Lições da efetividade em campanhas vacinais anti-Covid-19 em comunidades de nativos

Nos EUA, populações não-hispânicas índio-americanas e comunidades nativas do Alaska apresentam alta adesão às campanhas vacinais da Covid-19.

O combate à pandemia de Covid-19, associada ao coronavírus SARS-CoV-2, têm desafiado pesquisadores em todo o mundo na busca por medidas eficazes no tratamento e prevenção da doença. Determinadas populações foram desproporcionalmente afetadas pela doença, especialmente aquelas com acesso dificultado aos sistemas de saúde. Como consequência indireta, desde o início das campanhas vacinais anti-Covid-19 nos Estados Unidos, as populações não-hispânicas índio-americanas e as comunidades nativas do Alaska (AI/AN) apresentaram significativamente altas taxas de adesão vacinal tanto na primeira quanto em esquemas completos de vacinação, superiores a qualquer outro grupo étnico ou racial no país.

No território americano, 9,7 milhões de indivíduos (2,9% da população) são identificados como AI/AN. 574 tribos reconhecidas distribuídas em 35 estados, sendo 229 no Alaska. O Indian Health Service (IHS) assiste 5,6 milhões de pessoas nas comunidades AI/AN e recebeu precocemente doses das vacinas anti-Covid após a autorização de uso emergencial das mesmas. Por volta do final de novembro de 2021, a IHS tinha distribuído 2,4 milhões de doses vacinais e administrado 1,9 milhões. Tal sucesso quanto a adesão das campanhas vacinais está associado com os altos índices de internação e óbitos durante a pandemia que assolaram essas populações, a autonomia quanto às estruturas governamentais e de liderança das comunidades, às redes de distribuição vacinal organizadas e intensificadas nessa comunidades, encorajamento à vacinação por meio de divulgação de informação, estímulo financeiro, estímulo quanto a necessidade de retorno das cerimônias tradicionais (canceladas durante a pandemia) e unidade cultural no combate à hesitação quanto a adesão vacinal.

Adicionalmente foram implementadas rapidamente medidas de rastreio e isolamento de casos infectados, uso amplo e uniforme de máscaras por toda a população, teletrabalho e ensino remoto, distanciamento físico, suporte de entretenimento, programas educacionais relacionados às atividades domésticas (jardinagem, alimentação, condicionamento físico e outros) e informação acurada. Com o surgimento da variante Delta de SARS-CoV-2, as populações AI/ANs seguiram líderes em taxas de vacinação anti-Covid, o que resultou em melhores e significativos resultados na redução da morbidade e mortalidade nessas comunidades.

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campanhas vacinais

Motivação para a alta adesão das campanhas vacinais

Infelizmente, diversos autores assumem como um dos fatores predominantes que favorecem as elevadas taxas de adesão vacinal dessas populações AI/AN consiste no exorbitante número de mortes associada a Covid-19 entre indivíduos da comunidade. Até dezembro de 2020, o Center for Diseases Control and Prevention (CDC, Atlanta, EUA) relataram 2.689 mortes associadas à Covid-19 entre AI/AN, com incidência acumulativa 3,5x maior do que a população branca, por exemplo, contabilizando 55,8 mortes por 100.000 habitantes, com maior disparidade entre indivíduos de 20 a 49 anos, dentre os quais às faixas etárias de 20-29 anos, 30-39 anos e 40-49 anos apresentaram taxas de mortalidade 10,5, 11,6 e 8,2x superiores à população de brancos, respectivamente. Portanto, mediante a cruel realidade vivenciada por essas populações AI/AN durante o primeiro ano da pandemia de infecções por SARS-CoV-2, observouse a consequente mobilização maciça de esforços organizacionais para reduzir as disparidades, e estruturar serviços por anos negligenciados para essas populações. Esse foi um claro exemplo de que é possível estruturar mudanças significativas em sistemas de saúde mediante a urgência, porém espera-se que futuramente sejam instituídas mudanças precoces com caráter profilático adequado, não somente frente ao caos instaurado, de forma a evitar perdas populacionais significativas.

Detalhes adicionais sobre essa discussão podem ser vistos nas referências abaixo.

Referências bibliográficas:

  • Arrazola J, et al. COVID-19 Mortality Among American Indian and Alaska Native Persons – 14 States, January-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020 Dec 11;69(49):1853-1856. doi: 10.15585/mmwr.mm6949a3. Erratum in: MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2021 Jan 08;70(1):24.
  • Foxworth R, Redvers N, Moreno MA, Lopez-Carmen VA, Sanchez GR, Shultz JM. Covid-19 Vaccination in American Indians and Alaska Natives – Lessons from Effective Community Responses. N Engl J Med. 2021 Dec 23;385(26):2403-2406.  doi: 10.1056/NEJMp2113296

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