Lenacapavir se mostra opção de antirretroviral eficaz em terapia de resgate

Lenacapavir se mostrou eficaz no tratamento de resgate em pacientes com HIV. Conheça todos os detalhes neste post sobre o estudo realizado.

Indivíduos que vivem com o vírus do HIV têm diversas opções de tratamento antirretroviral. No entanto, na presença de múltiplas mutações de resistência, esquemas terapêuticos se tornam limitados e complexos. Por esse motivo, novas opções são desejáveis. 

O lenacapavir é um novo antirretroviral da classe dos inibidores de capsídeo, que é capaz de interferir com a replicação viral em diferentes fases do ciclo do vírus. Estudos in vitro mostram que esse fármaco mantém atividade antiviral mesmo quando mutações às principais classes de antirretrovirais estão presentes. 

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Outra característica do lenacapavir que o torna um medicamento de interesse é a possibilidade de seu uso como droga de longa ação, podendo ser administrado a cada seis meses por via subcutânea ou semanalmente por via oral. 

Os resultados de um estudo de fase 3 – o CAPELLA – foram publicados na The New England Journal of Medicine, avaliando a eficácia e a segurança do uso de lenacapavir em indivíduos com infecção multirresistente por HIV-1. 

comprimidos de lenacapavir, novo antirretroviral para HIV

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo internacional e multicêntrico, conduzido em 42 locais em 11 países, entre novembro de 2019 e janeiro de 2021. Indivíduos eram elegíveis se possuíssem 12 anos ou mais e estivessem em uso de terapia antirretroviral estável por ao menos oito semanas, com evidência de falha virológica e comprovação de resistência a no mínimo dois medicamentos de pelo menos três das quatro principais classes de antirretrovirais. 

Os participantes foram divididos em duas coortes. A primeira foi planejada para incluir cópias/mm³ entre a visitas de triagem e de seguimento do estudo e carga viral de pelo menos 400 cópias/mm³. Os participantes dessa coorte foram randomizados na proporção de 2:1 para receber monoterapia funcional com lenacapavir oral ou placebo associados ao esquema em que estavam em uso. No D15, participantes de ambos os braços passaram a receber lenacapavir subcutâneo a cada seis meses junto com terapia antirretroviral otimizada. 

Já a segunda coorte foi planejada para incluir os voluntários com queda de pelo menos 0,5 log no número de cópias/mm³ entre as visitas e/ou que apresentavam carga viral menor do que 400 cópias/mm³. Todos os participantes dessa coorte receberam lenacapavir oral com terapia antirretroviral otimizada no D1 do estudo, seguido de injeções de lenacapavir subcutâneo a cada seis meses a partir do D15. 

Os desfechos primário e secundário de eficácia foram avaliados na coorte 1. O desfecho primário foi definido como a porcentagem de participantes que apresentaram redução de pelo menos 0,5 log no número de cópias/mm³ até o D15. Os desfechos secundários foram a porcentagem de participantes com carga viral de menos de 50 cópias/mm³ e a porcentagem com carga viral menor do que 200 cópias/mm³ na semana 26 após o início de lenacapavir SC, além de mudanças na carga viral e na contagem de linfócitos T-CD4. Todos os participantes que receberam pelo menos uma dose de lenacapavir foram avaliados para desfechos de segurança. 

Resultados 

Dos 144 voluntários inicialmente triados, 72 foram incluídos, sendo 36 na coorte 1 (24 no braço que recebeu lenacapavir e 12 no braço do placebo) e 36 na coorte 2. Os braços da coorte 1 foram considerados homogêneos em relação a características demográficas, mas os participantes do grupo placebo tinham uma carga viral média maior do que o grupo que recebeu lenacapavir. A mediana de linfócitos T-CD4 também foi maior no grupo do lenacapavir. 

Na coorte 1, os participantes tinham uma mediana de nove medicações como tratamento prévio. Resistência a todas as quatro classes principais de antirretrovirais estava presente em 47% desses pacientes. Dos 36 voluntários, 17% não tinham nenhum medicamento totalmente ativo em seu esquema otimizado. Todos os participantes incluídos – em ambas as coortes – completaram o período de monoterapia funcional com ou lenacapavir oral e todos receberam a primeira dose de lenacapavir subcutâneo. 

Durante o período de monoterapia funcional na coorte 1, o desfecho de eficácia de redução de 0,5 log cópias/mm³ na carga viral foi observado em 21 de 24 participantes (88%) no grupo do lenacapavir e em dois de 12 (17%) no grupo placebo, o que representou uma diferença absoluta de 71%. No período de manutenção, na semana 26, 29 dos 36 participantes (81%) apresentavam carga viral menor < 50 cópias/mm³ e 32 (89%) apresentavam carga viral < 200 cópias/mm³. Já na coorte 2, carga viral < 50 cópias/mm³ foi relatada em 30 de 36 pacientes (83%) e carga viral < 200 cópias/mm³, em 31 participantes (86%).  

A proporção de voluntários com carga viral < 50 cópias/mm³ na semana 26 foi maior entre mulheres, indivíduos com menos de 50 anos e naqueles com carga viral < 100.000 cópias/mm³ ao início do estudo. A eficácia do lenacapavir foi semelhante de forma independente do grau de atividade da terapia otimizada usada como backbone. Também foram observadas alterações na contagem de linfócitos T-CD4: ao final das 26 semanas do período de manutenção, a proporção de participantes, juntando as duas coortes, com CD4 < 50 células/mm³ diminuiu de 24% (17 de 72 participantes) para 0% (0 de 67 participantes). 

Durante o período de estudo, 19 participantes foram avaliados para desenvolvimento de resistência. Mutações relacionadas a substituições no capsídeo foram detectadas em oito, sendo quatro na coorte 1 (1 no grupo do lenacapavir e 3 no grupo placebo) e quatro na coorte 2 durante o período de manutenção. Apesar disso, quatro desses pacientes apresentavam ressupressão de carga viral com manutenção do lenacapavir. 

Em relação aos dados de segurança, durante o período de monoterapia funcional, 38% dos participantes do grupo do lenacapavir e 25% dos do grupo placebo relataram pelo menos um evento adverso. Entretanto, não foram relatados eventos adversos graves e não houve descontinuação de produto do estudo em nenhum dos grupos. Em uma análise combinando as coortes 1 e 2, sete dos 72 pacientes apresentaram eventos adversos graves, nenhum considerado como relacionado ao produto do estudo. Os eventos adversos mais comuns – excetuando-se reações no local de injeção subcutânea – foram náusea, constipação e diarreia. As reações locais mais frequentes foram dor, edema, eritema e formação de nódulo. 

Mensagens práticas

– Lenacapavir mostrou eficácia como tratamento de resgate em pacientes vivendo com HIV-1 com multirresistência e limitadas opções terapêuticas, apresentando bom perfil de segurança. 

– Trata-se de um estudo pequeno, mas com resultados favoráveis em relação ao uso do lenacapavir como terapia de resgate. A possibilidade de uso como droga de longa duração e com outra via de administração torna esse fármaco uma opção atraente para populações com problemas de adesão. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Sorana Segal-Maurer, et al. Capsid Inhibition with Lenacapavir in Multidrug-Resistant HIV-1 Infection. The New England Journal of Medicine. May 12, 2022. N Engl J Med 2022; 386:1793-1803. doi: 10.1056/NEJMoa2115542

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