Novo algoritmo para avaliar os abortos recorrentes de causas inexplicáveis

Revisão publicada em revista médica sugere um novo algoritmo para avaliação dos casais com abortos espontâneos recorrentes.

Iniciamos este artigo relembrando que o processo reprodutivo humano é muito ineficaz. Em torno de 70% das concepções não chegam à viabilidade e, aproximadamente, 50% das gestações são perdidas espontaneamente sem nem serem percebidas. O aborto espontâneo é, no fim das contas, uma das complicações mais comuns da gravidez então. Uma revisão publicada na Current Opinion in Obstetrics and Gyneology (edição setembro/outubro 2020) sugere um novo algoritmo para avaliação dos casais com perdas fetais recorrentes, que até agora era feita com avaliação genética e cromossômica baseada no material genético parental.

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Associações criaram um novo algoritmo para avaliar os abortos recorrentes de causas inexplicáveis

Amálgama de algoritmos anteriores

A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, em 2012, numa avaliação de 1.398 casos de perdas recorrentes, encontrou 57% de materiais genéticos parentais normais, avaliando somente em um primeiro momento os pais e o material placentário. Portanto, aqui eles recomendavam que os cariótipos dos pais fossem investigados desde o início.

A Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em 2017, já sugeria que a investigação cromossômica parental fosse realizada somente em “casos selecionados individualmente”.

Por fim, temos agora em 2020 uma nova sugestão para investigação das perdas recorrentes fetais proposta pela união das anteriores e a nova proposta para 2020:

Reprodução de Papas RS, Kutteh WH, 2020

 

De acordo com as novas propostas desse guideline de 2020, a investigação do casal infértil por abortos recorrentes de causas inexplicáveis (agora também reformulado o conceito para a partir de duas perdas somente) baseia-se, desde o início:

  1. Cariótipo dos pais: não recomendado (a não ser que o exame genético do material do aborto mostre alterações genéticas, como translocações robertsonianas balanceadas).
  2. Cariótipo do material de aborto: recomendado (a partir do segundo aborto já — antes só se fazia investigação a partir do terceiro).
  3. Anatomia uterina: recomendado (avaliação com USG 3D).
  4. Anticorpos antifosfolípides: recomendado (pesquisar: anticorpo canticardiolipina, anticorpo antifosfolípide e anticorpo antifosfatidilserina).
  5. Função tireoidiana: recomendado (TSH e anti TPO se TSH > 2,5 mUI/L).
  6. Prolactina: recomendado.
  7. Hemoglobina glicosilada: recomendado.
  8. Trombofilias hereditárias: só investigar se antecedente pessoal ou familiar forte para trombofilia ou trombose.
  9. Teste de fragmentação DNA espermática: não recomendado.
  10. Resistência à insulina ou síndrome dos ovários policísticos: não recomendado.
  11. Insuficiência lútea: não recomendado.
  12. Testagem da reserva ovariana: não recomendado.
  13. Deficiência de vitamina D: recomendado suplementação de vitamina D.

Saiba mais: Estudo associa benzodiazepínicos a risco de aborto espontâneo

A perda de uma gestação é um evento marcante na vida de um casal. Além dos aspectos técnicos e emocionais serem explicados, torna-se importante que a equipe de suporte, além de oferecer uma resposta para tentar minimizar os impactos do evento, também ofereça as informações sobre os impactos negativos que o tabagismo, abuso de álcool e os extremos de ganho ou perdas de peso podem ter sobre a saúde reprodutiva dos casais. Se necessário, os casais ainda devem ser encaminhados para os respectivos serviços de suporte para correção dessas situações.

Fato relevante no novo algoritmo é que causas potencialmente tratáveis no primeiro trimestre podem ser realizadas ainda sem resultados dos estudos genéticos, fazendo com que o desejo de prosseguir uma gestação possa ser alcançado.

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Referência bibliográfica:

  • Papas RS, Kutteh WH. A new algorithm for the evaluation of recurrent pregnancy loss redefining unexplained miscarriage: review of current guidelines. Current Opinion in Obstetrics and Gynecology: October 2020 – Volume 32 – Issue 5 – p 371-379. doi: 10.1097/GCO.0000000000000647

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