Manejo das infecções virais durante a gestação

Infecções virais durante a gestação são muito comuns e podem levar a aumento da morbimortalidade materna, além de sequelas para o feto.

Infecções virais durante a gestação são muito comuns e podem levar a aumento da morbimortalidade materna, além de sequelas para o feto que podem ser irreversíveis. Saber tratar adequadamente, estabilizar o quadro clínico da gestante e agir preventivamente para evitar transmissão vertical ou um parto prematuro é essencial para uma boa assistência materno-fetal. 

Leia também: Coronavírus: Devemos realizar rastreio universal para SARS-CoV-2 em gestantes pré-parto?

Manejo das infecções virais durante a gestação

Análise recente

Em março de 2021 foi publicado uma revisão sistemática na revista Elsevier que aborda o manejo das infecções virais durante a gestação. Infecções causadas pelo vírus da hepatite B, HIV e herpes vírus já possuem terapêutica adequada, que visa o bem-estar materno e fetal. Já as infecções causadas por vírus como o da hepatite C, citomegalovírus e SARS-CoV-2 precisam de mais estudos para definir a melhor abordagem para o binômio em questão. O grande problema é a dificuldade de realizar pesquisas em gestantes de maneira ética, por isso que acabamos agindo empiricamente e posteriormente os protocolos são revisados e adequados para uma melhor assistência.

As gestantes que apresentam infecção por herpes vírus devem ser tratadas com aciclovir. Se apresentarem lesões ativas quando entrarem em trabalho de parto, a via de parto deve ser a cesariana, para evitar a transmissão vertical. 

A infecção pelo citomegalovírus é muito comum entre as gestantes e pode ser assintomática, dificultando um manejo profilático da transmissão vertical. Esta pode levar a importantes más-formações fetais, por isso sua prevenção é o foco de diversas pesquisas pelo mundo. Até hoje, não temos um protocolo com um bom nível de evidência para que seja empregado, além de não se ter vacina para o vírus em questão.

Saiba mais: CROI 2021: tratamento de HIV em gestantes – IMPAACT 2010

As hepatites virais são um problema epidemiológico em todo o mundo. Devemos orientar a vacinação da hepatite B nas pacientes que passam por consulta de rotina ginecológica e no pré-natal. As pacientes que se infectam por hepatite B durante a gestação devem receber tratamento com drogas antivirais, como tenofovir, lamivudine e telbivudine. São drogas bem estudas e com segurança para prescrição, pois o risco não supera seu benefício. Além de realizar o protocolo de profilaxia de transmissão vertical durante o parto com imunoglobulina e posterior vacinação do recém nato. 

Apesar de faltarem estudos que comprovem a segurança do tratamento antiviral para hepatite C crônica durante a gestação. O tratamento de gestantes com hepatite C é uma janela de oportunidade na qual diminuímos a viremia e prolongamos o tempo sem complicações causadas pela doença crônica. Alguns estudos também demonstram que o tratamento pode diminuir desfechos obstétricos desfavoráveis. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda as autoridades mundiais a estimular o aleitamento materno e o uso de terapia antirretroviral nessas pacientes para diminuir o risco de transmissão.

Brasil

O tratamento no Brasil de pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) é referência mundial, por isso temos muita tranquilidade em tratar nossas gestantes e puérperas. A terapia antirretroviral de escolha pode levar a teratogenicidade, porém temos alternativas que são ótimas e diminuem a transmissão vertical.  A OMS recomenda as autoridades mundiais verificarem o risco-benefício da amamentação de mães que vivem com HIV em seu país, pois existe o risco de transmissão. No Brasil a orientação do Ministério da Saúde é para contraindicar a amamentação nesses casos, pois o sistema único de saúde (SUS) oferece complemento para as mães que precisam.

Covid-19

Desde o início da pandemia de 2020, a infecção das gestantes e puérperas pelo SARS-CoV-2 tem sido um desafio para os obstetras ao redor do mundo. Até o momento as evidências não mostram transmissão vertical e a amamentação tem sido estimulada pois os anticorpos passados no leite protegem o bebê. Em algumas pacientes usamos o oseltamivir que é bastante seguro na gestação. O protocolo do ministério da saúde nos orienta a classificar a gestante ou puérpera com Covid-19 como: leve, moderada ou grave. E a partir desse ponto seguirmos o protocolo para cada caso. 

A prevenção da transmissão vertical e das repercussões de uma infecção viral em uma gestante ainda é um desafio, vários estudos ainda são necessários para que possamos evoluir e melhorar os desfechos obstétricos. Porém nos últimos anos vários protocolos têm sido aplicados, e vimos uma melhora na assistência materna e fetal de pacientes com infecção viral. Gostaria de deixar uma sugestão para vocês, toda vez que atenderem uma gestante com infecção viral, devem pensar em como melhorar os parâmetros clínicos da gestante com o menor risco para o feto, além de tentar corrigir e evitar algumas complicações obstétricas que podem surgir, como oligohidrâmnio, crescimento intrauterino restrito e trabalho de parto prematuro.

Referências bibliográficas:

  • Rogan SC, Beigi RH. Management of Viral Complications of Pregnancy: Pharmacotherapy to Reduce Vertical Transmission. Obstetrics and Gynecology Clinics of North America. 2021;48(1). doi10.1016/j.ogc.2020.12.001

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