Lesão miocárdica em pacientes com Covid-19

O SARS-CoV-2, causador da Covid-19, acomete diversos órgãos e sistemas com frequência, encontramos pacientes com acometimento cardiovascular.

O SARS-CoV-2, causador da Covid-19, acomete diversos órgãos e sistemas e, com frequência, encontramos pacientes com acometimento cardiovascular, muitas vezes observado por aumento de troponina. Ainda não está claro se esses pacientes têm pior prognóstico ou mais complicações.

Os possíveis mecanismos para a lesão miocárdica são a inflamação decorrente de miocardite (que também ocorre com diversas outras infecções virais), infarto do miocárdio tipo 1 ou tipo 2 ou isquemia. Um dos melhores métodos para obtenção do diagnóstico diferencial em pacientes com aumento de troponina é a ressonância magnética cardíaca (RM).

Estudo europeu recém publicado avaliou pacientes de seis hospitais de Londres internados por Covid-19 que tiveram troponina ultrassensível aumentada. Os pacientes que receberam alta e tiveram troponina T (TnT) > 14 ng/L ou troponina I (TnI) > 14 ng/L em mulheres ou TnI > 34 ng/L em homens foram avaliados para realização de RM.

Leia também: Administração de plasma convalescente em pacientes com Covid-19

Lesão miocárdica em pacientes com Covid-19

Método do estudo e resultados

Realizaram a RM 148 pacientes, e foram comparados a um grupo controle de 40 pacientes ambulatoriais, pareados por idade, sexo, diabetes e hipertensão e que realizaram RM até 2019 (com o objetivo de excluir pessoas que tiveram Covid-19 como controle). O protocolo completo foi realizado em 133 pacientes e 76 também fizeram avaliação de perfusão com estresse farmacológico com adenosina.

A idade média foi 64 anos, 70% eram homens e 86% tiveram diagnóstico de Covid-19 por PCR. A duração média de internação foi 9 dias e 32% necessitou de suporte ventilatório em UTI. O intervalo entre a alta e a realização da RM foi de 56 dias. Os valores de troponina de admissão e pico foram respectivamente 20 ng/dL e 26 ng/dL para a TnT e 39 ng/dL e 43 n/dL para a TnI.

54% dos pacientes tiveram alguma alteração no exame, sendo em 26% de característica não isquêmica (incluindo achados de miocardite), em 22% isquêmica (infarto ou isquemia) e em 6% com ambos os padrões. Presença de realce tardio foi encontrada em 49% dos pacientes, com padrões variados: 16% subendocárdico ou transmural, 19% subepicárdico, 10% mesocárdico e 3% com mais de uma distribuição. Não houve diferença na fração de ejeção do ventrículo esquerdo entre os grupos.

Dos pacientes com alterações sugestivas de miocardite, metade tinha acometimento de apenas 1 segmento e 13% de 4 ou mais segmentos. A função biventricular era preservada em todos esses pacientes e nenhum tinha alteração segmentar. Os valores de troponina de admissão e de pico não foram preditores de miocardite. Dos 41 pacientes com evidência de doença isquêmica, 7 tinham isquemia induzida. A maioria (66%) não tinha história prévia de doença coronária.

Saiba mais: Covid-19: Presença de inibidores de amplificação e RT-PCR falso negativo

Metade dos pacientes com exames normais realizaram angiotomografia de tórax, com 29% de exames positivos para embolia pulmonar. Uma parte dos pacientes com RM alterada também tinha embolia pulmonar.

Neste estudo, a maioria dos pacientes com Covid-19 e troponina aumentada teve alteração na RM, porém eram pacientes mais graves, que necessitaram de internação hospitalar. Interessante notar que a embolia de pulmão ocorreu nos grupos com e sem alteração, ou seja, não podemos atribuir aumento de troponina apenas a embolia e, em alguns casos, talvez valha a pena prosseguir a investigação.

Mensagem final

A prevalência de miocardite na Covid-19 ainda não está estabelecida. Este estudo mostra prevalência relativamente alta, mas existe um viés de seleção de pacientes. Pode ser que nos pacientes que não internam ou nos que morrem esse dado seja diferente. Apesar disso, este estudo ajuda a começar a entender o que podemos encontrar nestes pacientes, que serão cada vez mais frequentes na prática clínica.

Outro achado interessante é que, apesar das alterações frequentes, nenhum dos pacientes teve disfunção ventricular ou alteração segmentar e não sabemos ainda se esses pacientes tem pior prognóstico. Mais estudos são necessários para elucidar estas questões.

Referências bibliográficas:

  • Kotecha T, et al. Patterns of myocardial injury in recovered troponin-positive COVID-19 patients assessed by cardiovascular magnetic resonance. European Heart Journal. 2021;ehab075. doi: 1093/eurheartj/ehab075

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.