Novas estratégias na prevenção ao HIV

Mesmo com distribuição gratuita de preservativos, o Brasil apresentou aumento dos casos de infecção pelo HIV. Como podemos mudar esse quadro? O que o profissional deve fazer?

Em recente estudo realizado com jovens entre 15 e 24 anos pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), junto à Universidade Católica de Santos e do Programa Municipal e Estadual DST/Aids, foi constatado que 94% dos indivíduos têm consciência de que o preservativo é a melhor forma de prevenir a transmissão das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), incluindo o HIV. No entanto, ao serem perguntados sobre o uso durante a última relação, o número cai consideravelmente: apenas 39,1% declararam ter usado o preservativo.

O reflexo desse comportamento é percebido no aumento do número de infectados no país, que sugere a necessidade de abordagens diferentes na conscientização do público e a disponibilização de novas ferramentas de proteção.

Leia também: Como os médicos podem ajudar a reduzir as infecções pelo HIV 

Mesmo com distribuição gratuita de preservativos pelo governo, entre 2010 e 2018, o Brasil apresentou aumento dos casos de infecção pelo HIV, divergindo da tendência observada na maioria dos países da América Latina e do resto do mundo.

Por que falta adesão ao preservativo?

Existem muitos motivos que levam as pessoas a deixarem de usar preservativos e o fato de não ter convivido com os anos mais difíceis da luta contra a Aids é um fator a ser considerado. Um estudo recente com jovens destaca ainda os seguintes motivos:

  • Uma suposta diminuição do prazer sexual;
  • A confiança no parceiro(a); e
  • Não ter o preservativo no momento da relação sexual.

Além disso, é preciso levar em consideração as vezes em que o método é falho. Em relações anais, a falta de lubrificação natural facilita que o preservativo se rompa. O uso de drogas e bebidas alcoólicas podem levar ao eventual esquecimento do uso do preservativo e é preciso considerar as ocasiões em que as relações não são consentidas.

Algumas populações estão mais expostas a estas condições e precisam de outras estratégias para se proteger. Segundo o Ministério da Saúde, essas populações são:

  • Gays e homens que fazem sexo com homens (HSHs);
  • Pessoas trans;
  • Pessoas que usam álcool e outras drogas;
  • Pessoas privadas de liberdade; e
  • Trabalhadoras do sexo.

Combinando possibilidades para aumentar a proteção

Nos últimos anos foram desenvolvidas novas ferramentas para evitar a infecção pelo vírus HIV e, principalmente, foi pensada uma estratégia que pudesse oferecer uma proteção maior às pessoas. A prevenção combinada do HIV é uma estratégia que faz uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção de acordo com as características de cada indivíduo. Levando-se em consideração o estado de saúde e estilo de vida, cada pessoa pode se decidir, de preferência com o apoio de um médico, pelos métodos preventivos que melhor se adequem.

Veja também: Saiba mais sobre a prevenção combinada do HIV no Brasil

O apoio médico é fundamental no momento de montar uma estratégia de prevenção combinada. Alguns dos métodos de proteção requerem receita e uma orientação adequada. No Brasil, destacam-se as seguintes ferramentas:

Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao HIV: consiste no uso de medicação antirretroviral em até 72 horas após exposição com risco de contato com o HIV. Indicado em casos tais como violência sexual, relação sexual desprotegida (sem uso de preservativo ou com rompimento do preservativo), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

Uso regular de preservativos: eficaz na prevenção de HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Diagnóstico oportuno e tratamento adequado de IST: a presença de uma IST sem úlceras genitais aumenta em três a 10 vezes o risco de infecção pelo HIV, enquanto a presença de IST com úlceras aumenta 18 vezes esse risco.

Redução de danos: é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas.

E a PrEP ou Profilaxia Pré-Exposição?

A PrEP é uma estratégia de prevenção para pessoas sob risco elevado de adquirir uma infecção pelo vírus HIV. Se baseia no uso diário de uma combinação das drogas antirretrovirais Tenofovir (TDF) e Entricitabina (FTC).

Em 2012, a Food and Drug Administration (FDA) americana aprovou sua utilização como uma estratégia na redução do risco de infecção pelo HIV, sendo que, entre 2012 e 2017, cerca de 120.000 pessoas fizeram uso de PrEP somente nos Estados Unidos. O programa das Nações Unidas de combate à AIDS (UNAIDS), criado com o objetivo prevenir o avanço do HIV, estima que o número de pessoas elegíveis para o uso de PrEP em todo o mundo passa dos três milhões. No Brasil, o medicamento é vendido sob prescrição médica e, com um receituário simples, o paciente pode comprar o medicamento sem burocracia.

Leia mais: Estudo mostra um declínio de 4,65% de novas infecções com o uso da PrEP

É importante ressaltar que não existe a necessidade de uso de PrEP para casais sorodiferentes estáveis, homo ou heterossexuais, onde o parceiro infectado está em uso de antirretrovirais, com carga viral não detectável há pelo menos seis meses. No entanto, a decisão do tratamento deve ser individualizada.

A mandala da prevenção combinada do HIV

O Ministério da Saúde utiliza uma representação gráfica dos diferentes métodos de prevenção para ajudar a orientar os profissionais da saúde e os pacientes em suas decisões. Conhecida como Mandala da Prevenção Combinada, ela é indicada principalmente para as populações-chave e prioritárias, que, segundo o Ministério, têm maior necessidade e probabilidade de contato com o vírus HIV.

A prevenção combinada aumenta a segurança das relações sexuais e pode ser adotada por todas as pessoas com vida sexual ativa, pois existem inúmeras combinações possíveis.

Referências bibliográficas:

  1. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X2019000100431&script=sci_arttext, acessado em 22 de novembro de 19.
  2. https://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/2019-global-AIDS-update_en.pdf, acessado em 30 de outubro de 19.
  3. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2019000100431, acessado em 22 de novembro de 19.
  4. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/o-que-e-prevencao-combinada, acessado em 25 de novembro de 19.
  5. https://prevencaocombinada.com.br/m/faq#p2, acessado em 25 de novembro de 19.

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