Morte encefálica: faz sentido um anestesista em uma cirurgia para doação de órgãos?

A anestesia é usada para amenizar a resposta fisiológica resultante da morte encefálica e otimizar as condições específicas.

Em torno do conceito de morte encefálica podem existir discussões quando algumas premissas não estão bem estabelecidas – quando a mídia divulga casos de processos jurídicos de alcance nacional, as distorções podem ainda ser maiores. Uma vez que a data e hora do óbito já estão definidas, por exemplo, poderia existir o seguinte questionamento: é dispensável a presença de um anestesiologista na cirurgia de captação de órgãos?

morte encefálica

Manejo

O manejo dos órgãos do doador falecido acontece inicialmente na unidade de terapia intensiva, continua no centro-cirúrgico durante o procedimento e vai além do controle hemodinâmico. O Brasil possui o maior sistema público de transplante do mundo. Aqui, a grande maioria dos órgãos transplantados são provenientes de doadores falecidos – ao anestesiologista cabe a responsabilidade primária não de controlar a dor, mas manter a oxigenação e perfusão dos órgãos até sua retirada.

A anestesia é usada para amenizar a resposta fisiológica resultante da morte encefálica e otimizar as condições de transplantabilidade específicas. Durante o procedimento, é importante, de forma geral, corrigir distúrbios hidro-eletrolíticos, manejar balanço hídrico (utilizando cristaloides ou coloide como albumina – amidos devem ser evitados), manter adequados os parâmetros de pressão arterial média (início de vasopressina em bolus ou infusão contínua visando tratar a vasoplegia, o que auxiliaria também no tratamento do Diabetes insipidus, distúrbio endócrino comum nesse contexto) e de débito urinário, fazer controle glicêmico, controlar reflexos simpáticos e efetuar o bloqueio neuromuscular, indicar transfusão de hemocomponentes e hemoderivados quanto necessário.

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Contexto nacional

Infelizmente, esbarramos no Brasil com os problemas de saúde pública fazendo com que muitas vezes a otimização do doador não ocorra devido, por exemplo, à escassez na reserva nos Bancos de Sangue ou a falta de medicações ou monitorização adequada.

Além das medidas citadas, a partir do momento em que se conhece quais órgãos serão captados, existem estratégias específicas a serem utilizadas.

Na captação de pulmões, por exemplo, objetiva-se balanço hídrico negativo ou equilibrado além de parâmetros específicos de volume corrente (Vt), Peep, FiO2 visando ventilação mecânica protetora a fim de que a injuria pulmonar e a modulação inflamatória sejam minimizadas levando a melhores desfechos  no paciente receptor. A equipe cirúrgica pode solicitar manobras específicas utilizando a ventilação mecânica para avaliar adequadamente o órgão. Pacientes muito hidratados também prejudicam a condição de outros órgãos como fígado e coração. Existem evidências de sobre o efeito cardioprotetor de pré-condicionamento isquêmico, também nesses casos, com o uso de anestésicos inalatórios.

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Conclusão

Diante disso, fica bem esclarecido que a capacitação dada ao médico especialista em anestesia se enquadra na complexidade do cuidado com o doador falecido para que seja manejado da melhor forma a fim de beneficiar os diversos pacientes receptores seus órgãos.

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