Jejum intermitente: estudo randomizado não demonstra eficácia na perda de peso

Apesar de alguns terem colocado o jejum intermitente como potencial para perda de peso, um novo ensaio clínico desmentiu esse efeito.

Alguns estudos têm avaliado os efeitos do jejum intermitente no organismo, e esse tipo de restrição alimentar apareceu como potencial para perda de peso. Em pacientes com sobrepeso e obesidade, a redução do peso ajuda a diminuir o risco metabólico, reduzindo chance de doenças, como cardiovasculares e diabetes.

Como não havia nenhum ensaio clínico randomizado controlado avaliando esse tipo de dieta, um novo estudo, publicado recentemente no JAMA Internal Medicine, buscou comparar o jejum intermitente com a alimentação regular. Mas os resultados encontrados diferem do que estudos anteriores indicavam.

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pés de pessoa se pesando após jejum intermitente

Jejum intermitente e perda de peso

Os participantes foram recrutados de entre agosto de 2018 e junho de 2019 e a coleta de dados foi concluída em outubro de 2019. Ao todo, 116 indivíduos participaram da análise.

O estudo foi realizado por meio de um aplicativo de celular, e os participantes receberam uma balança bluetooth, conectada ao app, para uso diário. O grupo de intervenção foi orientado a comer de acordo com sua vontade, de 12h as 20h, e fazer um jejum de 16 horas (das 20h às 12h do dia seguinte). Já o grupo controle recebia lembretes para fazer três refeições estruturadas por dia, com lanches permitidos nos intervalos.

Nenhum dos grupos teve restrição calórica nem recomendações de atividades físicas. O grupo de intervenção podia apenas beber bebidas não calóricas durante o jejum.

Os participantes que moravam mais próximo da clínica eram elegíveis para realizar testes metabólicos presencialmente. Quarenta e seis pessoas completaram as quatro visitas.

Resultados

  • Entre os 141 participantes, 105 (74,5%) completaram as 12 semanas;
  • A adesão autorreferida às dietas foi de 92,1% (1.002 de 1.088) no grupo controle (não faltou nenhuma refeição) e 83,50% (1.128 de 1.351) no grupo de intervenção (comeram apenas dentro da janela de 8 horas);
  • Apesar de o grupo de intervenção ter tido uma redução de peso (−0,94 kg; IC 95%, −1,68 kg a −0,20 kg; P = 0,01), não houve relevância significativa na diferença de mudança de peso entre os grupos (−0,26 kg; IC 95%, −1,30 kg a 0,78 kg; P = 0,63);
  • O mesmo aconteceu na diferença da porcentagem do peso inicial entre os grupos (−0,41%; IC 95%, −1,43% a 0,60%; P = 0,43);
  • Entre os participantes presenciais (n = 50), também houve uma redução de peso no grupo de intervenção (-1,70 kg; IC 95%, -2,56 kg a -0,83 kg; P <. 001), mas não houve diferença significativa na perda de peso quando comparado com o grupo controle (-1,13 kg; 99,7% CI, -2,33% a 0,07%; P = 0,07).

A massa corporal foi medida por absorciometria por raios-X com dupla energia:

  • Não houve mudança de gordura corporal no grupo de intervenção (−0,51 kg; IC de 95%, −1,17 kg a 0,15 kg; P = 0,13) nem no controle (−0,03 kg; IC 95%, −0,66 kg a 0,60 kg; P = 0,93), assim como não houve diferença significativa entre eles (−0,48 kg; IC 99,7%, −1,75 kg a 0,79 kg; P = 0,30);
  • O grupo de jejum intermitente teve uma diminuição significativa na massa magra (-1,10 kg; IC de 95%, -1,73 kg a -0,48 kg; P <0,001), mas sem diferença estatisticamente relevante entre os grupos (−0,75 kg; 99,7% CI, −1,96 kg a 0,45 kg; P = 0,09).

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Sobre outros índices:

  • Apesar de o quociente respiratório ter aumentado no grupo controle (0,03; IC 95%, 0,01 a 0,06; P = 0,003), ele não mudou significativamente no grupo de intervenção (0,01; IC 95%, −0,02 a 0,03; P = 0,82) e não houve diferença relevante entre os grupos (−0,03; IC 95%, −0,06 a −0,01, P = 0,06);
  • Sobre a taxa metabólica de repouso, o grupo de intervenção não teve diferença (−28,1 kcal / d; IC 95%, −91,8 kcal / d a 35,5 kcal / d; P = 0,39), nem o grupo controle (−43,15 kcal / d; IC 95%, −104,2 kcal / d a 18,0 kcal / d; P = 0,17); também não houve diferença significativa entre os grupos (15,0 kcal / d; IC 99,7%, −108,1 kcal / d a 138,0 kcal / d; P = 0,74);
  • Com relação a glicose em jejum, insulina em jejum, HOMA-IR, HbA1C, triglicerídeos, colesterol total, LDL ou níveis de HDL também não houve diferença significativa entre os grupos, nem dentro deles;
  • O grupo de alimentação regular teve uma redução significativa na pressão arterial sistólica, (- 3,86 mm Hg; IC 95%, -7,58 mm Hg a 0,14 mm Hg; P = 0,04), diferente do grupo de intervenção (-1,69 mm Hg; IC 95%, -5,54 mm Hg a 2,15 mm Hg; P = 0,39), mas também sem diferença estatisticamente relevante entre os grupos (2,17 mm Hg; IC 95%, -3,18 mm Hg a 7,52 mm Hg; P = 0,43).;
  • Enquanto isso, na pressão diastólica o grupo do jejum intermitente teve uma mudança significativa (−4,08 mm Hg; IC 95%, −8,11 mm Hg a −0,06 mm Hg; P = 0,047), ao contrário do grupo controle (−3,01 mm Hg; IC 95%, -6,90 mm Hg a 0,89 mm Hg; P = 0,13) mas ainda sem diferença significativa entre eles (-1,08 mm Hg; IC 95%, -6,67 mm Hg a 4,52 mm Hg; P = 0,71).

Conclusões

A perda de peso dos participantes do grupo de jejum intermitente, apesar de existir, não apresentaram relevância significativa quando comparados com aqueles que fizeram uma alimentação regular no mesmo período. Segundo os autores, a redução do peso nos participantes pode ter acontecido apenas pelo fato de que as pessoas sabiam que estavam em um estudo de perda de peso, o que faz com que mudem algumas práticas diárias.

A intervenção não diminuiu também gordura corporal de forma significativa, assim como não melhorou os índices metabólicos.

Uma limitação importante do estudo foi não ter acompanhado a ingestão calórica dos pacientes, utilizando apenas um modelo matemático que se baseou em outros dados disponíveis. Mesmo assim, por ter tido randomização e um grupo controle, os resultados são relevantes.

Sendo assim, os médicos e nutricionistas devem ter cautela ao indicar um modelo específico de dieta que ainda não possui comprovação científica. A frustração dos pacientes que tentam perder peso e não conseguem pode levar a outros problemas importantes, como transtornos mentais. Individualizar, pensando em riscos e benefícios, é sempre o caminho mais correto.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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