Lopinavir-ritonavir para Covid-19: novos resultados do estudo RECOVERY

O lopinavir-ritonavir foi proposto como tratamento para a Covid-19 após análise de atividade in vitro e estudos pré-clínicos e observacionais.

O lopinavir-ritonavir foi proposto como um tratamento para a Covid-19 em pacientes hospitalizados após análise de atividade in vitro e estudos pré-clínicos e observacionais. Sendo assim, foi incluído nos estudos do RECOVERY trial, um grupo de ensaios clínicos randomizados, realizados pela Universidade de Oxford e outros pesquisadores do Reino Unido, em busca de uma opção terapêutica eficaz contra o SARS-CoV-2.

Os resultados foram divulgados ontem, 6, no periódico Lancet.

Uso de lopinavir-ritonavir no tratamento da Covid-19

Lopinavir-ritonavir para Covid-19

Em pacientes com síndrome respiratória aguda grave, um estudo controlado sugeriu que a adição de lopinavir-ritonavir à ribavirina reduziu o risco de resultados clínicos adversos e carga viral. Com relação à Covid-19, mesmo que alguns estudos observacionais tenham relatado que o uso da droga esteve associada a uma duração mais curta de eliminação viral e febre, outros estudos não demonstraram os mesmos efeitos.

Um ensaio randomizado anterior de lopinavir-ritonavir entre 199 pacientes internados em hospital com Covid-19 não mostrou melhora na carga viral, duração de internação hospitalar, ou mortalidade. No entanto, o ensaio não foi suficiente para descartar a possibilidade de benefícios do uso do fármaco na Covid-19, por ter uma amostra muito pequena.

Metodologia

Os estudos do RECOVERY estão sendo realizados em 176 hospitais do Reino Unido, com o apoio do National Institute for Health Research Clinical Research Network. 

Neste ensaio clínico randomizado, controlado e aberto, os pacientes foram alocados, entre 19 de março e 29 de junho de 2020, para tratamento padrão versus tratamento padrão mais lopinavir-ritonavir (400 mg e 100 mg, respectivamente) por via oral por dez dias ou até alta. Foi usada randomização simples com ocultação de alocação, e os grupos controle tiveram duas vezes mais pessoas que o grupo de intervenção.

O desfecho primário foi mortalidade em 28 dias.

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Participantes

  • 1.616 pacientes foram alocados aleatoriamente para lopinavir-ritonavir e 3.424 foram alocados aleatoriamente para os cuidados habituais;
  • A idade média dos participantes do estudo nesta comparação foi de 66,2 anos;
  • Na randomização, cerca de um quarto dos pacientes não tinha suporte ventilatório, a maioria estava recebendo apenas oxigênio e uma proporção muito pequena estava em ventilação mecânica invasiva;
  • 1.606 [99%] de 1.616 pacientes no grupo lopinavir-ritonavir e 3.412 [> 99%] de 3.424 pacientes no grupo de tratamento usual tiveram todas as informações completas.

Resultados

  • 374 (23%) pacientes alocados para lopinavir-ritonavir e 767 (22%) pacientes alocados para tratamento usual morreram dentro de 28 dias;
  • Não houve diferença significativa na proporção de pacientes que atenderam ao desfecho primário entre os dois grupos randomizados (razão de taxa 1.03, IC 95% 0.91–1.17; p = 0.60);
  • O grupo do lopinavir-ritonavir foi associado a um tempo semelhante até a alta com vida em comparação com o grupo de tratamento usual (mediana de 11 dias [IQR 5 a> 28] em ambos os grupos) e uma probabilidade semelhante de alta com vida do hospital em 28 dias (razão de taxa 0.98, IC 95% 0.91–1.05; p = 0.53);
  • Entre os pacientes que não estavam em ventilação mecânica invasiva no início do estudo, o número de pessoas que precisou de VNI e/ou evoluiu com morte entre aqueles alocados para lopinavir-ritonavir foi semelhante ao daqueles alocados para tratamento usual (razão de risco 1.09, 0.99–1.20; p = 0.092);
  • Entre aqueles que não estavam em diálise renal ou hemofiltração na randomização, o número de pacientes que necessitaram deste tratamento em 28 dias foi semelhante entre os dois grupos: 66 (4%) de 1.588 pacientes no grupo de intervenção vs 140 (4%) de 3.348 pacientes no grupo controle (razão de risco 0.99, IC 95% 0.75-1.32; p = 0.97);
  • Houve um relato de reação adversa grave que pode estar relacionada ao lopinavir-ritonavir: o paciente teve alanina aminotransferase elevada e se recuperou após interromper o tratamento.

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Conclusões

Não foram encontrados benefícios estatisticamente significativos nos pacientes hospitalizados com Covid-19 que fizeram uso do lopinavir-ritonavir. O resultado foi igual entre os grupos tanto para mortalidade em 28 dias, quanto para duração de internação hospitalar ou risco de evolução para ventilação mecânica.

Após os resultados apresentado, o RECOVERY encerrou os testes com a droga e alocou os pacientes para outros grupos de novos testes, como tocilizumabe ou plasma convalescente.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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