Medidas de contenção da Covid-19 e nascimentos prematuros

O nascimento prematuro é a principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo. Como a Covid-19 se relaciona a essa condição?

O nascimento prematuro é a principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo, e muitas dos bebês sobreviventes acabam apresentando consequências adversas em longo prazo. Algumas evidências sugerem que o número de nascimentos prematuros foi muito reduzido após a implementação de medidas políticas destinadas a mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19.

Dessa forma, alguns pesquisadores objetivaram avaliar o impacto das medidas de mitigação da Covid-19 implementadas na Holanda na incidência de parto prematuro de forma gradual. Os resultados desse estudo foram publicados no jornal Lancet Public Health.

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bebê em incubadora e a relação entre covid-19 e prematuros

Covid-19 e prematuros

Foram obtidos dados de todos os bebês únicos submetidos a exames de sangue para triagem neonatal na Holanda, entre 9 de outubro de 2010 e 16 de julho de 2020. O período do estudo foi definido para incluir 10 anos e 5 meses antes da implementação das primeiras medidas nacionais de mitigação da Covid-19, iniciadas em 9 de março de 2020, como mostrado no quadro abaixo:

Medidas de mitigação da Covid-19 implementadas na Holanda
9 de março de 2020 Recomendações para:

  • Não apertar as mãos;
  • Usar lenços de papel;
  • Espirrar ou tossir no cotovelo;
  • Lavar as mãos regularmente;
  • Ficar em casa na vigência de sintomas de resfriado ou febre ou quando houvesse contato com um indivíduo Covid-19 positivo ou após visitação a uma área de alto risco.
12 de março de 2020
  • Conselhos contra interação social e visitas a idosos;
  • Eventos com mais de 100 pessoas foram cancelados; 
  • As pessoas foram orientadas a trabalhar em casa sempre que possível e a ficar em casa se tivessem sintomas respiratórios e/ou febre.
15 de março de 2020
  • Fechamento de escolas e creches;
  • Fechamento da indústria hospitaleira e de serviços não essenciais envolvendo contato físico
  • Distanciamento físico (1,5 metro).
23 de março de 2020
  • Cancelamento de todos os eventos e reuniões;
  • Proibição de grupos maiores que três pessoas nas áreas públicas (exceções para domicílios e crianças); 
  • Emissão de multas por não cumprimento de distanciamento físico;
  • Municípios podiam fechar lugares movimentados e lojas.

Fonte: Adaptado de Been et al., 2020.

Os dados foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio Ambiente, extraídos do Praeventis, um banco de dados holandês que contém informações de todos os bebês que foram submetidos a coleta de sangue para triagem neonatal, em que os neonatos são avaliados para uma série de doenças após 72 horas de vida.

Foram avaliadas quatro janelas de tempo em análises separadas: 1 mês, 2 meses, 3 meses e 4 meses antes e depois das datas de implementação. Nas análises primárias, o desfecho de interesse foi a incidência geral de nascimento prematuro, isto é, número de bebês nascidos com idade gestacional <37 semanas e 0 dias por 1000 bebês submetidos à triagem sanguínea neonatal.

Em análises estratificadas adicionais, os pesquisadores avaliaram se havia mudanças diferenciais na incidência de nascimento prematuro após as medidas de mitigação da Covid-19 de acordo com o grau de prematuridade.

Resultados

Dados de 1.599.547 neonatos únicos estavam disponíveis, sendo que 84.209 bebês (5,2%) nasceram prematuros. Um total de 56.720 nascimentos ocorreu após a implementação de medidas de mitigação da Covid-19, em 9 de março de 2020.

Os pesquisadores observaram reduções consistentes na incidência de nascimentos prematuros em várias janelas de tempo em torno de 9 de março (± 2 meses [n = 531 823] odds ratio [OR] 0,77, intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 0,66–0,91, p = 0, 0026; ± 3 meses [n = 796 531] OR 0,85, 0,73 –0,98, p = 0,028; ± 4 meses [n = 1 066 872] OR 0,84, 0, 73–0,97, p = 0,023). As reduções na incidência observadas após as medidas de 15 de março foram de menor magnitude, mas não estatisticamente significativas.

Nenhuma mudança foi observada após 23 de março. As reduções na incidência de nascimentos prematuros após 9 de março foram consistentes em todos as faixas de idade gestacional e robustas em análises de sensibilidade. Eles pareciam confinados a bairros de alto status socioeconômico, mas a modificação do efeito não foi estatisticamente significativa.

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Conclusões

Os pesquisadores concluíram que a implementação inicial das medidas de mitigação da COVID-19 foi associada a uma redução substancial na incidência de nascimentos prematuros nos meses seguintes, de acordo com observações preliminares em outros lugares, como na Dinamarca e na Irlanda. No entanto, descrevem que a integração de dados comparáveis de todo o mundo é necessária para comprovar ainda mais essas descobertas e começar a explorar os mecanismos subjacentes.

A relevância desse estudo é que existe uma potencial associação entre as medidas de mitigação da Covid-19 e uma redução de nascimentos prematuros extremos e de muito baixo peso ao nascer. Entretanto, é importante destacar que os estudos anteriores tiveram tamanhos de amostra relativamente pequenos, de até 5.162 nascimentos pós-implementação, e também um curto período de observação pós-implementação.

Nesse estudo holandês, foi usado um conjunto de dados de mais de 1,5 milhões de nascimentos únicos, incluindo 56.720 nascimentos pós-implementação, e os pesquisadores acabaram encontrando reduções consistentes em nascimentos prematuros em várias janelas de tempo em torno de 9 de março de 2020, implementação do primeiro conjunto de medidas de mitigação da pandemia.

No entanto, a extensão das medidas em 15 e 23 de março não teve efeito demonstrável na incidência de nascimentos prematuros. Portanto, esforços de colaboração internacional são necessários para reunir evidências para fundamentar ainda mais essas descobertas e estudar os mecanismos subjacentes, o que pode ajudar a descobrir novas oportunidades para a prevenção do nascimento prematuro com efeitos substanciais na saúde perinatal e pública global.

Referência bibliográfica:

  • Been J. et al. Impact of COVID-19 mitigation measures on the incidence of preterm birth: a national quasi-experimental study. Lancet Public Health 2020. Published Online October 13, 2020. https://doi.org/10.1016/S2468-2667(20)30223-1

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