Mecônio no líquido amniótico pode ser um fator de proteção para sibilância na infância

Estudo mostra diminuição da incidência de sibilância infantil em bebês nascidos de mulheres com líquido amniótico meconial em partos a termo.

Um estudo conduzido no Japão e publicado no European Journal of Pediatrics revelou uma diminuição da incidência de sibilância infantil entre os bebês nascidos de mulheres com líquido amniótico meconial (LAM) em partos a termo. O artigo descreve que, por mecanismos ainda desconhecidos, o LAM foi associado à diminuição da incidência de sibilos na prole até os três anos de idade.  

O líquido amniótico meconial é visto em 5% a 20% dos trabalhos de parto e afeta várias condições fetais, como partos pós-termo e distúrbios fetais maduros, reflexo vagal por compressão do cordão umbilical ou hipoxemia fetal. Vários estudos relataram que o LAM está associado a vários desfechos perinatais adversos, como óbito fetal, padrões anormais de frequência cardíaca fetal, baixos índices de Apgar, encefalopatia hipóxico-isquêmica, sepse neonatal, convulsões e paralisia cerebral. Além disso, aproximadamente 5% dos recém-nascidos (RN) de mães com líquido amniótico meconial apresentam síndrome de aspiração de mecônio (SAM), levando a uma maior mortalidade dos bebês. Por outro lado, há relatos conflitantes sobre os efeitos do LAM nos desfechos neonatais de longo prazo. O objetivo do estudo, portanto, foi avaliar a associação entre o LAM durante o trabalho de parto e a sibilância da prole. 

líquido amniótico

Metodologia 

Os pesquisadores analisaram dados do Japan Environment and Children’s Study (JECS), um estudo nacional prospectivo de coorte de nascimentos, entre 2011 e 2014. Os critérios de elegibilidade foram: 

  • Pacientes residentes nas áreas de estudo durante o recrutamento e com expectativa de residir continuamente no Japão no futuro próximo;  
  • Pacientes com previsão de parto entre 1º de agosto de 2011 e meados de 2014;  
  • Pacientes capazes de participar sem dificuldade, isto é, capazes de compreender a língua japonesa e preencher os questionários autoaplicáveis. 

Os questionários autoaplicáveis, preenchidos durante o primeiro trimestre e segundo/terceiro trimestre, foram usados para coletar informações sobre fatores demográficos, histórico clínico e obstétrico, saúde física e mental, estilo de vida, ocupação, exposição ambiental em casa e no local de trabalho, condições de moradia e status socioeconômico. 

Os critérios de exclusão foram: 

  • Participantes que tiveram abortos, natimortos e informações faltantes; 
  • RN nascidos após 40 semanas de IG, pois o período pós termo em si é afetado pela maturidade fetal e é conhecido por levar a um aumento da incidência de líquido amniótico meconial. 

Foram analisados dados de mulheres com RN nascidos vivos únicos entre 22 e 40 semanas de idade gestacional (IG). Os participantes foram categorizados em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de líquido amniótico meconial. O desfecho primário foi a sibilância na infância da prole até os três anos de idade.  

Um modelo de regressão logística foi usado para calcular o odds ratio ajustado (aOR) para sibilância infantil em filhos de mulheres com LAM, considerando aquelas sem LAM como referência, levando em consideração os potenciais fatores de confusão que afetam a incidência de sibilância.  

Resultados 

Foram analisados dados de 61.991 participantes: 1.796 (2,9%) participantes apresentaram LAM durante o trabalho de parto e 18.919 (30,5%) das crianças apresentaram sibilos na infância.  

As razões de idade materna acima de 30 anos, nulíparas, infecção intrauterina e RN do sexo masculino foram significativamente maiores no grupo líquido amniótico meconial do que no grupo controle. As razões de cesarianas, partos prematuros, bebês de baixo peso, ambiente de fumo ao redor das crianças, rinite infantil e sibilância infantil no grupo LAM foram significativamente menores do que no grupo controle. As OR para sibilância infantil na infância foram de 0,89 no total de participantes, 0,87 em nascimentos a termo e 2,0 em partos prematuros.

Revista PEBMED: Emergências Pediátricas está disponível para download gratuito

Conclusão 

Nesse estudo, o LAM foi associado a uma diminuição da incidência de sibilos na infância desde o nascimento até os três anos de idade, embora o mecanismo pelo qual o LAM durante o trabalho de parto afeta a incidência de sibilância seja desconhecido. Os pesquisadores destacam a necessidade de mais estudos para esclarecer a associação entre o LAM e os desfechos em longo prazo na criança, com dados clínicos detalhados sobre LAM e SAM para esclarecer o mecanismo do próprio mecônio em afetar a saúde, considerando microbiota e parâmetros de imunidade. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Murata T, Kyozuka H, Fukuda T, et al. Meconium-stained amniotic fluid during labor may be a protective factor for the offspring's childhood wheezing up to 3 years of age: the Japan Environment and Children's Study. Eur J Pediatr. 2022;181(8):3153-3162. doi:10.1007/s00431-022-04530-8