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Tempo de leitura: 3 minutos.
A asma afeta pelo menos 13% das crianças na população em geral e até 300 milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por inflamação das vias aéreas e episódios recorrentes de sibilância, tosse, dispneia e aperto no peito, sendo geralmente tratada com uma combinação de terapia de manutenção de longo prazo (medicamentos de manutenção) e terapia de curto prazo para o alívio dos sintomas agudos (medicamentos de alívio).
Os antagonistas dos receptores de leucotrienos (leukotriene receptor antagonists – LTRA), incluindo o montelucaste, são uma classe de medicamentos de manutenção. Os LTRA inibem os mediadores inflamatórios do broncoespasmo e são prescritos, principalmente, como terapia adjuvante aos corticosteroides inalatórios em pacientes com asma moderada a grave, embora possam também ser prescritos como uma alternativa aos corticosteroides inalatórios na asma persistente leve. Somente nos Estados Unidos, 2,6 milhões de crianças com menos de 16 anos de idade receberam prescrições de montelucaste em 2013.
Em 2009, o Food and Drug Administration (FDA) anunciou uma mudança no rótulo do montelucaste, incluindo uma advertência em relação a possível ocorrência de eventos neuropsiquiátricos. Após esta advertência, alguns casos foram notificados no Sistema de Notificação de Eventos Adversos do FDA. Estes eventos incluíram: depressão, ansiedade, distúrbios do sono, agressividade/agitação, ideação suicida, tentativas de suicídio e/ou suicídio consumado.
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Estudo sobre o Montelucaste
Dessa forma, para avaliar a associação entre a prescrição de montelucaste e a ocorrência de eventos neuropsiquiátricos em crianças com asma, Glockler-Lauf e colaboradores (2019) conduziram o estudo Montelukast and Neuropsychiatric Events in Children with Asthma: A Nested Case–Control Study, realizado na província de Ontário, Canadá.
O estudo consistiu em um caso-controle combinado e aninhado usado para identificar casos e controles de uma coorte de crianças de 5 a 18 anos com asma diagnosticada no período de 2004 a 2015, em Ontário, Canadá, e em uso de medicamentos de manutenção. Crianças com histórico de ida ao setor de emergência ou internação em decorrência de um evento neuropsiquiátrico foram consideradas casos.
Os casos foram pareados com até 4 controles por ano de nascimento, ano de diagnóstico da asma e sexo. As exposições foram as prescrições para montelucaste (sim/não) e o número de prescrições de montelucaste dispensadas no ano anterior à data índice. Regressão logística condicional foi usada para medir a odds ratio não ajustada (OR) e ajustada (aOR) com um intervalo de confiança (IC) de 95% para a prescrição de montelucaste e a ocorrência eventos neuropsiquiátricos. As covariáveis no modelo incluíram fatores sociodemográficos e medidas de gravidade da asma.
Um total de 898 casos com um evento neuropsiquiátrico e 3497 controles foram incluídos. As crianças que experimentaram um evento neuropsiquiátrico de início recente apresentaram quase duas vezes mais chances de terem feito uso de montelucaste, em comparação com os controles (OR 1,91, IC 95% 1,15-3,18; p = 0,01). A maioria dos casos consistiu em ansiedade (48,6%) e/ou distúrbio do sono (26,1%). Outras complicações neuropsiquiátricas incluíram: alterações de humor (17%), transtornos relacionados ao uso/abuso de substâncias (11%), alterações de personalidade (1,6%), esquizofrenia (1,4%) e agitação (1,3%).
Conclusão do estudo
Portanto, de acordo com este estudo, as crianças que utilizaram montelucaste para terapia de manutenção na asma tiveram quase o dobro de chances de complicações neuropsiquiátricas comparadas àquelas que fizeram uso de outros medicamentos. O FDA’s Pediatric Advisory Committee já havia também discutido o uso do montelucaste em crianças em 2014. Este comitê, assim como os autores do presente estudo, recomenda o aumento da conscientização dos pediatras sobre a possibilidade da ocorrência destes eventos em crianças que fazem uso de montelucaste e da necessidade da monitoração contínua em pacientes pediátricos que utilizam este medicamento.
Autora:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referências:
- Glockler-Lauf SD, et al. Montelukast and Neuropsychiatric Events in Children with Asthma: A Nested Case–Control Study. J Pediatr,v.209, p. 176–182.e4, 2019.