Manejo da dor periparto em mulheres com dependência de opioides

A dependência de opioides durante a gravidez é um problema de saúde pública. Entretanto, sua análise é prejudicada pela subnotificação.

A dependência de opioides durante a gravidez é um problema de saúde pública em diversos países do mundo. Entretanto, sua análise estatística é prejudicada já que o uso de drogas permanece subnotificado. Em um largo estudo americano utilizando-se da análise de mecônio para cocaína e opioide, em mais de 8.000 recém-nascidos, 2,3% testaram positivo.

A terapia padrão para mulheres dependentes de opioides durante a gravidez consiste em tratamento farmacológico com opioides sintéticos (metadona é o principal) e suporte psicossocial para estabilizar a paciente e evitar recaída no abuso de substâncias ilícitas. A implementação da buprenorfina para o tratamento da dependência de opioides ampliou as possibilidades terapêuticas, pois este agente terapêutico demonstrou exercer eficácia e segurança comparáveis à metadona.

Foi realizado um ensaio clínico controlado, randomizado e duplo-cego com o objetivo de investigar diferenças no tratamento da dor aguda de mulheres grávidas dependentes e não dependentes de opioides durante o parto e no pós-parto imediato. De acordo com estudos prévios, suspeitava-se de que mulheres grávidas dependentes de opioides necessitariam de doses maiores de analgésicos no período periparto em comparação com mulheres não dependentes de opioides.

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Manejo da dor periparto em mulheres com dependência de opioides

Metodologia

As 37 mulheres dependentes de opioides que participaram do estudo Maternal Opioid Treatment: Human Experimental Research (MOTHER), um estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado e controlado que comparou a eficácia e segurança da metadona e da buprenorfina durante a gravidez, foram comparadas a um grupo controle de 80 mulheres não dependentes de opioides no que diz respeito ao controle da dor aguda no período periparto. Cada mulher do grupo intervenção foi pareada com 2 mulheres do grupo controle para: idade; tipo de parto (vaginal x cesárea); tipo de gravidez (feto único x múltiplos fetos); presença de distúrbios psiquiátricos, dentre outros.

O manejo anestésico e de analgesia periparto seguiu o protocolo da Medical University of Vienna.

Resultados

Os dados demográficos entre os grupos não mostraram diferenças significativas, exceto por uma prevalência significativamente maior de fumantes no grupo de pacientes usuárias de opioides.

Outra análise, entre os 2 braços do grupo intervenção (buprenorfina x metadona), não mostrou diferenças significativas em relação ao manejo da dor.

Dentre as pacientes submetidas ao parto vaginal, aquelas dependentes de opioides necessitaram de mais analgesia de parto do que as pacientes não dependentes. Não houve diferenças significativas em relação ao manejo da dor no período pós-parto.

Dentre as pacientes submetidas ao parto cesariano, as mulheres do grupo controle (não dependentes) receberam mais opioides para o controle da dor pós-operatória do que o grupo intervenção (dependentes).

Discussão e conclusão

O presente estudo revelou diferenças significativas no manejo da dor entre os 2 grupos, refletidas por maior frequência de analgesia de parto para mulheres dependentes de opioides durante parto vaginal e maior utilização de analgésicos opioides para mulheres não dependentes durante período pós-parto cesáreo. Levando-se em consideração estudos prévios que mostraram maior consumo de analgésicos em mulheres dependentes de opioides, surge a questão de porque, neste estudo, a quantidade de opioides liberados ​​às mulheres dependentes de opioides estava muito abaixo da quantidade do grupo controle. Um motivo seria o medo de induzir uma recaída ao abuso de substâncias ilícitas naquelas mulheres dependentes, ou o medo de os pacientes relatarem dor como forma de manipular os médicos, tornando-se um comportamento de “busca por drogas”. 

Outra questão interessante e já bem documentada é a conexão entre o consumo de nicotina e dor. A nicotina atenua a percepção de dor, porém o mecanismo envolvido ainda não é conhecido. Fumantes hospitalizados, privados de nicotina, mostram um aumento na percepção de dor. A maior prevalência de fumantes no grupo de mulheres dependentes de opioides pode ter influenciado os resultados.

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Em resumo, os resultados sugerem que existem diferenças nas abordagens para o tratamento da dor de mulheres com dependência de opioides. Os médicos devem estar cientes de que essa população-alvo específica pode exigir doses maiores de analgésicos do que a média e o subtratamento deve ser evitado. Além disso, a relevância do consumo de nicotina no contexto do tratamento da dor deve ser levada em consideração em estudos futuros.

Referências bibliográficas:

  • Höflich AS, Langer M, Jagsch R, Bäwert A, Winklbaur B, Fischer G, Unger A. Peripartum pain management in opioid dependent women. Eur J Pain. 2012 Apr;16(4):574-84. doi: 10.1016/j.ejpain.2011.08.008.

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