Níveis de HDL elevados sempre diminuem o risco cardiovascular?

Um estudo avaliou a concentração de HDL > 80 mg/dL e as mortalidades por todas as causas e por causas cardiovasculares como desfechos.  

Um grande número de evidências apoiam que a lipoproteína de alta densidade (HDL) possui papel na realização do transporte do colesterol das artérias para a metabolização. Assim, o colesterol HDL vem sendo chamado de “bom colesterol”, com o entendimento de que possui propriedades antiaterogênicas. Vários estudos demonstraram um aumento do risco cardiovascular com a diminuição dos níveis de HDL, bem como um efeito protetivo de valores mais elevados. No entanto, apesar de comumente se acreditar que valores muito elevados de HDL possam permanecer sendo benéficos, terapias farmacológicas que visam o aumento dos níveis séricos de HDL falharam em demonstrar redução do risco cardiovascular, muitas vezes até demonstrando dano. Apesar disso, pouco mais se foi estudado a respeito dos efeitos do HDL em níveis considerados “muito elevados” e alguns novos dados vêm surgindo que sugerem um efeito “paradoxal” do HDL nesses casos, com elevação da mortalidade principalmente em pacientes com doença coronariana. 

Qual seria, então, a associação entre níveis séricos “muito elevados” de HDL e desfechos coronarianos em pacientes com doença cardiovascular?  

imagem 3d de um coração

O estudo 

Pesquisadores realizaram um estudo de coorte, prospectivo, multicêntrico, envolvendo pacientes de biobancos dos Estados Unidos e do Reino Unido, com o objetivo de estudar essa associação, considerando como “muito elevado” a concentração de HDL > 80 mg/dL e as mortalidades por todas as causas e por causas cardiovasculares como desfechos.  

Métodos 

Um total de 19.945 pacientes preenchendo o critério de possuir doença cardiovascular foram avaliados, em uma média de acompanhamento de 6,7 anos e 8,9 anos, para os pacientes dos EUA e do Reino Unido, respectivamente.  

Resultados 

Foi encontrada uma associação em “formato de U” entre o HDL e a mortalidade, com maiores riscos tanto entre aqueles com valores considerados baixos, quanto entre aqueles com valores considerados muito altos de HDL, quando comparados àqueles com valores na faixa intermediária. Após o ajuste para fatores de confundimento, os valores muito elevados (> 80 mg/dL) foram associados a um aumento do risco de mortalidade por todas as causas (RR 1,96; IC 95%, 1,42 – 2,71; P < 0,001) e por causas cardiovasculares (RR, 1,71; IC 95%, 1,09 – 2,68; P = 0,02), em comparação aos com valores entre 40 e 60 mg/dL. O risco de mortalidade por todas as causas entre aqueles com valores muito elevados de HDL também foi maior entre homens do que entre mulheres. 

Conclusões 

Portanto, o estudo aponta que os indivíduos que possuem doença cardiovascular e níveis séricos de colesterol HDL > 80 mg/dL têm um risco 96% maior de morte por todas as causas e 71% maior de morte por causas cardiovasculares. Demonstra-se uma associação “paradoxal” entre HDL e mortalidade para pacientes com doença cardiovascular.

Saiba mais: Combate ao colesterol: hipercolesterolemia

Mensagem prática 

Com a demonstração do aumento de risco – em vez de redução – a partir de certos níveis de HDL, os médicos devem ter mais atenção a pacientes com essas características, atuando de maneira mais incisiva na prevenção cardiovascular, não acreditando que o paciente seja de baixo risco devido a valores altos de “bom colesterol”. A identificação desses indivíduos parece ser importante para o direcionamento e reforço de ações preventivas, como as orientações de estilo de vida e prescrição de estatinas, se necessário. Apesar de ser fundamental a realização de mais estudos, inclusive para determinar os mecanismos que possam estar por trás dessas associações, parece ser válido não considerar, automaticamente, valores elevados de colesterol HDL como protetores.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Liu C, Dhindsa D, Almuwaqqat Z, et al. Association Between High-Density Lipoprotein Cholesterol Levels and Adverse Cardiovascular Outcomes in High-risk Populations. JAMA Cardiol. 2022;7(7):672–680. doi:10.1001/jamacardio.2022.0912