Neurologia: o poder e a singularidade da semiologia

Todo dia traremos para você a visão de um especialista sobre sua respectiva área! Hoje é dia de falar sobre Neurologia com Dr. Henrique Cal.

Dando sequência a nossa série de artigos sobre as especialidades da Medicina, hoje o Dr. Henrique Cal fala sobre a Neurologia.

1) O que é?

A Neurologia trata das condições clínicas que envolvem o sistema nervoso central e periférico: cefaleias, doenças cerebrovasculares, distúrbios do movimento (Parkinson, tremores, etc), demências e outras alterações cognitivas, doenças desmielinizantes (como a Esclerose Múltipla), afecções neuromusculares e epilepsias em geral, além de lidar muitas vezes com infecções do SNC. Mais recentemente, a Medicina do Sono é outra área que contempla a Neurologia.

Após a graduação, um médico pode se tornar neurologista se cursar um programa de Residência Médica ou, em alguns casos, uma Pós-Graduação com estrutura equivalente à Residência e reconhecida oficialmente como tal; após esta formação é recomendado que se proceda à Prova de Título da Academia Brasileira de Neurologia.

2) Como é o dia a dia?

A rotina varia um bocado de acordo com o tipo de atuação e o local de trabalho; por exemplo, alguns lidam mais com pareceres pontuais e outros acompanham pacientes crônicos.

De modo geral, alguns aspectos de destaque desta especialidade são:

  • Desafios: é comum haver situações complexas do ponto de vista diagnóstico e terapêutico; um caso é sempre bem diferente do outro em suas nuances clínicas, sociais e emocionais, o que demanda estudo frequente, com revisões periódicas e atualizações constantes. Uma característica cada vez mais valorizada é que os neurologistas consigam oferecer uma assistência marcada pela resolutividade e pela clareza.
  • Condições potencialmente graves: muitas doenças afetam diretamente as atividades de vida diária do paciente e demandam que o médico aceite lidar com evoluções dramáticas.
  • Comprometimento: pelo caráter crônico de muitas doenças, geralmente o neurologista acaba se envolvendo muito com o paciente e sua família, o que pede um aprimoramento na relação médico-paciente, consultas com tempo estendido e fazer-se acessível quando surgem dúvidas e intercorrências.
  • Casos gratificantes: um bom neurologista faz a diferença, quando por exemplo: traz esclarecimentos que desfazem as apreensões acerca de uma hipótese de doença grave; desvenda um diagnóstico difícil, o que redireciona todo o encaminhamento de um paciente; conclui tratar-se de situação potencialmente reversível, descortinando, assim, um novo horizonte de qualidade de vida.

Aos que se dedicam a áreas mais dinâmicas, como tipicamente são as atuações em hospital, é frequente se lidar com a tensão de condições ameaçadoras da vida e de decisões críticas para a evolução do caso, que tornam a presença do neurologista fundamental no apoio aos outros médicos e no esclarecimento da família.

3) Oportunidades de trabalho:

Classicamente, o neurologista tem algum tipo de atuação ambulatorial (em hospitais públicos/universitários ou no consultório particular), mas uma tendência é que cada vez mais ele esteja presente também no hospital, com pareceres internados, plantões (em Unidades Neurointensivas e emergências neurológicas) ou sobreavisos para situações de trombólise em AVC agudo, por exemplo. Aos que aceitam se colocar à disposição para maior comodidade dos pacientes, as visitas domiciliares também são muito pertinentes no cenário de pessoas com problemas de locomoção ou nos muito idosos que apresentam alguma intercorrência neurológica.

Na assistência, há demanda por neurologistas tanto no meio público quanto no privado. Também ocorre o fenômeno de eles se concentrarem em grandes centros; mas há alguns lugares no interior já bem equipados (com Ressonância, por exemplo) para oferecer condições de trabalho razoáveis.

Outra oportunidade bem comum é o meio acadêmico, com a possibilidade da docência (aulas para graduação), de fazer mestrado/doutorado e também a participação em pesquisa, já que a Neurologia é uma das áreas médicas que domina o número de trabalhos científicos. Ainda, algumas indústrias farmacêuticas que atuam com medicações desta área têm contratado neurologistas como consultores científicos (“MSL” – Medical Science Liaison).

Por último, aos “outsiders” que topam caminhos mais alternativos, o crescente avanço na Tecnologia da Informação e as tão grandes demandas por inovação em áreas clínicas e na gestão de recursos são mais uma frente no leque de oportunidades para o neurologista que quiser participar de projetos inovadores.

