Mais inteligência aos 8 anos, menos demência aos 70 anos

De modo independente, a idade parece ser o fator que mais influencia o risco de demência de uma maneira diretamente proporcional.

Muitos fatores influenciam de modo independente o aparecimento de síndromes demenciais conforme os estágios do ciclo de vida. De modo independente, a idade parece ser o fator que mais influencia o risco de demência de uma maneira diretamente proporcional. Em outros termos: quanto mais velhos, maior a chance de desenvolvermos demências. Por outro lado, se não podemos nos mover contra as consequências imutáveis do tempo, que fatores são protetores em relação a cognição da velhice?

Essa foi a pergunta que um grupo de pesquisadores tentou responder em um trabalho publicado no periódico Neurology na última semana de outubro. Os pesquisadores conduziram uma análise derivada de uma coorte britânica que segue indivíduos britânicos nascidos em uma semana de março do ano de 1946. Essa é a coorte mais antiga ainda em seguimento de indivíduos atualmente descrita e dela deriva o estudo Insight 46, do qual esse grupo de pesquisadores faz parte.

A coorte inicialmente objetivava avaliar fatores que influenciavam o desenvolvimento dos indivíduos, sendo realizadas 24 coletas de dados ao longo da infância e vida adulta, a mais recente quando os indivíduos atingiram entre 69 e 71 anos de idade. O estudo Insight 46 convocou 502 indivíduos participantes da coorte entre maio de 2015 e janeiro de 2018.

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Os indivíduos convocados foram avaliados com testes cognitivos e posteriormente avaliados com biomarcadores e exames de neuroimagem, sendo categorizados entre indivíduos sem prejuízo cognitivo e indivíduos com condições neuropsiquiátricas maiores.

Durante a infância, quando estavam com oito anos de idade, esses mesmos indivíduos haviam sido avaliados cognitivamente com testes de QI avaliando inteligência verbal e não verbal, e outras funções. Os resultados dos quatro testes aplicados geraram um score padronizado pelos pesquisadores. Posteriormente aos 26 anos os mesmos indivíduos foram avaliados segundo sua escolaridade e aos 53 anos quanto ao seu status socioeconômico.

Os resultados encontrados foram de que os indivíduos com performance superior aos oito anos de idade permaneceram com a mesma superioridade de performance 60 anos depois. O grupo concluiu também que alguns fatores modificáveis como escolaridade foram determinantes também para a performance cognitiva aos 70 anos e aos 53 anos esse fator foi determinante para determinar a ocupação e o status socioeconômico dos indivíduos.

Os resultados também evidenciaram que os indivíduos com positividade para deposição de proteína beta amiloide obtiveram piores performance cognitiva. O que os pesquisadores também notaram é que a deposição da proteína foi detectada antes que alterações pudessem ser percebidas e que essa deposição não sofreu nenhuma influência de sexo, idade, escolaridade, performance cognitiva na infância ou outros fatores modificáveis analisados.

Os dados precisam ser entendidos ainda dentro de suas limitações. Alguns vieses populacionais precisam ser levados em conta. A amostra estudada na coorte, não traduz hoje o retrato étnico da população que vive na Grã-bretanha atualmente, por ser composta majoritariamente de indivíduos caucasianos. Outro fator de viés é que para finalização do protocolo de pesquisa os indivíduos deveriam se deslocar até Londres, o que já compôs por si só uma população com maior escolaridade, renda e status socioeconômico.

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Demência e inteligência: o que os resultados mudam na prática

Os resultados desse estudo apontam duas direções básicas na prática cotidiana. A primeira, habilidades cognitivas altas na infância tendem a ser mantidas ao longo da vida e essas habilidades são influenciadas fortemente por questões modificáveis relacionadas à determinantes sociais de saúde.

Outro ponto é que escolaridade e treinamento cognitivo implica em maior proteção para desfechos cognitivos positivos ao longo da vida. Ou seja, durante nossa prática clínica orientações oportunas sobre estímulos cognitivos lúdicos, treinamentos musicais, treinamentos de artes plásticas, treinamentos de leitura e escrita entre outros são capazes de gerar proteção para prejuízos cognitivos ao longo da vida. Lembre-se de utilizar essa informação ao orientar seus pacientes ao longo de qualquer fase do ciclo de vida, e assim você estará ajudando a atuar sobre os fatores protetores modificáveis.

Referência bibliográfica:

  • LU, K et. al. Cognition at age 70 Neurology Out 2019

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