Novas metodologias de Promoção da Saúde

As práticas de promoção em saúde desenvolvem a autonomia dos usuários, possibilitando que os envolvidos produzam sua própria saúde.

O conceito de Promoção da Saúde ganhou força nas últimas décadas devido à insuficiência de enfrentamento e de resolutividade dos problemas de saúde que tomam como princípio a concepção biomédica de intervenção na saúde. Esse modelo biomédico é relacionado à assistência das doenças em seus aspectos individuais e biológicos, centrado no hospital, nas especialidades médicas e no uso intensivo de tecnologias. Ademais, trata-se de um modelo frequentemente questionado por pesquisadores do campo da saúde pública do Brasil. Por essa razão, é importante contribuir para a reflexão de modelos que o refutam e destacar os atuais determinantes de saúde. Esses determinantes de saúde são aqueles que podem contribuir para a potencialidade e vulnerabilidade da qualidade de vida. Além disso, convém informar que a atividade física é um desses determinantes supracitados, sendo benéfica no processo saúde-doença, e utilizada como instrumento para a promoção da saúde. Mas o que seria a promoção da saúde?

Em 1986, por meio da Carta de Ottawa, definiu-se o conceito de  promoção da saúde como um “Processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, sobretudo na inclusão de uma maior participação no controle deste processo” (OPAS, 1986). Esse documento, também, determinou cinco diretrizes da promoção da saúde: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; reforço da participação da comunidade na gestão do sistema de saúde; reorientação do sistema de saúde; criação de ambientes favoráveis à saúde; e ênfase na mudança de estilos de vida.

Nesse contexto, é subentendido que as práticas de promoção em saúde pretendem desenvolver a autonomia dos usuários, possibilitando que os indivíduos ou a comunidade produzam sua própria saúde e ampliem sua capacidade de reflexão com reeducação de alguns hábitos. Cabe informar que, a fim de atingir a saúde – completo estado de bem estar – existem fatores determinantes como, por exemplo, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. É válido destacar, portanto, que as práticas de promoção da saúde devem ser desenvolvidas de maneira igualitária e universal, através de uma intervenção articulada, ou seja, regida pela intersetorialidade e pela participação social dos usuários, por meio de ações voltadas para a melhoria da saúde e seus determinantes.

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Nesse ínterim, muitos determinantes de saúde necessitam da elaboração e da implementação de Políticas Públicas. Embora existam áreas do conhecimento, como a atividade física, que pode ser desenvolvida pelo próprio usuário e possuam baixo custo e alta resposta de prevenção do adoecimento.

As práticas de atividade física são referenciadas e recomendadas, por exemplo, como um instrumento de promover saúde, o que provoca, também, a prevenção de doenças. Elas foram incluídas na Lei 12.864 como determinante de saúde em 2013, e hoje é percebida como objeto fundamental para a garantia da saúde plena, bem como necessitam de uma compreensão ampla. Indubitavelmente a atividade física se insere na vida de pessoas como instrumento potencializador de qualidade de vida. Estudos mostram que a prática de atividade física diminui riscos de doenças cardiovasculares, combate a obesidade e melhora a qualidade de vida de pessoas com sofrimento psíquico.

Sobre isso, é necessário dizer que a prática de atividade física revela resultados iguais aos da resposta de alguns medicamentos ansiolíticos e antidepressivos. Sua relação com neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a adrenalina podem provocar melhora na condição clínica de pessoas com sintomas depressivos. E, ainda, na diminuição de sintomas ansiosos como inibição do sistema nervoso central após prática, causado pela sensibilização gabaérgica.

A atividade física é um componente de cuidado à saúde. Vamos, então, compreender algumas metodologias de interação que são instrumentos de promoção à saúde e podem ser utilizadas para melhorar a qualidade de vida como vimos no caso da atividade física.

