MAPA 24h e MRPA: saiba tudo sobre a nova diretriz da SBC

A Sociedade Brasileira de Cardiologia atualizou suas diretrizes sobre monitorização ambulatorial da pressão arterial nas 24 horas (MAPA 24h) e da monitorização residencial da pressão arterial (MRPA). No nosso texto, separamos os pontos principais.

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Em diversas reportagens anteriores, comentamos a importância da medida da pressão arterial pelo próprio paciente e a necessidade de padronização da técnica. Agora em maio de 2018, a Sociedade Brasileira de Cardiologia atualizou suas diretrizes sobre monitorização ambulatorial da pressão arterial nas 24 horas (MAPA 24h) e da monitorização residencial da pressão arterial (MRPA). No nosso texto, separamos os pontos principais.

As medidas domiciliares, tanto MAPA como MRPA, têm como vantagens a obtenção de vários valores da PA e em condições do dia a dia do paciente, o que aumenta seu poder de identificar o risco cardiovascular das pessoas, isto é, são melhores fatores preditores de eventos cardiovasculares em comparação com a medida simples da PA em consultório. E a MAPA ainda tem uma vantagem peculiar, inerente a ela, que é a medida da PA durante o sono.

A não redução e/ou a redução insuficiente da PA dormindo (o descenso noturno) têm correlação com risco cardiovascular e são especialmente importantes nos pacientes com apneia obstrutiva do sono (ou seja, se o seu paciente ronca e/ou apresenta sonolência diurna, em especial se for obeso, solicite uma MAPA!). Um estudo do qual participei no grupo de pesquisa sobre HAS da UERJ (CHAMA) mostra bem essa importância.

Além disso, ao medir a PA em atividades do dia a dia, podemos conhecer melhor o impacto do estilo de vida no comportamento da pressão e correlação entre sintomas inespecíficos e os valores da PA. Desse modo, as principais indicações para MAPA/MRPA não mudaram na nova diretriz e são:

  • Diagnóstico de pré-hipertensão sem lesões de órgãos-alvo
  • Avaliação de hipertensão episódica
  • Identificação de hipertensão no sono ou ausência de descenso no sono
  • Avaliação da eficácia anti-hipertensiva – e separar a hipertensão resistente verdadeira da pseudo-hipertensão resistente
  • Manejo da hipertensão durante a gravidez
  • Avaliação da hipertensão em idosos
  • Avaliação da hipertensão em crianças e adolescentes
  • Triagem e seguimento na apnéia obstrutiva do sono
  • Identificação do comportamento da PA em disautonomias
  • Avaliação da elevação matinal precoce da PA
  • Identificação das variações circadianas da pressão

Aspectos técnicos

A diretriz recomenda que os aparelhos sejam calibrados a cada ano e verificados em comparação aos aparelhos de mercúrio a cada 6 meses!!! Difícil é implementar isso na prática…

Um bom exame deve ter no mínimo 16 leituras de dia e 8 à noite, com menos de 20% de exclusão por medidas inválidas. O usual é programar medidas de 20/20 min de dia e 30/30 min de noite. O ideal é que o horário da PA noturna seja o que o paciente de fato dormiu e não aquele automático 23h às 06h.

Quais são os parâmetros medidos e que vêm no laudo?

  • Média da pressão arterial: é o mais importante, sendo informado para PA sistólica, diastólica e média. Além disso, é separado em vigília (diurno), noturno e nas 24h. É o parâmetro que melhor se correlaciona com risco de eventos cardiovasculares.
  • Descenso noturno: é o percentual de redução da PA no sono. É classificado em normal (10-20% de redução), reduzido (< 10% de redução) ou exacerbado (>20% redução).
  • Carga pressórica: é o percentual de medidas da PA acima do valor limítrofe. Como não agrega mais informações em relação à média da PA, a diretriz não recomenda que seja valorizado.
  • Ascensão matinal da PA: calculada pela diferença entre a PAS matinal (média das pressões nas primeiras duas horas após o despertar) e a menor PAS durante o sono (média da pressão mais baixa e das pressões imediatamente antes e após a mais baixa). Como não agrega mais informações em relação à média da PA, a diretriz não recomenda que seja valorizado.
  • Variabilidade da PA: há vários parâmetros candidatos a medir a variabilidade, sendo o mais utilizado do desvio padrão da média. Como não agrega mais informações em relação à média da PA, a diretriz não recomenda que seja valorizado.

Tabela: valores anormais da PA pela MAPA e MRPA

MRPA ≥ 135/85 mmHg
MAPA 24 horas ≥ 130/80 mmHg
MAPA diurno ≥ 135/85 mmHg
MAPA noturno ≥ 120/70 mmHg

Qual a classificação de hipertensão?

Classificação Consultório MAPA/MRPA
Normotenso < 140/90 < 130/80 (MAPA)
< 135/85 (MRPA)
Hipertensão Verdadeira ≥ 140/90 ≥ 130/80 (MAPA)

≥ 135/85 (MRPA)

Hipertensão Jaleco Branco ≥ 140/90 < 130/80 (MAPA)
< 135/85 (MRPA)
Hipertensão Mascarada < 140/90 ≥ 130/80 (MAPA 24h)

e/ou

≥ 135/85 (MAPA diurno)

e/ou

≥ 120/70 (MAPA noturna)

ou

≥ 135/85 (MRPA)

(Todos os valores em mmHg)

Lembrete: pacientes hipertensos mas cuja PA aumenta 10-20 mmHg na consulta em relação à MAPA/MRPA devem ser classificados como “efeito do jaleco branco”.

Há na literatura debate se a hipertensão do jaleco branco e a mascarada apresentam maior risco cardiovascular. A tendência atual é considerar o risco nulo ou minimamente elevado na HAS Jaleco Branco e o risco aumentado na HAS Mascarada, havendo inclusive nesta última indicação de iniciar tratamento usando a MAPA ou MRPA como guia da meta pressórica.

Por fim, a FC do aparelho de MAPA não deve ser valorizada. Estudos recentes, principalmente na Inglaterra, mostraram custo-eficácia da realização da MAPA, com redução de até 25% no volume de prescrição de anti-hipertensivos pela simples retirada do efeito do jaleco branco!!

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