Neoplasia intraepitelial cervical: biópsias cervicais versus excisão da zona de transformação

No Brasil, o rastreio dessa neoplasia é feito com o exame citopatológico, que deve ser complementado com a colposcopia e biópsia dirigida.

Câncer de colo de útero é o quarto tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo todo, apresentando uma maior morbidade e mortalidade em mulheres mais velhas. No Brasil, o rastreio dessa neoplasia é feito com o exame citopatológico, que quando alterado deve ser complementado com a colposcopia e biópsia dirigida, obtendo um diagnóstico histológico.

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Em mulheres mais velhas, especialmente no período pós-menopausa, podemos encontrar uma atrofia do epitélio cervical e a não visualização da junção escamo colunar (JEC), o que chamamos de zona de transformação do tipo 3 (ZT3).

Um artigo aceito para publicação em 2022 no British Journal of Obstetrics and Gynaecology comparou a realização de biópsias cervicais com a excisão da ZT em mulheres com ZT3 e achados colposcópicos normais.

Neoplasia intraepitelial cervical biópsias cervicais versus excisão da zona de transformação

Metodologia

Trata-se de um estudo multicêntrico, desenvolvido na Dinamarca de 2019 a 2021. As mulheres recrutadas possuíam 45 anos ou mais de idade, apresentavam um exame de rastreio positivo para câncer de colo do útero e uma ZT3 na colposcopia.

Durante a colposcopia, se não fossem identificados achados colposcópicos anormais, era realizada uma coleta de citologia líquida do canal endocervical, seguida de quatro biópsias do colo do útero às cegas e posteriormente uma excisão da zona de transformação.

O desfecho primário do estudo foi o diagnóstico histopatológico de neoplasia intraepitelial cervical do tipo 2 (NIC2) ou de maior gravidade. Assim, foi analisado a concordância do diagnóstico entre os dois procedimentos (biópsias às cegas vs excisão da ZT).

Resultados

Foram elegíveis 166 mulheres, porém foi possível a coleta de todos os dados necessários em apenas 102. A mediana de idade foi 67,6 anos e 94,1% delas estavam no pós-menopausa.

Quinze mulheres (14%) apresentaram achados anormais à colposcopia. As demais mulheres foram submetidas às biópsias às cegas e a excisão da ZT.

A detecção de lesões de menor grau que NIC 2 foram menos frequentes na excisão da ZT do que nas biópsias (67,7% vs 85%, p < 0,01), enquanto a detecção de lesões de maior grau que NIC2 foram mais frequentes (32,4% vs 14,7%, p < 0,01). Isto corresponde a 54,5% de casos de NIC2 ou mais perdidos quando optado pelas biópsias às cegas (IC 95%: 36, 4 – 71,9) e uma concordância entre os métodos de 82,4% (IC 95% : 73,6 – 89,2).

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Conclusões e mensagens práticas

Os autores concluíram que seus achados indicam um subdiagnóstico de lesões NIC2 ou de maior gravidade, em mulheres maiores de 45 anos, com ZT3 e ausência de achados colposcópicos anormais, quando utilizada a estratégia de biópsias às cegas. Isso se comparada a estratégia de excisão da ZT.

Algo que já possui recomendações semelhantes no Brasil. De acordo com as diretrizes brasileiras para rastreio do câncer do colo de útero, diante de uma alteração citológica que indique colposcopia, essa deve ser realizada. Na ausência de achados colposcopicos e JEC não visível (ZT3), recomenda-se a avaliação do canal endocervical. Se essa avaliação mantiver a suspeita citológica, procede-se a excisão da zona de transformação do tipo 3.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Gustafson LW, et al. Cervical intraepithelial neoplasia in women with transformation zone type 3: cervical biopsy versus large loop excision. BJOG. 2022. DOI: 10.1111/1471-0528.17200.