Monkeypox: O que precisamos saber sobre a varíola do macaco?

Nos últimos dias, um aumento rápido no número de casos de varíola do macaco vem sendo observado em diversos países do mundo.

Nos últimos dias, um aumento rápido no número de casos de monkeypox — ou varíola do macaco — vem sendo observado em diversos países do mundo. A possibilidade de uma nova pandemia levantou o alerta das autoridades sanitárias mundiais e é importante que os profissionais de saúde conheçam essa condição para pronto reconhecimento.

Monkeypox: o que precisamos saber sobre a varíola do macaco?

Monkeypox: o que é?

Conhecida como varíola do macaco, monkeypox é uma zoonose causada pelo Monkeypox virus, um vírus do gênero Orthopoxvirus, pertencente à família Poxviridae. A essa família, também pertencem os vírus da varíola e o vírus Vaccinia, a partir do qual a vacina contra varíola foi desenvolvida.

Após a erradicação da varíola em 1980 e a interrupção da vacinação, infecções por Monkeypox virus tornaram-se a orthopoxvirose de maior importância para a saúde pública mundialmente, com casos esporádicos localizados principalmente nas regiões central e oeste da África. Duas variantes distintas foram descritas nessas regiões, com a variante da África Central sendo historicamente associada a doença mais grave e mais transmissível, com uma taxa de fatalidade de aproximadamente 10,6% quando comparada com uma taxa de 3,6% associada à variante da África Ocidental.

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Epidemiologia atual

Até 2003, não havia registro de casos de varíola do macaco fora da África. Entretanto, nos últimos anos, alguns surtos vêm sendo descritos. Desde 13 de maio de 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem sendo notificada da ocorrência de diversos casos em países não endêmicos.

Segundo relatório oficial da OMS, até 29 de maio de 2022, foram confirmados laboratorialmente 257 casos em 20 países considerados não endêmicos para a doença. Até o momento, nenhuma morte associada à doença foi registrada. Todos os casos foram identificados como sendo da variante da África Ocidental, mas não foram estabelecidos links com viagens a áreas endêmicas.

Os países mais afetados até o momento são Portugal, Espanha e Reino Unido, mas casos confirmados já foram detectados na Austrália, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Itália, Holanda, Suécia e Estados Unidos da América.

No Brasil, o primeiro caso foi confirmado no dia 08 de junho, em São Paulo. No dia 6, o Ministério da Saúde divulgou que sete casos suspeitos da doença estavam sendo investigados. As notificações foram nos estados de Santa Catarina (1), Ceará (1), Mato Grosso do Sul (1), Rio Grande do Sul (1), Rondônia (2) e São Paulo (1).

Quadro clínico

O período de incubação da doença é de 6 a 13 dias, podendo variar de 5 a 21 dias. A infecção pode apresentar duas fases. A primeira — denominada fase de invasão — pode cursar com febre, cefaleia, linfonodomegalia, dor lombar, mialgia e astenia intensa, e tem duração de até 5 dias. A presença de linfonodomegalia é um diferencial entre outras doenças semelhantes, ocorrendo principalmente nas cadeias submandibular, cervical e sublingual.

Após essa primeira fase, desenvolvem-se as lesões cutâneas características, geralmente 1 a 3 dias após o início da febre. As lesões tendem a se concentrar na face (95% dos casos) e extremidades, como palmas e plantas (75% dos casos). Também podem afetar mucosa oral (70%), genitálias (30%) e conjuntivas (20%), assim como a córnea.

A progressão das lesões obedece ao padrão de máculas que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas, semelhante às vistas em casos de varíola. Em casos graves, as lesões podem coalescer, afetando grandes áreas de pele.

A varíola do macaco geralmente é autolimitada, podendo durar 2 a 4 semanas, porém podem ocorrer complicações, mais frequentemente infecções bacterianas de pele secundárias, doenças respiratórias e gastrointestinais, e ceratite, mas casos de encefalite também já foram descritos. Os casos tendem a ser mais graves em crianças e gestantes e imunossupressão parece estar associada a piores desfechos.

