Março Lilás e Março Amarelo — um mês com foco no cuidado com a Saúde da Mulher

No mês de março comemoram-se 2 campanhas inspiradas na mulher: março lilás e março amarelo!

Coautoria: Mariana Marins. Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.

 

 

No mês de março comemoram-se 2 campanhas inspiradas na mulher: março lilás e março amarelo! Saiba um pouco mais sobre elas:

Março Lilás e Março Amarelo — um mês com foco no cuidado com a Saúde da Mulher.

Março Lilás

Com o objetivo de conscientizar as mulheres sobre a importância de realizar o exame colpocitológico (preventivo) que é uma forma de prevenção do câncer de colo uterino.

Com relação a campanha do Março Lilás, é importante destacar que o câncer de colo uterino (CCU) é a quarta maior causa de morte em mulheres por câncer no Brasil (INCA, 2019), o que é contraditório pois o CCU é uma doença que pode ser evitável através de medidas de prevenção primária e ter seu diagnóstico precoce por meio da prevenção secundária, o que leva a grande chance de cura. Em 2019, a maior parte dos óbitos ocorridos em decorrência do CCU foi na faixa etária dos 40 aos 69 anos.

É através do exame preventivo que as lesões precursoras são identificadas e, se não identificadas e tratadas, podem vir a se tornar o CCU, por essa razão, o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) e o Ministério da Saúde (MS) recomendam que a rotina de realização do exame colpocitológico (prevenção secundária do CCU) seja a cada 3 anos (caso possuam 2 outros exames anteriores, anuais e sem alteração) para qualquer pessoa com colo do útero, que já tenha tido atividade sexual, na faixa etária de 25 a 64 anos. É válido ressaltar que, neste grupo indicado para a realização do exame preventivo, estão incluídos homens trans, pessoas não binárias e indivíduos intersexuais que possuam colo uterino (WHO, 2021).

Leia também: Rastreamento de câncer de colo uterino no Brasil: existe valor clínico para jovens?

A forma de prevenção primária do CCU é através do não contágio com Papiloma Vírus Humano (HPV), seja pelo uso do preservativo interno ou externo durantes todas as relações sexuais e também através da vacinação contra o HPV. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus, sendo que entre esses, o 16 e 18, possuem poder oncogênico, o que pode levar ao desenvolvimento das lesões precursoras no colo de útero nos casos de infecção persistente.

Essa mesma temática também é colocada em evidência durante o mês de Outubro, com a campanha Outubro Rosa, que tem o foco no diagnóstico precoce do câncer de mama mas, como há um aumento de mulheres que procuram as unidades de saúde para atendimento nesse período, aproveita-se a demanda e se incentiva para que elas façam o exame preventivo quando necessário, além do Exame Clínico das Mamas (ECM) e mamografia, se indicado. Isso é importante porque estima-se, segundo o INCA, que o Brasil irá registrar 16.590 novos casos de câncer de colo de útero, o que representa 7,4% dos novos casos entre as mulheres para cada ano no triênio 2020-2022.

Destaca-se ainda, que a coleta da colpocitologia pode ser realizada tanto por médicos, quanto por enfermeiros, pois as duas profissões são capacitadas para coleta, e isso facilita a acessibilidade das mulheres e o diagnóstico precoce do câncer porque amplia a oferta do exame. Além disso, tão importante quanto o incentivo em realizar a coleta do material colpocitológico, é a busca pelo resultado, por essa razão, durante a consulta ginecológica, vale orientar que não basta realizar o exame preventivo, mas buscar saber o resultado do exame e seguir as recomendações.

Nesse contexto, os profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde têm um papel fundamental na busca ativa das mulheres, tanto as que estejam no período indicado para realização do preventivo, quanto para realizar a entrega dos resultados com as orientações necessárias. Sendo assim, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) têm um papel fundamental na convocação da população feminina, auxiliando os demais profissionais de saúde no planejamento das ações, a fim de identificarem as mulheres com alterações celulares que precisem de tratamento adequado ou de nova coleta do exame. A conduta para seguimento dos casos é recomendada pelo INCA e pelo MS e tem o objetivo de tratar precocemente as lesões precursoras.

Nesse cenário, reforça-se a importância do profissional de enfermagem, pois com sua capacitação e competência teórico-prática, o enfermeiro atua nos diversos níveis de atenção à saúde e através das ações de educação em saúde incentiva que as mulheres busquem atendimento e orienta sobre a importância da realização dos exames e da promoção a sua saúde.

