Jovens com DM2 tem maior risco de desenvolver complicações do que adultos

O estudo TODAY 2 avaliou a incidência de complicações crônicas em uma coorte de pacientes jovens com diagnóstico de DM2.

Se você tem aproximadamente 23 anos, muito próximo ao seu nascimento era publicado o The United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS), o primeiro estudo a demonstrar que o controle precoce e mais estrito da glicemia no DM2 poderia trazer benefícios em redução de desfechos microvasculares. O EDIC, sua continuação, veio a demonstrar que controlar bem o diabetes desde o seu diagnóstico também gera benefícios em termos de redução de risco cardiovascular.

O fato é que a maioria das populações envolvidas nos grandes trials são de populações adultas, idosas e/ou com comorbidades. Até por isso, já é bem estabelecido o risco de desenvolvimento de complicações nessa população.

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Nos últimos anos vem acontecendo um aumento na incidência de obesidade e DM2 em jovens. Entre 2002 e 2012, nos Estados Unidos (EUA), a incidência de DM2 aumentou em 4,8% por ano nessa população. Ainda, é sabido que o processo de resistência insulínica e deterioração da função da célula beta é mais acentuado em jovens do que em adultos com DM2, o que poderia levar a um pior controle glicêmico e maior risco de desenvolvimento de complicações.

Nesse contexto, foi publicado recentemente no New England Journal of Medicine (NEJM) o estudo TODAY 2, que avaliou a incidência de complicações crônicas em uma coorte de pacientes jovens com diagnóstico de DM2, numa média de tempo de seguimento de 10,2 anos.

Jovens com DM2 tem maior risco de desenvolver complicações do que adultos

O estudo

O Estudo TODAY (a coorte original) incluiu 699 participantes em centros dos EUA, entre 2004 e 2009. O objetivo do estudo era comparar os efeitos de tratamento com Metformina versus Metformina associado a mudança de estilo de vida versus Metformina associada a rosiglitazona (que já saiu do mercado pelo perfil de risco cardiovascular) em pacientes de 10 a 17 anos, com diagnóstico de DM2 há menos de 2 anos (foram excluídos DM1 e MODY). Ao final, 51,7% dos pacientes não estavam bem controlados, com ligeira vantagem para o grupo metformina + rosiglitasona. Os participantes dessa coorte continuaram sendo seguidos e os dados foram apresentados no estudo atual.

Em 2011, 572 (81,8%) desses pacientes foram selecionados para seguimento, que foi dividido em duas partes: até fevereiro de 2014 eles eram mantidos com metformina com ou sem insulina para manter um controle adequado e depois, cuidado usual (o que o médico que acompanhava prescrevia). O objetivo era avaliar a incidência de complicações microvasculares (renais, neuropatia ou retinopatia).

Resultados

A média de idade ao final do seguimento era de 26,4 anos e o tempo de diagnóstico de DM2, 13,3 anos. O percentual de pacientes com hemoglobina glicada < 6% ao início do seguimento e ao final foi de 75% para 19%. Nenhum paciente inicialmente apresentava glicada maior que 10%, porém, ao final, a proporção atingiu 34%. O IMC aumentou e se manteve em níveis entre 35 e 37,5 kg/m². Mais de um quarto dos participantes não estavam em uso de qualquer medicação ao final do seguimento (atentar que os últimos anos deste estudo foram puramente observacionais).

A incidência acumulada em 15 anos (duração da coorte) de nefropatia foi de 54,8%, enquanto de neuropatias foi de 32,4%. A incidência acumulada de retinopatias não pode ser determinada porque a avaliação desta complicação foi feita semestralmente, porém foi relatado que 51% ao final apresentavam alterações oculares, sendo retinopatia ou maculopatia. Os fatores de risco associados ao desenvolvimento de complicações microvasculares foram etnia, hemoglobina glicada elevada, hipertensão, dislipidemia e baixa sensibilidade à insulina. Não houve diferenças quanto a qual tratamento inicial havia sido escolhido no estudo original (TODAY).

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Ao todo, 60,1% dos participantes apresentaram pelo menos uma complicação microvascular ao final do seguimento. Esses dados mostram que as complicações do diabetes surgem de forma rápida em pacientes jovens. Para se ter uma ideia, os autores discutem que no mencionado UKPDS, após 10 anos, houve uma prevalência de albuminúria de 25%, quase metade do índice de nefropatia descrita neste trial. Em uma coorte de pacientes jovens com DM1, houve um risco cumulativo de 32% de doença renal associada a diabetes em pacientes com 25 anos de doença.

Tais dados são importantes pois reforçam a necessidade de um controle glicêmico adequado e precoce em pacientes jovens com DM2. Fundamental ressaltar que o DM2 é uma doença cuja base é a resistência insulínica e, portanto, devemos dar a devida importância a epidemia da obesidade, sobretudo entre os jovens.

Referências bibliográficas:

  • TODAY Study Group. Long-Term Complications in Youth-Onset Type 2 Diabetes. N Engl J Med 2021; 385:416-426
    doi: 10.1056/NEJMoa2100165.

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