Nem toda complicação de lentes de contato é infecção

Milhões de pessoas usam lentes de contato, nos EUA pelo menos 1/3 dos usuários já teve alguma complicação relacionada ao uso de lentes.

Milhões de pessoas usam lentes de contato, nos EUA pelo menos 1/3 dos usuários já teve alguma complicação relacionada ao uso de lentes que o obrigou a procurar um médico. O serviço básico de saúde e a emergência muitas vezes são os primeiros a serem procurados. Apesar de muitas condições realmente necessitarem da avaliação do oftalmologista, a familiaridade com essas complicações pelos profissionais generalistas pode auxiliar no diagnóstico rápido e pronto tratamento. Mas nem todas complicações de lentes de contato são infecções. Quais são as complicações não infecciosas relacionadas ao uso de lentes de contato que devemos estar atentos?

Leia também: É seguro o uso de lentes de contato gelatinosas em crianças?

Nem toda complicação de lente de contato é infecção

Olho seco

É comum o olho seco relacionado as lentes de contato e é a razão mais frequente para que os pacientes parem de usar as lentes. Pode ser piorado por uma qualidade do filme lacrimal ruim, hipóxia, depósitos nas lentes e incompatibilidade com a solução de limpeza.

Infiltrados corneanos estéreis

Pequenos infiltrados múltiplos contendo células inflamatórias podem se acumular no estroma anterior corneano. São brancos, periféricos, próximos ao limbo, geralmente assintomáticos, mas podem causar dor, desconforto, lacrimejamento e fotofobia. Podem ser resultado de acúmulo de detritos, toxicidade química, hipóxia, hipersensibilidade e uso prolongado das lentes. Além disso podem estar associados à reação imune a exotoxinas de estafilococos que colonizam as glândulas sebáceas da pálpebra (ceratite marginal estafilocócica). Deve ser referenciada para que o oftalmologista diferencie de infiltrados infecciosos e inicie corticoides quando indicado. Geralmente respondem a curtos ciclos de corticoide e a suspensão do uso das lentes temporárias, com tratamento concomitante da superfície ocular.

Alterações do epitélio da córnea

Podem ser vistos corando com fluoresceína. Ceratites punctatas leves são comuns, geralmente assintomáticas. Podem ser causadas por uma adaptação ruim das lentes, hipóxia, toxicidade do produto de limpeza, depósitos, blefarite, olho seco e fechamento palpebral incompleto. Defeitos maiores podem causar dor, lacrimejamento, olho vermelho, fotofobia e embaçamento visual.

Abrasão corneana mecânica

Pode ser resultado de uma inserção ou remoção traumática das lentes, rasgos ou arranhões nas lentes, corpo estranho grudado nas lentes. Geralmente é doloroso e é um fator de risco para ceratite infecciosa. As lentes devem ser suspensas e em muitos casos são prescritos anti-inflamatórios para dor.

Hipóxia

A diminuição da oxigenação é pior durante a noite, com as pálpebras fechadas. Mas alguns pacientes que não utilizam durante a noite, utilizando lentes de baixa oxigenação ou apertadas ou por muitas horas podem ter sinais de hipóxia. Resulta em edema microcístico e ceratite punctata, edema estromal, embaçamento visual, fotofobia e hiperemia conjuntival. A hipóxia crônica pode levar a neovascularização superficial e profunda, especialmente do limbo superior. Pode ser necessária a readaptação de lentes de mais alta permeabilidade e melhor relação lentes/córnea.

Reações imunes e tóxicas

As soluções de limpeza das lentes podem produzir reações imunes e tóxicas no epitélio corneano. Essas reações resultam em ceratite punctata superficial difusa, erosões epiteliais, pseudodendritos e hiperemia conjuntival. Em muitos casos as soluções de limpeza devem ser trocadas ou deve ser readaptada uma lente de descarte diário (que não necessita do uso de soluções).

Saiba mais: Robô que insere e retira lentes de contato de paciente é uma realidade próxima

Ceratoconjuntivite límbica superior

O quadro clássico, associado com olho seco ou doença autoimune da tireoide, se apresenta com lacrimejamento, queimação, sensação de corpo estranho, fotofobia leve e secreção mucosa. A conjuntiva palpebral e bulbar superior são hiperemiadas e queratinizadas com punctata conjuntival superior corando. O uso de lentes de contato gelatinosas pode resultar em manifestações da ceratoconjuntivite porém sem ceratite filamentar e a ceratite pode ser estender para a córnea central. É indicado suspender o uso das lentes até que a superfície volte ao normal e readaptar lentes de contato rígidas se possível.

Síndrome da lente apertada

Lentes apertadas podem causar dor, embaçamento visual, olho vermelho e fotofobia. Geralmente são imóveis e difíceis de remover. Pode ter ceratite epitelial, edema estromal com infiltrados periféricos, reação inflamatória de câmara anterior e hiperemia conjuntival. Os sinais se resolvem após alguns dias sem lentes. Pode ser necessário utilizar lubrificantes e corticoides tópicos. Deve ser feita uma nova adaptação de lentes de contato com melhor padrão lentes/córnea.

Lentes de contato deslocadas

A lente pode migrar para embaixo da pálpebra superior e ficar no fórnice, causando dor, irritação, hiperemia e edema palpebral. Deve ser feita eversão da pálpebra para remover as lentes.

Conjuntivite papilar gigante

Reação da conjuntiva palpebral ao movimento em cima de um corpo estranho como uma lente de contato associado a sensação de corpo estranho e formação de papilas gigantes (> 1 mm). Ocorre tanto em lentes rígidas quanto em lentes gelatinosas.

Complicações endoteliais

A hipóxia crônica pode causar alterações morfológicas permanentes como a redução da densidade de células endoteliais. Essas células geralmente evitam que a córnea fique com edema, mantendo a transparência corneana. Em alguns casos a lente precisa ser readaptada, trocando o tipo de lente para um de maior oxigenação. O número de horas de uso também pode ser diminuído em alguns casos.

Deficiência de células tronco límbicas

As células tronco residem no limbo (transição córneoescleral) e tem a função de manter e regenerar o epitélio corneano, servindo como barreira para prevenir que o epitélio conjuntival invada a córnea. A deficiência límbica pode resultar de trauma crônico e hipóxia associada ao uso de lentes de contato. 2.4% a 5% dos usuários desenvolvem sinais de deficiência límbica durante o uso, a maioria sendo usuário de lentes gelatinosas. Os sinais e sintomas são diminuição da visão, olho seco, hiperemia conjuntival, irritação, fotofobia e dor. Em estágios iniciais pode ser assintomático. O uso das lentes deve ser suspenso. São prescritos lubrificantes e em alguns casos corticoides, ciclosporina ou soro autólogo. Em todos os casos é necessário reavaliar o padrão das lentes de contato e após o quadro inicial tratado, readaptar outras lentes de maior oxigenação ou em muitos casos lentes rígidas.

Referências bibliográficas:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.