Março Amarelo

Com o objetivo de conscientizar a população e em especial as mulheres a respeito da endometriose, uma doença hormônio-dependente que que pode levar a grande repercussão na vida das mulheres e seus familiares.

Pensando nisso, vem a importância da campanha Março Amarelo, pois estima-se que mais de 7 milhões de mulheres sofram com a endometriose no Brasil e cerca de 176 milhões em todo o mundo. A endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna, estrogênio-dependente, de etiologia desconhecida e atinge principalmente mulheres em idade reprodutiva. Embora seja considerada benigna, pode causar prejuízos para a vida pessoal, familiar e econômica da mulher, pois um dos sintomas mais relatados pelas mulheres é a dor intensa e incapacitante, que dificulta suas atividades diárias, afetando diretamente a qualidade de vida da mulher, além de casos de dificuldade de engravidar, o que também pode trazer repercussões psicológicas que podem afetar o dia a dia e o bem-estar da mulher e sua família.

Apesar de números tão expressivos e repercussões consideráveis na vida, a mulher com endometriose pode ter como grande obstáculo a dificuldade de ter o diagnóstico, pois este é difícil, porque não basta um exame físico após a suspeita clínica, ainda é preciso fazer uso de outros exames como o ultrassom pélvico, a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética com protocolos especializados, além de um profissional médico que tenha experiência nesse diagnóstico. A videolaparoscopia já foi considerada padrão ouro para o diagnóstico da endometriose, mas com o avanço dos exames de imagem, ela só é indicada para mulheres em que o tratamento clínico não funcionou e que através da imagem não se consiga fechar o diagnóstico, porque em alguns casos, só é possível identificar lesões superficiais.

Nesse viés, é indispensável a divulgação à população sobre a consulta de enfermagem para a mulher e a capacitação desses profissionais para a realização adequada da anamnese, do exame físico, do diagnóstico de enfermagem e da conduta correta. Com relação à divulgação sobre a consulta de enfermagem, é comum observar que muitas mulheres ainda procuram especialistas para a realização de suas consultas. Nesse sentido, é importante a divulgação da autonomia do enfermeiro por meio de veículos de comunicação ー revistas, jornais, televisão, Whatsapp, Instagram, Facebook e Twitter ー a fim de ampliar o acesso das mulheres na Atenção Primária e no tratamento precoce.

No caso da endometriose, é comum que as mulheres descubram o seu diagnóstico somente 10 anos depois do início dos sintomas e o diagnóstico tardio de doenças como endometriose ou CCU podem resultar em tratamentos cirúrgicos e muita das vezes esterilização.

Saiba mais: Guideline para tratamento da endometriose associada a infertilidade

Por conseguinte, mulheres que apresentem os seguintes sintomas devem procurar avaliação:

  • Dor pélvica (cólicas intensas);
  • Sangramento fora do período menstrual;
  • Infertilidade;
  • Dispareunia;
  • Metrorragia.

Cabe mencionar que, caso a mulher não identifique nenhum desses sintomas, também necessita ir às consultas regularmente, para realização do citopatológico de colo uterino e do exame clínico das mamas (ECM). Durante a consulta, o enfermeiro poderá avaliar outras questões referentes à saúde da mulher e solicitar avaliação de outros profissionais de saúde sempre que necessário.

Dado o exposto, a divulgação acerca da prevenção de agravos à saúde da mulher deve partir dos profissionais de saúde e utilizando diversas ferramentas para garantir a melhora do conhecimento sobre os agravos, acessibilidade e tratamento precoce de forma interdisciplinar.

Referências bibliográficas:

  • FEBRASGO. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Endometriose. São Paulo: FEBRASGO, 2021 (Protocolo FEBRASGO-Ginecologia, n. 78/Comissão Nacional Especializada em Endometriose).
  • World Health Organization (WHO). WHO guideline for screening and treatment of cervical pre-cancer lesions for cervical cancer prevention, second edition. Geneva: World Health Organization; 2021.
  • INCA, Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019.
  • Ministério da Saúde (BR). Protocolos da Atenção Básica : Saúde das Mulheres / Ministério da Saúde, Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa. Brasília, 2016
  • Da Luz AF, Fuchina R. A evolução histórica dos direitos da mulher sob a ótica do direito do trabalho, 2009. Trabalho apresentado e publicado nos anais do II Seminário Nacional de Ciência Política da UFRGS. Disponível em:  http://www.ufrgs.br/nucleomulher/arquivos/artigoalex.pdf

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