Qual o melhor manejo da diverticulite complicada?

Existiam certas “regras” quanto ao manejo da diverticulite que ao longo dos últimos anos têm sido contestadas, por falta de embasamento estatístico.

Tradicionalmente existiam certas “regras” quanto ao manejo da diverticulite que ao longo dos últimos anos têm sido contestadas, por falta de embasamento estatístico. Apesar de não ser universalmente aceito é comum indicar a ressecção de segmento do sigmoide após o 3º episódio de diverticulite não complicada ou após o primeiro episódio complicado. Nos casos de diverticulite complicada, os guidelines das sociedades são bastante díspares. Isso pode ser justificada pelo modelo do sistema de saúde ondem estão inseridos.

Mulher sofrendo de diverticulite em busca de apoio médico para o manejo correto da doença

Método do estudo sobre manejo da diverticulite

Foram utilizados bancos de dados dos sistemas de saúde da Escócia e da Suíça, de pacientes admitidos com diverticulite aguda complicada de 1 janeiro de 2005 a 31 de dezembro de 2015. Todos os pacientes selecionados foram manejados de forma não operatória durante a primeira internação.

O desfecho primário do estudo foi definido como qualquer evento adverso que necessitasse de internação por diverticulite aguda ou complicações da ressecção eletiva do cólon, após a internação índice. Enquanto o desfecho secundário seria o intervalo para a ressecção colônica.

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Resultados

Foram identificados 190.125 pacientes nos dois países no período de observação, e após exclusões permaneceram 18.990 pacientes admitidos e manejados de forma não cirúrgica por diverticulite aguda complicada (n=5.129 na Escócia; n= 13.861 na Suíça). O número de readmissões por desfecho primário foi de 5% em ambos países. Os procedimentos eletivos após o primeiro episódio de diverticulite complicada foi menos frequente na Escócia (4,5%) quando comparado com a Suíça (23,7%). Dos pacientes submetidos a ressecção eletiva do sigmoide, 5,6% apresentaram o desfecho primário na Escócia e 5,4% na Suíça. Óbitos ocorreram em 2 pacientes na Escócia e 28 na Suíça, após a ressecção eletiva o que representa nas duas amostras 0,9% do total de pacientes eletivos nos dois grupos.

Discussão

O objetivo da ressecção colônica se baseia na prevenção de eventos adversos graves caso o paciente apresente um novo episódio de diverticulite. No entanto a cirurgia em si carreia um grau de morbidade associada. Este estudo não evidenciou diferença estatística em readmissões e morte quando se comparou a população dos dois diferentes países, apesar da taxa de cirurgia eletiva ser 5 vezes maior na Suíça. Este achado corrobora a tendência em ampliar o manejo conservador mesmo nos casos de diverticulite complicada.

Há a limitação inerente deste estudo, que por utilizar banco de dados, não é possível obter todas as informações pera uma melhor análise, especialmente o acompanhamento ambulatorial. Apesar disto os achados estão de acordo com outros estudos baseados em populações, que não confirmam nenhuma associação entre ressecção eletiva e a taxa de readmissões na emergência.

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Conclusões sobre o manejo da diverticulite

Este estudo analisou dois sistemas de saúde. E ainda assim não foi possível detectar alterações na taxa de readmissão hospitalar apesar da grande diferença de cirurgias eletivas nos dois grupos. Assim, desafia as recomendações de cirurgia profilática após diverticulites complicadas. Como é explicitada nos guidelines da German Interdisciplinary e da American Society of Colon and Rectum Surgeons.

As diferentes formas de manejo da diverticulite complicada podem refletir as diferentes políticas de saúde destes países. Independente disto possuímos substrato para individualizar ainda mais os tratamentos oferecidos, pois a influência da opinião do paciente pode ser determinante. De qualquer forma, a não diferença nas readmissões é um dado bastante forte. Quem sabe os sintomas dos pacientes possam ser um determinante para a definição terapêutica e não apenas o fato de ter apresentado um episódio de diverticulite grave. A análise da qualidade de vida destes indivíduos após evento índice poderia auxiliar nesta decisão.

Referências bibliográficas:

  • von Strauss Und Torney M, Moffa G, Kaech M, et al. Risk of Emergency Surgery or Death After Initial Nonoperative Management of Complicated Diverticulitis in Scotland and Switzerland [published online ahead of print, 2020 May 13]. JAMA Surg. 2020;e200757. doi:10.1001/jamasurg.2020.0757

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