Monkeypox: como os hospitais podem prevenir a disseminação da doença no Brasil?

No dia 8 de junho foi confirmado o primeiro caso de monkeypox no Brasil, desde então, mais de 1.370 casos da doença já foram identificados.

Para evitar um número muito maior de novas contaminações por Monkeypox, medidas e protocolos de segurança precisam ser urgentemente adotados em todos os serviços de saúde e reforçados juntos a todos os profissionais da equipe.

Segundo recomendações do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP) para o controle da enfermidade, os gestores de saúde devem implementar um plano de contingência com ações estratégicas para enfrentamento de possíveis novos casos de varíola dos macacos.

É indicado ainda que a vigilância seja estruturada e atue, preferencialmente, em conjunto com o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), sempre mantendo um bom fluxo de comunicação, como definir e treinar protocolos para identificar possíveis pontos de melhoria contínua.

Leia também: Monkeypox: Nota técnica do Ministério da Saúde traz orientações para profissionais da saúde darem aos pacientes

Em caso de suspeita de contaminação, os cuidados recomendados são os conhecidos universalmente, ou seja, isolamento e uso de equipamentos de segurança, como máscaras, gorros e aventais. Além disso, é necessário realizar uma quarentena de 21 dias.

“Os profissionais da saúde têm duas vantagens no combate à varíola dos macacos A primeira é que sabemos o mecanismo de transmissão e o que precisa ser feito. A segunda vantagem é que, desde 2019, já temos uma vacina para a doença. Nos países onde há maior número de casos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já está liberando o imunizante, principalmente para os profissionais de saúde”, destacou um dos fundadores e diretor-executivo do IBSP, o infectologista José Branco, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Por outro lado, o especialista lembrou que, apesar da enfermidade, em geral, se apresentar de forma branda, ainda não sabemos como ela se comporta em pacientes imunodebilitados, como aqueles com síndrome da imunodeficiência humana e câncer.

“O que precisamos é identificar o mais rapidamente possível esses pacientes. Os hospitais, em sua maioria, estão preparados para combater a disseminação da doença, uma vez que as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) já têm essas questões bem definidas, no sentido que, ao ser identificado um paciente com varíola dos macacos ou doença similar, nós já usamos as precauções universais”, ressaltou José Branco.

Monkeypox como os hospitais podem prevenir a disseminação da doença no Brasil

Cuidados com roupas de cama, toalhas e descarte de curativos

É fundamental enfatizar a importância dos pacientes permanecerem de máscara, se possível, cirúrgica – principalmente se apresentarem lesões na boca ou estiverem tossindo.

Os profissionais de saúde também devem evitar o contato pele a pele, sempre que possível, e usar luvas descartáveis se tiver qualquer contato direto com lesões. Usar máscara e luvas até mesmo ao manusear roupas de cama e toalhas ou quaisquer outros itens ou superfícies que tenham sido tocadas ou que possam ter entrado em contato com as erupções cutâneas ou secreções respiratórias dos pacientes.

É recomendado ainda lavar regularmente as mãos com água e sabão ou friccionadas com gel à base de álcool. Lavar as roupas, toalhas, lençóis e utensílios de alimentação da pessoa infectada com água morna e detergente. Limpar e desinfetar todas as superfícies contaminadas, além do descarte dos resíduos contaminados (curativos, por exemplo) de forma adequada.

Brasil falha no enfrentamento da varíola dos macacos (monkeypox)

Com quase 1.400 casos confirmados de varíola dos macacos, epidemiologistas de seis instituições de ensino, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), afirmam que o Brasil enfrenta falta de estrutura laboratorial para diagnósticos rápidos, baixa capacidade de identificação de casos pelos serviços de vigilância, capacitação insuficiente dos profissionais de saúde e dificuldades de isolamento dos casos confirmados e suspeitos.

Os pesquisadores publicaram um artigo enfatizando a preocupação com a negligência e a lentidão do governo federal em relação ao enfrentamento da doença, como o fato do país ainda não ter um “sistema de informação transparente, ágil e apto para o registro dos casos confirmados e suspeitos, considerando os aspectos clínicos, epidemiológicos e sociodemográficos”.

Outro ponto identificado entre os pesquisadores é a pouca quantidade de laboratórios de referência para o diagnóstico do vírus Monkeypox. Atualmente, o Brasil conta somente com quatro locais para a análise das amostras suspeitas da enfermidade – todos localizados na região Sudeste.

A falta de protocolos clínicos e de diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde é mais um agravante neste cenário, na visão dos epidemiologistas.

É nítido que estamos identificando poucos casos. É preciso acontecer uma campanha rapidamente, principalmente para os grupos de risco, como os homens que fazem sexo com homens. É necessário que haja uma conscientização para que possamos identificar esses pacientes e colocá-los em isolamento de duas a quatro semanas, pois assim conseguiremos diminuir a disseminação da doença. Não existe uma coordenação do Ministério da Saúde, semelhante como ocorreu com a pandemia de Covid-19”, enfatizou José Branco.

Estigma da doença

Atualmente, 95% dos casos de varíola dos macacos estão sendo identificados no grupo de homens que fazem sexo com homens. Segundo aponta o diretor-executivo do IBSP., parte disso é consequência dos centros de saúde europeus, que incentivam essa parcela da população a procurar atendimento, o que fez com que a enfermidade começasse a ser identificada nesse grupo.

“É importante frisar que o vírus Monkeypox não fica restrito a esse grupo e se continuarmos com essa atual política de não isolamento do paciente infectado, ele pode infectar seus familiares e outras pessoas que tiveram contato. Infelizmente, estamos perdendo essa janela da disseminação, à medida que a doença se dissemina muito rápido, começa a infectar crianças, pessoas imunodeprimidas, mulheres grávidas, nas quais a evolução da doença pode ocorrer de forma mais grave”, alertou o infectologista.

Para o presidente do conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e presidente Institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), o oftalmologista Claudio Lottenberg, é fundamental lembrar que ainda não sabemos se o vírus é transmitido por vias de transmissão sexual (sêmen ou fluidos vaginais, por exemplo), ou apenas pelo contato direto da pele com a pele com lesões durante a atividade sexual.

“O risco de contrair a varíola dos macacos não está limitado a pessoas sexualmente ativas ou homens que fazem sexo com homens. Qualquer pessoa que tenha contato físico próximo com alguém doente está em risco”, explicou Claudio Lottenberg, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein possui um protocolo de manejo de monkeypox com orientações e dados relevantes sobre a doença, válido tanto para suas unidades privadas como públicas.

O documento, que está em sua quarta edição, é constantemente atualizado com base em novas informações publicadas pelos órgãos de saúde, e pode ser utilizado por qualquer instituição hospitalar do país. O protocolo de manejo está disponível neste link.

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