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Dentre as principais novidades de 2017 nas áreas da Neurologia e que podem impactar a prática médica, destacamos as seguintes:
Sobre AVC:
No cuidado agudo dos casos de AVC, um estudo recente apontou para benefícios em se realizar a trombectomia mecânica em alguns casos de início dos sintomas até 24h (trial “DAWN”, multicêntrico, internacional). Este procedimento, aplicado em oclusão de algum grande vaso cerebral, atualmente é usado apenas numa janela de até cerca de 6-7 horas. O novo trial incluiu pacientes com “Wake-up stroke” (que percebem o AVC ao acordar) e os que chegavam muito tarde na emergência – com instalação de sintomas entre 6 a 24 horas -, com mismatch clínico-radiológico (muito déficit ao exame neurológico, mas sem muitas alterações na ressonância). Teve de ser interrompido por eficácia e ganhou editorial do New England.
Agora, o desafio é implementar protocolos e toda a logística para que este benefício de fato chegue aos paciente de rede pública e privada. Até porque este ano foi publicada a Diretriz Brasileira de Trombectomia mecânica.
Ainda na área das doenças cerebrovasculares, o tão polêmico tema do forame oval patente (FOP) foi objeto de três grandes estudos (“CLOSE”, “RESPECT” e “REDUCE”). Até agora não haviam evidências para o real benefício do fechamento de FOPs na prevenção secundária de AVCs; mas voltou a ganhar relevância a possível indicação deste procedimento em alguns casos. No entanto, isto ainda precisa ser confirmado para ser de fato incrementado na prática de modo regular.
EPILEPSIA:
Uma nova classificação das crises convulsivas procurou simplificar e esclarecer alguns termos. Algumas mudanças foram:
- Não se usa mais “parcial”, e sim “focal”
- Em vez de “complexa” e “simples”, deve-se classificar as crises como “com comprometimento da consciência” ou “com consciência preservada”
- Evita-se o termo “secundariamente generalizada”
- Crise do tipo “grande mal” deve ser descrita como “generalizada tipo tônico-clônica” ou “crise de início focal para tônico-clônica generalizada”
- Crise “pequeno mal” deve ser chamada “generalizada tipo ausência”
SONO:
Uma pesquisa conduzida pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) trouxe alguns dados:
- A duração média de sono em nosso país é de 4h a 6h por dia.
- 65% dos entrevistados já apresentaram sonolência ao dirigir.
- 50% dos brasileiros já entrevistados teve que parar o veículo na estrada por causa do sono.
Um estudo americano publicado este ano acompanhou mais de 1.700 pacientes por 16 anos e mostrou provável relação entre tempo de sono e maior risco de morte no futuro por doenças cardiovasculares (por exemplo, infarto) e cerebrovasculares (AVC), além de problemas de memória e depressão.
Não só a quantidade de sono importa, mas também a qualidade: o estudo “Sleep characteristics and risk of dementia and Alzheimer’s disease” aplicou testes neuropsicológicos em mais de 1.000 pessoas com apneia do sono e mostrou que a gravidade desta condição associou-se ao aumento do risco tanto quadros demenciais como a doença de Alzheimer.
ALZHEIMER:
Uma metanálise sugeriu que donepezila associado a memantina pode ser mais eficaz do que cada um isolado: houve benefício nos sintomas cognitivos (como perda de memória) e também nos sintomas comportamentais (como apatia).
DOENÇAS NEUROMUSCULARES:
No Brasil, a ANVISA liberou a medicação nusinersena para atrofia muscular espinhal (AME): atuando a nível genético, foi associado a melhora motora e de parâmetros respiratórios, embora ainda não haja tratamento curativo. A AME é uma patologia genética degenerativa que gera fraqueza e atrofia dos músculos, afetando também a respiração.
Sobre Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), o FDA aprovou um novo tratamento para ensaio clínico realizado no Japão, no qual as pessoas que receberam o medicamento Edaravona apresentaram alguma melhora dos testes após 6 meses de avaliação. No entanto, o custo-benefício desta medicação ainda precisa ser melhor esclarecido.
Outra notícia importante foi sobre o tratamento da lombociatalgia com trial “PRECISE”, publicado em março deste ano e mostrou que a pregabalina foi semelhante ao placebo, evocando a necessidade de se eleger outros tratamentos para este tipo de dor neuropática.
Este ano foram publicadas diretrizes para o acompanhamento de neuropatia diabética, uma das principais causas de alterações de sensibilidade (parestesias, alteração da percepção da temperatura e outros quadros dolorosos). Além de diversas indicações, recomendou-se que todos os pacientes seja avaliados anualmente para esta condição neurológica.
ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM):
Uma novidade sobre esta condição são os novos critérios propostos em outubro no congresso europeu: agora o exame do líquor será formalmente incluído como um dos itens do diagnóstico, caso revele a presença de bandas oligoclonais. A EM é uma das principais causas de incapacidade neurológica em jovens, podendo gerar sintomas diversos (por exemplo, formigamentos, alterações visuais e desequilíbrio).
Foi aprovado pelo FDA a medicação ocrelizumab pelo FDA para casos de EM primariamente progressiva (forma mais grave). No Brasil, novas medicações orais estão sendo incorporadas no protocolo de tratamento dispensado pelo SUS.