Novas metodologias de Promoção da Saúde

Metodologias de Promoção da Saúde

Diante dos fatos relatados, importa destacar alguns dos principais métodos abordados para promover a saúde: os grupos educativos, as entrevistas motivacionais (EM), a educação entre pares, o programa de empoderamento do paciente (PEP) e as intervenções telefônicas. Vale destacar a característica de cada um deles para auxiliar a avaliação dos profissionais de saúde, principalmente do enfermeiro na abordagem ao usuário.

Grupos Educativos

Os grupos educativos são as principais ferramentas utilizadas para a promoção à saúde na Atenção Primária à Saúde (APS). Podemos compreender o grupo como um espaço terapêutico, local de ensino e aprendizado que nasce entre pessoas e por pessoas. É um espaço para reflexão do movimento, que oportuniza atingir objetivos, transformando a condição de saúde da população, se fortificando na construção de novas novas redes de cuidado. Portanto, são ferramentas educativas com potencial terapêutico que devem ser utilizadas na atenção básica.

Entrevistas Motivacionais (EM)

Esta modalidade de interação terapêutica se faz como um estilo de conversa colaborativa que se baseia no fortalecimento da motivação do usuário do serviço de saúde e do estabelecimento de vínculo, confiança e comprometimento de um processo de mudança. Técnicas necessitam de ser desenvolvidas nessa modalidade. Elas auxiliam o profissional na prática e se constroem por meio da empatia, colaboração mútua, compreensão da ambivalência presente no processo saúde-doença.

Educação entre Pares (EP)

A educação entre pares é uma estratégia que pode ser utilizada na Atenção Primária que reforça a condição participativa, onde há notória possibilidade de haver pares educadores e educandos e também pares de educandos que se ajudam de forma recíproca. Nesse sentido, pessoas que vivem os mesmos contextos são pares que, por meio da vivência de cada um, poderão estabelecer a educação e a promoção da saúde. Há aqui uma estratégia de influência educativa modificadora e transformadora capaz de atingir ganhos significativos ao nível da saúde.

Programa do Empoderamento do Paciente (PEP)

A prática baseada no empoderamento que se relaciona com as escolhas, o controle e as consequências. A abordagem é centrada na problematização para a construção do conhecimento. E, dessa forma, novas práticas podem surgir para que o indivíduo possa construir melhor controle e avaliação das consequências que se relaciona com um movimento diário de construção da saúde. Constrói um maior empoderamento na reflexão de conclusões corretas respeitando a troca dos saberes científicos e os principais problemas encontrados no autocuidado.

Intervenções telefônicas

A intervenção telefônica é uma ótima ferramenta na construção da promoção da saúde, uma vez que pode proporcionar um contato direto com pessoas do território, discutindo melhores formas de cuidado e para que profissionais possam compreender as dificuldades que usuários do serviço de saúde possuem para construir o autocuidado. Estabelece vínculo e pode servir de instrumento de acolhimento e cuidado. Durante a pandemia da covid-19 foi uma ferramenta amplamente utilizada.

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Fica evidente que muitas e diversificadas abordagens são utilizadas como estratégia para se promover saúde e estimular a atividade física aos usuários. Dessa forma, não prevalece um método e sim a necessidade de se avaliar a aceitação dos métodos pela população em questão, muitas vezes associando diferentes estratégias para se melhorar e ampliar o vínculo entre usuários e profissionais bem como a participação destes de forma contínua. Outros métodos ainda podem ser funcionais para que possamos realizar a promoção da saúde da população. A promoção da saúde é um dos instrumentos mais fortes da constituição da qualidade de vida, e por isso deve ser valorizada.

Autores(as):

Mariana Marins
Enfermeira, especialista em saúde da família. Mestre em educação pela Universidade Federal Fluminense. Experiência na gestão de unidade básica de saúde no Município do Rio de Janeiro e atualmente Gestora em Saúde no Município de Maricá.

Rafael Polakiewicz
Doutorando em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF), Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde (UFF) e Especialista em Atenção Psicossocial.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Rossetto M. Grahl F. Grupos educativos na Atenção Básica à Saúde: revisão integrativa de literatura de 2009 a 2018. Research, Society and Development, 2021;10(10)e174101018561.2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i10.18561
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