Mielopatia associada ao HTLV-1: o que sabemos sobre a doença e sobre esse vírus?

Você sabia que o HTLV pode causar uma mielopatia? E o mais importante, sabe em quais pacientes investigar esse vírus?

Muito provavelmente você já tenha ouvido sobre o HTLV (vírus T-linfotrópico humano), mas você ainda se lembra desse vírus? Sabe que ele pode causar uma mielopatia? E o mais importante, sabe em quais pacientes investigar esse vírus?

HTLV

HTLV: o que é como acontece a transmissão?

Ele é um retrovírus, assim como o HIV, descrito pela primeira vez na década de 1980 e que pode ser dividido em quatro grupos: HTLV-1, HTLV-2, HTLV-3 e HTLV-4. Enquanto o HTLV-1 é causa reconhecida de diferentes doenças, o HTLV-2 pode causar mielopatia ou outras doenças inflamatórias, mas não há associação considerada definitiva

A transmissão do vírus ocorre da mãe infectada para o bebê, a chamada transmissão vertical, principalmente pelo aleitamento materno. A testagem no pré-natal, infelizmente, ainda não é obrigatória no nosso país como um todo, mas já é uma realidade na Bahia e em centros de referência. Outras possíveis formas de infecção são as vias: sexual e sanguínea, esta pelo compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas, uma vez que a testagem em bancos de sangue já é obrigatória no Brasil desde 1993.

Diagnóstico

A maioria das pessoas infectadas não apresenta sinais e sintomas. Dos infectados pelo HTLV-1 entre 3 e 5% apresentaram alguma doença associada ao vírus, entre elas: doenças neurológicas, como a mielopatia, hematológicas (leucemia/linfoma), oftalmológicas, dermatológicas e urológicas.  A frequência de doenças associadas ao HTLV-2 não é tão bem definida, mas as evidências apontam para associação entre esse vírus e o desenvolvimento de mielopatia, artrite e pneumonite. Até o momento, não há evidências de que o HTLV-2 esteja associado a neoplasias hematológicas.

Para os pacientes sintomáticos com doença neurológica o mais comum é o quadro de dor lombar, com ou sem irradiação para membros inferiores e acometimento motor nas pernas, associado à rigidez muscular, a paraparesia espástica. Pode acontecer também, comumente, alteração urinária ou fecal, tanto incontinência como retenção, e disfunção sexual. Outras apresentações clínicas neurológicas, mas menos frequentes, que também podem acontecer são: alteração cognitiva, depressão, polineuropatia, doença do neurônio motor e disautonomia.

O diagnóstico é feito por meio de testes de triagem, como ensaio imunoenzimático [ELISA] e, em caso de resultado positivo é feito o teste confirmatório. Os testes confirmatórios são a sorologia, como o western blot, ou o exame molecular, como a reação em cadeia da polimerase – PCR. Especificamente em relação à mielopatia, é obrigatório realização de punção lombar para coleta de líquido cefalorraquidiano e imunologia para o HTLV reagente, além de exclusão de diagnósticos diferenciais, como sífilis.

Tratamento

Até o momento, não existe tratamento específico para o HTLV, o que se trata são os sintomas apresentados, bem como a inflamação envolvida na patogênese da mielopatia, com o uso de corticóides, seja com pulsoterapia com metilprednisolona a cada 6 semanas ou com prednisona via oral em dose baixa diariamente.  Assim o acompanhamento médico regular se faz necessário, pois o especialista pode diagnosticar e intervir precocemente quando identificada alguma doença associada ao HTLV.

Apesar de não haver tratamento específico para o HTLV, seu reconhecimento é de suma importância. A identificação de um paciente abre a possibilidade de orientação sobre formas de prevenir a transmissão do vírus, como evitar o aleitamento, e de testagem dos seus parentes, com possibilidade de detecção de pessoas assintomáticas, o que vai reduzir a transmissão da doença.

Lembra aquele seu paciente com uma dor lombar crônica? E se for HTLV-1?

Boa investigação clínica.

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Referências bibliográficas:

  • Araujo A, Charles R.M. Bangham CRM,Casseb J, Gotuzzo E, MD, Jacobson S, Martin F, Oliveira AP, MD, Puccioni-Sohler M, Graham GP, Yamano Y, on behalf of the International Retrovirology Association. Management of HAM/TSP Systematic review and consensus-based recommendations 2019. Neurology: Clinical Practice. 0:1–8.
  • Tanajura D, Castro N, Oliveira P, et al. Neurological Manifestations in Human T-Cell Lymphotropic Virus Type 1 (HTLV-1)-Infected Individuals Without HTLV-1-Associated Myelopathy/Tropical Spastic Paraparesis: A Longitudinal Cohort Study. Clin Infect Dis Off Publ Infect Dis Soc Am. 2015;61:49–56.
  • Coordenação-Geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis (CGIST/DCCI/SVS): Carolina Rosadas, Angélica Espinosa Miranda, Denise Utsch Gonçalves, Adele Caterino-de-Araujo, Tatiane Assone, Ricardo Ishak. Prevalência da infecção por HTLV-1/2 no Brasil – Boletim Epidemiológico, vol 51, número 48. Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde; 2020.

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