Nova estratégia permite excluir IAM com apenas 1 hora da chegada na emergência

Paciente com dor precordial deve ser avaliado na emergência para determinar se a causa é uma SCA e se há uma condição de alto risco para morte, como o IAM.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

O paciente com dor precordial deve ser avaliado na emergência para determinar se a causa é uma síndrome coronariana aguda (SCA) e se há uma condição de alto risco para morte. Em reportagens anteriores, mostramos o passo a passo dessa abordagem e a estratificação de risco. Em 2015, a European Society of Cardiology (ESC) publicou diretrizes sobre a SCA sem supradesnível do segmento ST, na qual ela mostra a abordagem inicial ao paciente:

Protocolo de Dor torácica (10 min)

  1. História sucinta
  2. Exame físico direcionado
  3. ECG
  4. AAS mastigado
  5. Biomarcadores

A seguir, na ausência do supradesnível do segmento ST, deve ser realizada uma estratificação do risco do paciente, para a qual utilizam-se variáveis clínicas (hemodinâmica, respiração, arritmias e troponina) e o apoio de escores, com o TIMI e GRACE. Ao final, o paciente será classificado em um de três grupos:

  • Baixo risco → teste funcional vs anatomia (CAT ou angioTC)
  • Risco intermediário → CAT 12-24h
  • Alto risco → CAT ultraprecoce em 2h

Um grande problema desse algoritmo é que muitos pacientes ficam horas na emergência esperando a tal “curva enzimática”, o que sobrecarrega os serviços de saúde e gera desconforto e descontentamento no usuário. Por isso, têm-se buscado estratégias para identificar os pacientes de muito baixo risco de eventos cardiovasculares, cuja investigação e tratamento possam ser feitos ambulatorialmente. A troponina ultrassensível ganhou destaque nesse cenário, pois sua elevação precoce (em menos de 1h do início da dor) e a alta especificidade fazem dela um marcador fundamental nessa decisão. Hoje já há algoritmos nos quais o paciente que ficou sem dor e o ECG é normal, poderia ser liberado se a troponina ultrassensível basal e 3h após a chegada forem normais.

Entretanto, na diretriz, a ESC recomendou como alternativa um algoritmo de apenas 1 hora para excluir (rule out) pacientes de muito baixo risco, que poderiam ser liberados da emergência com segurança. De quebra, essa proposta valida ainda o rule in, um grupo com valor mais alto de troponina que deveria já entrar com alto risco na SCA. Recentemente, um grande estudo europeu validou o uso desse algoritmo no mundo real e trouxemos para vocês detalhes da abordagem.

O primeiro passo é você conhecer o kit usado em sua instituição da troponina ultrassensível. O algoritmo usa o ponto de corte como o percentil 99, que varia conforme a marca do fabricante. Abaixo, colocamos ilustração da própria diretriz europeia mostrando diferentes valores conforme kit.

dor precordial

Nesse algoritmo, o valor preditivo negativo foi de 99,8%!!! Não houve nenhum paciente no rule out que depois retrospectivamente foi diagnosticado com IAM. Com isso, os autores sugerem que pacientes com SCA sem supradesnível do segmento ST e sem outros marcadores de risco, isto é, que a dor cessou e o ECG é normal, podem ser liberados se a troponina ultrassensível basal e uma hora após a chegada forem normais. Mas lembre-se: a troponina é usada em conjunto com o ECG e as variáveis clínicas!!!

Outros resultados interessantes do estudo:

  • Esse algoritmo de 0/1 hora prediz risco de eventos prognósticos por 1 ano.
  • O valor preditivo positivo para selecionar pacientes de alto risco pelo rule in foi de 62-74%.
  • A troponina T mostrou resultados superiores ao kit de troponina I, mas os autores acham que foi por fator de confundimento.
  • Havia uma preocupação em pacientes com história de dor precordial iniciada há menos de 3 horas, pois poderia ainda não ter havido necrose do miocárdio com liberação de troponina. Mas 30% dos pacientes no estudo tinham dor de início agudo (< 3h) e a eficácia do algoritmo foi a mesma!
  • Nos subgrupos de alto risco, com diabéticos e renais crônicos, os resultados foram os mesmos!

É médico e também quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!

Referências:

  • Twerenbold et al. Prospective Validation of the 0/1-h Algorithm for Early Diagnosis of Myocardial Infarction. Journal of the American College of Cardiology. Volume 72, Issue 6, 7 August 2018, Pages 620-632 || https://doi.org/10.1016/j.jacc.2018.05.040

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.