Medicação anticolinérgica está associada ao declínio cognitivo no idoso?

Já é bem documentado na literatura que o uso de alguns tipos fármacos está associado ao declínio cognitivo nos idosos, como a medicação anticolinérgica.

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Já é bem documentado na literatura que o uso de alguns tipos medicações está associado ao declínio cognitivo nos idosos.  Os fármacos com ação anticolinérgica (AC) – ou seja, que antagonizam o efeito da acetilcolina – representam o principal grupo dessas medicações.  A acetilcolina é um neurotransmissor que está envolvido em circuitos de atenção e memorização e, dessa forma, qualquer substância que interfira na sua ação pode prejudicar a função cognitiva.

Com intuito de estudar mais a fundo essa associação, um grupo de pesquisadores da Universidade de Indiana conduziu uma brilhante pesquisa, publicada recentemente no Jornal de Neurologia da Associação Médica Americana (Jama Neurology), confira os principais pontos:

  • Utilizando informações de dois bancos de dados prospectivos, foi avaliado o efeito do fármaco de acordo com sua potência: baixo, moderado e elevado efeito AC.
  • Um total de 451 pacientes – com e sem alterações cognitivas – foi avaliado: alguns deles fazendo uso de fármacos AC (60 pacientes) por pelo menos um mês, outros sem utilizar essas medicações.
  • Os participantes foram avaliados em três domínios cognitivos: função executiva, memória e cognição geral.

A grande inovação do trabalho foi acrescentar aos dados clínicos uma avaliação por neuroimagem, que analisou em alguns desses pacientes o metabolismo cerebral – por meio da aferição funcional do metabolismo de glicose – e o volume de regiões específicas do córtex.

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Como era de se esperar, os resultados desencorajam a utilização de fármacos AC em idosos:

  • A performance nos testes de avaliação para função executiva, memória e cognição geral foi significativamente inferior nos pacientes em uso de AC.
  • Na avaliação por neuroimagem alguns pacientes em uso de AC mostraram mais atrofia em regiões específicas do cérebro – principalmente no lobo temporal medial -, e quanto maior a quantidade da medicação, pior a atrofia.
  • Idosos em uso de AC apresentaram menor metabolismo de glicose na região hipocampal.
  • Indivíduos que fazem uso de AC desenvolveram declínio cognitivo leve e Alzheimer com maior frequência.

O resultado desse estudo indica que o uso de medicações AC em idosos além de comprometer vários domínios cognitivos está associado a alterações estruturais e metabólicas no cérebro dos pacientes.

Um dos mecanismos propostos é que a redução da atividade colinérgica leve a perdas sinápticas e  neurodegeneração em regiões com elevado metabolismo de acetilcolinam, como o lobo temporal medial. Uma outra possibilidade seria o aumento do stress relacionado ao eixo hipotálamo hipofisário, menos acetilcolina leva a um aumento da produção de corticosteroides  que está relacionado à morte de células do hipocampo.

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Uma limitação importante do trabalho é utilizar informações do próprio paciente quanto a utilização dos AC, já que pode ser reportado uma quantidade/tipo incorreto da medicação, entretanto, considerando que os  paciente apresentavam-se inicialmente com cognição normal, essa limitação é improvável.

Outra limitação seria a variabilidade do tempo de uso de AC entre os participantes (além do relativo pequeno número de paciente em uso de AC – apenas 60 dos 451).

É possível concluir que são necessários mais estudos com mais pacientes e com maior controle do tempo e quantidade de AC administrados a cada indivíduos a fim de correlacionar de maneira acurada os efeitos desses fármacos na função cognitiva, metabolismo e estruturação do encéfalo. Entretanto, os resultados desse interessante trabalho destacam a importância de considerar os efeitos cognitivos adversos antes de prescrever medicações AC para pacientes idosos com risco de declínio cognitivo.

Referência:

  • Risacher SL, Mcdonald BC, Tallman EF, et al. Association Between Anticholinergic Medication Use and Cognition, Brain Metabolism, and Brain Atrophy in Cognitively Normal Older Adults. 2017;73(6):721-732. doi:10.1001/jamaneurol.2016.0580.

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