A taxa de letalidade tem historicamente variado de 0 a 11% na população geral, sendo maior em crianças pequenas. Mais recentemente, as taxas de letalidade têm ficado entre 3 a 6%.

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Transmissão

Apesar de inicialmente descrita em macacos, o reservatório natural do monkeypox virus ainda não identificado, mas esse papel é mais provavelmente exercido por roedores silvestres. A transmissão para humanos pode se dar por meio de contato direto com sangue, fluidos corporais e lesões cutâneas e mucosas de animais infectados. A ingestão de carne malcozida e outros produtos animais contaminados parece também ser fator de risco.

A transmissão pessoa a pessoa ocorre por meio de contato direto com secreções respiratórias, lesões cutâneas ou objetos recentemente contaminados. Estudos têm demonstrado uma taxa de ataque secundário de 9% entre indivíduos infectados e seus contatos domiciliares, o que indica uma doença menos transmissível do que varíola. A transmissão por gotículas necessita de contato prolongado, estando contatos próximos e profissionais de saúde sob maior risco.

Transmissão vertical também é possível, seja por via placentária ou por contato durante o parto. Não se sabe se a via sexual é uma forma de transmissão significativa, apesar de contato físico próximo ser um fator de risco bem estabelecido.

Diagnóstico

Atualmente, o diagnóstico de certeza pode ser estabelecido por meio de técnicas moleculares de PCR realizadas em amostras de lesões cutâneas, idealmente fluidos das vesículas e vesículas ou das crostas secas. Como a doença apresenta período curto de viremia, não se recomenda realização de PCR sérico. Biópsias de pele também são uma alternativa diagnóstica. A realização de sorologia não é recomendada como ferramenta diagnóstica.

Tratamento e prevenção

O tratamento é baseado em medidas de suporte com o objetivo de aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações e prevenir sequelas a longo prazo. O antiviral tecovirimat está aprovado na Europa e nos Estados Unidos para uso contra orthopoxvirus, mas esse medicamento ainda não está amplamente disponível e seu uso é recomendado no contexto de ensaios clínicos.

Para países não endêmicos, a OMS define como caso suspeito:

  • Indivíduo em país não endêmico para varíola do macaco com rash agudo

E

  • Um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: cefaleia, febre (Tax > 38,5 °C) de início agudo, linfonodomegalia, mialgia, dor lombar ou astenia

E

  • Em que outras causas comuns de rash cutâneo agudo não expliquem o caso clínico: catapora, herpes zoster, sarampo, dengue, chikungunya, herpes simplex, infecções bacterianas de pele, infecção gonocócica disseminada, sífilis primária ou secundária, cancroide, linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal, molusco contagioso e reações alérgicas.

Pacientes com casos suspeitos ou conformados devem ser permanecer sob precaução padrão e respiratória. Para procedimentos geradores de aerossóis, recomenda-se uso de N95. Vacinação contra varíola é altamente eficaz e pode ser utilizada como profilaxia pós-exposição, porém sua disponibilidade atualmente é muito limitada.

Mensagens práticas

  • Casos de varíola dos macacos (monkeypox) vêm sendo reportados em diversos países não endêmicos da doença, sendo uma potencial ameaça para a saúde global.
  • A fase inicial é marcada pela presença de febre, cefaleia, linfonodomegalia, dor lombar, mialgia e astenia. A linfonodomegalia é um importante marcador clínico para diferenciar casos de varíola dos macacos de outras doenças como varíola (no momento considerada erradicada) e catapora.
  • O rash clássico constitui-se de máculas que progridem para pápulas e vesículas e posteriormente crostas.
  • O tratamento é essencialmente de suporte, com foco em alívio sintomático e tratamento de complicações. No ambiente hospitalar, recomenda-se adoção de precauções de contato e respiratória, com proteção adequada para o caso de procedimentos com potencial para gerar aerossóis.

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