Jejum intermitente não é só para perda de peso: quais outras aplicações clínicas?

Atualmente está muito em voga a palavra jejum intermitente. Profissionais da área de saúde, blogueiros,fornecem informações diárias sobre essa nova prática.

Atualmente está muito em voga a palavra jejum intermitente (JI). Profissionais da área de saúde, blogueiros,  influencers e curiosos fornecem informações diárias sobre essa nova prática de emagrecimento. Mas a prática do jejum intermitente vai muito além da estética e perda de peso. Estudos animais e clínicos vem demonstrando ao longo do tempo que o JI é muito mais que uma moda de dieta,mas sim uma prática científica que promove saúde e bem estar físico com o tempo.

De acordo com esses estudos o JI tem um efeito grandioso no processo de envelhecimento e longevidade dos pacientes promovendo diminuição ou até reversão do processo de envelhecimento assim como a supressão de determinadas doenças metabólicas como hipertensão, diabetes, dislipidemias, doenças cardiovasculares, câncer e doenças neurovegetativas.

Atualmente os maiores estudos relacionados ao JI estão resumidos em: JI em dias alternados, protocolo 5:2 (dois dias de jejum para cinco dias alimentado) e jejum diário com redução calórica no estado alimentado. Além de proporcionar perda de peso e diminuição dos radicais livres, também apresenta considerável influência no controle da glicemia, aumento da resistência ao stress e supressão dos processos inflamatórios.

Durante o período de jejum as células ativam mecanismos de aumento de defesas contra processos oxidativos e estresse metabólico, além de reparar e eliminar células defeituosas. Ao contrário, no estado alimentado, as células trabalham para acúmulo de maior tecido e plasticidade. Como a população atual está condicionada a realizar pelo menos três grandes refeições diárias além de “lanchinhos” nos intervalos, manter o corpo em estado de jejum é praticamente impossível.

garfo e faca em cima de mesa de madeira, representando jejum intermitente

Jejum intermitente e metabolismo

Glicose e gordura são as principais fontes de energia celular. Após uma refeição, a glicose é utilizada como energia enquanto a gordura é armazenada em forma de triglicerídeo. Durante o período de jejum, esse triglicerídeo acumulado é quebrado em ácido graxo e glicerol e utilizados como fonte energética. O fígado utiliza esses ácidos graxos para a produção de corpos cetônicos que irão promover a energia necessária para manter os tecidos especialmente o cérebro durante o estado não alimentado.

Em humanos, a elevação dos corpos cetônicos na corrente sanguínea se dá a partir de 8 a 12 horas após a última ingesta calórica. Além disso, os corpos cetônicos tem ação direta sobre determinadas moléculas que estão relacionadas ao metabolismo central como PGC-1alfa, NAD+, PAR-P1, adenina difosfato, fator de crescimento do fibroblasto entre outras. Os benefícios do JI estão dissociados da perda de peso. Melhoras nos índices de glicose, pressão arterial e funcionalidade cardíaca ocorrem independentes da perda de peso.

Resistência ao stress

Células expostas frequentemente a períodos de jejum reagem com uma adaptação ao processo de estresse oxidativo, aumentando as defesas, reparando o DNA, controlando a qualidade proteica, a biogênese mitocondrial, a autofagia e diminuindo os processos inflamatórios. Essas células adaptadas apresentam uma grande resistência a injúrias metabólicas, oxidativas, iônicas e traumáticas.

Saúde e envelhecimento

Ao entrar em estado de jejum após algum tempo ocorre a melhora do quadro metabólico com benefícios na resistência a insulina, na hipertensão, na diabetes e na perda de gordura abdominal, consequentemente está ocorrendo uma melhora na qualidade de vida efetiva e no processo de envelhecimento orgânico oriundo de todo o estresse metabólico acumulado.

Além disso estudos demonstram que a prática do JI irá determinar melhora do estado cognitivo do paciente com aumento da memória espacial,verbal e associativa.

Leia também: O que pensam os profissionais de Medicina sobre o Jejum Intermitente?

Aplicações clínicas

Estudos demonstram que a prática de JI em pacientes acima do peso ou com obesidade apresentam maior perda de peso do que aqueles que realizam uma dieta regular. O JI promove a redução da sensibilidade a insulina prevenindo a obesidade causada por uma dieta hipercalórica, melhorando o índice de retinopatia diabética. Outra vantagem está na melhora dos indicadores cardiovasculares, como regularização da pressão arterial, frequência cardíaca, regularização dos níveis de HDL e LDL colesterol, triglicerídeos, além de melhorar o estresse oxidativo relacionada à arteriosclerose.

Em relação a doenças malignas, estudos recentes tem começado a apresentar uma grande atividade anticancerígena onde há a diminuição do surgimento de células tumorais ou uma melhora da resposta a tratamentos de quimioterapia. Ainda não há conclusões em relação à eficácia sobre recidiva tumoral. Muitos casos envolvendo pacientes com glioblastoma apresentaram queda do crescimento tumoral e aumento da expectativa de vida assim como em pacientes com diagnóstico de câncer de mama, ovários, próstata e colorretal. Sua ação anti-inflamatória tem grande benefício em casos de pacientes asmáticos, artrite inflamatória e artrites em geral.

Mais da autora: Como abordar paciente com lesão renal aguda no perioperatório?

Apesar de todos os estudos, a prática do JI ainda é muito recente, o que acaba encontrando desafios principalmente em relação a resistência da população a mudanças. População esta que está acostumada a dietas alimentares de “três em três horas” e crenças limitantes de gerações passadas onde sair em jejum é prejudicial a saúde. Alguns profissionais de saúde também se demonstram reticentes em relação a essa prática principalmente por não terem experiência em como conduzir os pacientes em relação aos efeitos adversos desagradáveis que surgem no início. Sintomas como fome, irritabilidade e falta de concentração são muito comuns no início da prática, porém cessam em um mês.

O melhor protocolo para início do JI é começar gradualmente o período do jejum, aumentando periodicamente o período de janela não alimentada até chegar a um objetivo de 16 a 18 horas de jejum.

O acompanhamento com um profissional qualificado, como nutrólogo ou nutricionista, para avaliar a qualidade nutricional do paciente também é recomendado. Os médicos devem ser capacitados a fornecer adequada informação com um suporte constante ao paciente principalmente no início do processo a fim de que ocorra aderência ao novo estilo de vida.

Leia também: Jejum intermitente X dieta hipocalórica

Referências bibliográficas:

  • Cabo r, Mattson MP.Effects of Intermittent Fasting on Health, Aging, and Disease.December 26, 2019 N Engl J Med 2019; 381:2541-2551
  • Toledo F W, Grundler F, Bergouignan A, Drinda S, Michalsen A. Safety, health improvement and well-being during a 4 to 21-day fasting period in an observational study including 1422 subjects. PLoS One 2019;14(1):e0209353-e0209353.
  • Mattson MP, Arumugam TV. Hallmarks of brain aging: adaptive and pathological modification by metabolic states. Cell Metab 2018;27:1176-1199.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.