Nitrofurantoína é melhor que fosfomicina na infecção urinária?

Infecção urinária é um diagnóstico bastante comum na prática clínica, sendo a escolha correta do antibiótico um ponto chave para o tratamento.

Infecção do trato urinário baixo é um diagnóstico bastante comum na prática clínica, sendo a escolha correta do antibiótico um ponto chave para o tratamento. Deve-se pesar custo, comodidade posológica, resistência bacteriana, dentre outros fatores na hora desta escolha. A nitrofurantoína e a fosfomicina estão entre as primeiras opções na cistite, sendo esta última muito querida principalmente pela facilidade de ser usada em dose única. Recentemente, foi publicado no JAMA um ensaio clínico randomizado comparando a eficácia desses antibióticos no tratamento da cistite. Nitrofurantoína é melhor que fosfomicina na infecção do trato urinário?

O estudo realizado foi multinacional, randomizado e cego, incluindo 513 mulheres não grávidas, maiores de 18 anos, com sintomas de cistite (disúria, urgência, frequência ou sensibilidade suprapúbica), um exame simples de urina (EAS) positivo (com a detecção de nitritos ou leucócitos esterase) e nenhuma colonização conhecida ou infecção prévia com uropatógenos resistentes aos antibióticos do estudo.

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Nitrofurantoína x fosfomicina

As participantes foram randomizadas em dois grupos para receber nitrofurantoína oral, 100mg 3 vezes ao dia durante cinco dias (n = 255) ou uma dose única de 3 g de fosfomicina oral (n = 258). Elas retornaram 14 e 28 dias após o término da terapia para avaliação clínica e coleta de cultura de urina.

O desfecho primário foi resposta clínica nos 28 dias após o término da terapia, podendo ser:

  1. Resolução clínica (resolução completa do sintomas e sinais de ITU sem falha prévia).
  2. Falha (necessidade de alteração adicional ou alteração tratamento com antibióticos devido a ITU ou descontinuação por falta de eficácia).
  3. Indeterminado (persistência de sintomas sem evidência objetiva de infecção).

Resultados secundários incluíram resposta bacteriológica e incidência de eventos adversos.

Participaram do estudo 513 pacientes, 475 (93%) completaram o estudo e 377 (73%) tiveram um resultado positivo confirmado na cultura de base. A resolução clínica até o dia 28 foi alcançada em 171 de 244 pacientes (70%) recebendo nitrofurantoína vs 139 de 241 pacientes (58%) recebendo fosfomicina (diferença, 12% [95% IC, 4% -21%]; P = 0,004). Enquanto a resolução microbiológica ocorreu em 129 de 175 (74%) vs 103 de 163 (63%), respectivamente (diferença, 11% [95% IC, 1% -20%], P = 0,04). Eventos adversos foram poucos e principalmente gastrointestinais.

O estudo concluiu que entre as mulheres com ITU não complicada, nitrofurantoína em 5 dias, em comparação com fosfomicina em dose única, resultou em uma probabilidade significativamente maior de resolução microbiológica aos 28 dias após o término da terapia.

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Fosfomicina e a resistência bacteriana

Além disso, o estudo discute pontos importantes a respeito do uso da fosfomicina, no que diz respeito ao aumento crescente de resistência bacteriana ao uso deste antibiótico. Um estudo longitudinal realizado na Espanha documentou um aumento da resistência à fosfomicina de 4% a 11% entre 1997 e 2009, correspondendo a um aumento de 340% no consumo de droga durante esse tempo.

A fosfomicina é um antibiótico com amplo espectro de atividades, podendo ser uma poderosa arma contra a multirresistência, além de ter um perfil de segurança favorável. Sua administração oral continuada em uma dose insuficiente preocupa, pois pode diminuir rapidamente a sua utilidade, especialmente para infecções invasivas administração intravenosa em que ela poderia ser essencial para o tratamento.

LEIA MAIS: Terapia com fagos – é possível no combate à resistência a antibióticos?

A nitrofurantoína, em geral, tem sua dose recomendada como 100mg 6/6h, uma posologia que incomoda e desestimula seu uso. No estudo, ela foi utilizada de 8/8h com um desfecho favorável. As taxas de resistência a este antibiótico também estão aumentando. No entanto, atualmente estas taxas são baixas em relação às de outros antibióticos, e o papel da nitrofurantoína nas diretrizes e na prática clínica como um agente poupador de fluoroquinolona permanece essencial.

Cabe lembrar que, recentemente, o Food and Drugs Administration (FDA) emitiu um alerta orientando evitarmos o uso corriqueiro de quinolonas em infecções como cistite, pelo risco de hipoglicemia e alterações do estado mental. Aquela prática quase que medular de associar ciprofloxacino a ITU é coisa do passado!

Que mensagens podemos guardar com este estudo?

1) Paciente com ITU não complicada? Pense em nitrofurantoína ou fosfomicina como opções iniciais de tratamento.
2) A nitrofurantoína, apesar de incomodar pela comodidade posológica, se apresenta como uma boa opção de tratamento das cistites e uma forma de poupar o uso das fluoroquinolonas.
3) Use fosfomicina com parcimônia, pois ela pode fazer falta no tratamento das bactérias multirresistentes.

Referências:

  • Huttner A, Kowalczyk A, Turjeman A, et al. Effect of 5-Day Nitrofurantoin vs Single-Dose Fosfomycin on Clinical Resolution of Uncomplicated Lower Urinary Tract Infection in WomenA Randomized Clinical Trial. JAMA. 2018;319(17):1781–1789. doi:10.1001/jama.2018.3627

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