveis para a realização de irrigação ocular, não se deve perder tempo procurando por uma solução de irrigação específica caso haja água disponível;
  • O manejo e o descarte de materiais e objetos contaminados devem ser realizados de forma segura, de acordo com as técnicas de gerenciamento de resíduos perigosos estabelecidas para serviços de Saúde.

Carvão ativado

Considere a administração de uma dose única de carvão ativado aos pacientes atendidos em até 60 minutos da exposição, com histórico de ingestão de grandes quantidades de agrotóxicos altamente tóxicos e que sejam adsorvidos pela substância. Não é recomendado o uso rotineiro de doses múltiplas de carvão ativado para intoxicação por agrotóxicos.

A utilização de carvão ativado apresenta riscos. Nos casos excepcionais em que os benefícios da administração do carvão ativado superem os riscos, a administração poderá ser realizada por via oral ou sonda enteral.

Caso o paciente se apresente com alteração do estado de consciência, hemodinamicamente instável ou convulsionando, é necessária a proteção da via aérea antes da administração de carvão ativado.

Contato com equipe especializada 

No Brasil, temos os Centros de informação e assistência toxicológica, serviços regionais gratuitos, com assistência remota (via telefônica) por equipe especializada em Toxicologia que orienta diagnóstico e conduta em casos suspeitos e confirmados de intoxicações. Este serviço é extremamente útil e pode fazer toda a diferença em casos com manifestações clínicas atípicas, de difícil identificação ou em caso de dúvidas em relação ao manejo.
No site da Associação Brasileira de Centros de informação e assistência toxicológica (Abracit), há uma lista com todos os telefones para contato dos centros de intoxicações regionais. O número gratuito do disque-intoxicação é 0800 722 6001.

Ficou interessado pelo manejo de intoxicações agudas? O Portal PEBMED preparou uma série de artigos relacionados ao assunto e a parte IV continua falando sobre as medidas de descontaminação em pacientes com intoxicação aguda por agrotóxicos. Confira as partes anteriores:

Referências bibliográficas:

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico e Tratamento de intoxicação por agrotóxicos [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
  • Mycyk MB. Intoxicação e overdose por fármacos ou drogas. In Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 20 ed – Porto Alegre: AMCH, 2020.
  • Costa JVG, Rodrigues CG, Amoroso D, Marino LO. Manejo inicial das intoxicações exógenas. In: Velasco IT, Brandão Neto RA, de Souza HP, ed. Medicina de emergência: abordagem prática. 13 ed. Barueri-SP: Manole, 2019.

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