4) Número de especialistas:

Existem 4.362 médicos com título de especialista pela ABN, sendo 59% homens.

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5) Curiosidade(s):

– A Neurologia é a 19ª especialidade médica mais praticada no país.

– A média de idade dos neurologistas era de cerca de 47 anos em 2015.

– O estado que menos tem neurologistas é o Amapá (03) e o que mais tem é São Paulo (1.290).

– Anestesiologia é a especialidade que mais médicos possuem também o Título de Neurologia.

6) Especialidades correlacionadas:

Psiquiatria e Neurocirurgia são especialidades que têm muito a ver com algumas áreas da Neurologia Clínica e frequentemente doenças de uma dessas especialidades precisam também ser abordadas pelo neurologista de algum modo.

Além disso, outras especialidades muito relacionadas são: Cardiologia, Reumatologia, Clínica Médica, Geriatria, Oftalmo e Otorrino. Lida-se muito também com outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas, fono e psicólogos.

7) Área de atuação:

Algumas subespecialidades e áreas de atuação:

  • Clínica da Dor e Medicina do Sono são duas áreas de atuação cada vez presentes nos cenários médicos, as quais no entanto precisam de uma formação específica (ainda não tão bem consolidada na maioria dos estados) e não são exclusivas do neurologista.
  • Neurohospitalismo, com questões neurovasculares, epilepsias, neurointensivismo e emergências neurológicas.
  • Neuropediatria: é preciso cursas uma nova residência nesta área, à parte.
  • Exames complementares: pode-se subespecializar em áreas como Eletroneuromiografia, Doppler transcraniano, Eletroencefalograma, biópsias musculares e de nervo periférico.
  • Neuroradiologia intervencionista: com as evidências recentes de benefício inquestionável da trombectomia mecânica no AVC agudo em casos selecionados, será cada vez mais pertinente a atuação do neurointervencionista. No Brasil, ainda é pouco comum que neurologistas clínicos sigam esta área (geralmente, esta função é ocupada por radiologistas ou neurocirurgiões), mas é bem provável que esta demanda cresça.

É forte a tendência à subespecialização mesmo considerando apenas a atuação puramente clínica do neurologista, devido ao ritmo galopante do conhecimento teórico e à heterogeneidade das afecções neurológicas – por exemplo, são bem distintas questões cognitivas de neuropatias periféricas, e condições agudas como neurotrauma de situações mais indolentes como as doenças neuroimunológicas.

Entendo que o neurologista devem se aproximar cada vez mais de áreas como Medicina Paliativa, Reabilitação (motora e cognitiva) e de Gestão do sistema de saúde, uma vez que as condições próprias desta especialidade envolve nuances muito particulares que impactam os custos e a logística do cuidado. Também será cada vez mais necessário o envolvimento do neurologista em questões éticas, principalmente porque o envelhecimento da população e avanço de tecnologia vão trazer questionamos acerca do grau de utilização de recursos diagnósticos e terapêuticos.

8) Mensagem para quem quer seguir essa especialidade:

Praticar a Neurologia é apaixonante porque cada caso é desafiador e, como há ainda muito o que se avançar na compreensão de alguns processos patológico e no manejo clínico de alguns tipos de pacientes, o profissional então torna-se protagonista na condução de muitos casos. Isso lhe traz a oportunidade de travar uma relação de confiança com o paciente e com os outros colegas médicos de outras especialidades que ele pode apoiar em diversas circunstâncias complexas.

A relevância do papel do neurologista tem a ver também com o poder e a singularidade da semiologia neurológica, que confere a essa especialidade um caráter ÚNICO, num CONTEXTO em que cada vez mais exames complementares são solicitados indiscriminadamente.

No entanto, essa arte médica que tanto atrai precisa cada vez mais se combinar com estabelecimento de protocolos e escalas de avaliação que tornem alguns aspectos mais objetivos, permitindo assim métricas que possibilitem alocar os esforços mais adequados ao cuidado destes pacientes. Por último, como ninguém trabalha sozinho, uma dica é que se escolha trabalhar em locais com recursos aceitáveis e uma rede multiprofissional qualificada, para otimizar ainda mais o acompanhamento das pessoas que sofrem de problemas neurológicos.

*Os artigos sobre as especialidades médicas foram produzidos em parceria com a Associação Nacional de Médicos Residentes

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