Nutrição e crescimento em crianças com displasia broncopulmonar (DBP)

As crianças com displasia broncopulmonar (DBP) possuem uma necessidade energética alta quando comparadas às crianças com mesma idade sem DBP.

A displasia broncopulmonar (DBP) é uma condição relativamente frequente em recém-nascidos prematuros (RNPT), definida como uma doença pulmonar parenquimatosa persistente, reafirmada por imagem radiológica, em bebês com idade gestacional (IG) menor que 32 semanas e que nas 36 semanas necessitou de suplementação de oxigênio por 3 dias ou mais de forma consecutiva, com o objetivo de manter a saturação de oxigênio entre 90-95%. Nesses pacientes, a nutrição adequada tem um grande impacto no crescimento e desenvolvimento, visto que, após o nascimento, o pulmão segue em processo de maturação. 

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As crianças com DBP possuem uma necessidade energética alta quando comparadas às crianças com mesma idade sem o diagnóstico de DBP. Esse aporte calórico alto não está limitado ao período em que as crianças com DBP estão em internação hospitalar. Mesmo após a alta, há necessidade de se manter uma oferta calórica adequada. Estudos prévios já evidenciaram que as crianças com DBP não têm as suas necessidades energéticas plenamente atingidas, resultando em déficits nutricionais, baixo ganho ponderal e crescimento insuficiente.  Esses processos estão relacionados com a disfunção pulmonar prolongada e persistente que esses pacientes possuem, sendo o status nutricional das crianças com DBP aos 2 anos de idade um preditor de gravidade para doença pulmonar no futuro. 

Nutrição e crescimento em crianças com displasia broncopulmonar 

Fatores epidemiológicos e fisiopatológicos relacionados à nutrição em DBP 

O peso é uma variável objetiva e importante para a avaliação nutricional de pacientes com DBP. Ao que tudo indica, os pacientes nascidos com IG entre 24 e 29 semanas têm dificuldade em recuperar o peso de nascimento e em manter o ganho ponderal por volta de 15 g/kg/dia até a alta hospitalar. Há uma estimativa de que as necessidades energéticas dos pacientes com DBP estão entre 15% e 25% maiores do que as necessidades das crianças sem DBP, sendo um valor aproximado de 140 a 150 kcal/kg/dia.

Outros fatores também estão associados à dificuldade de ganho ponderal dos pacientes com DBP. Dentre eles, podem-se destacar as disfunções oro-motoras e a incapacidade de alimentação plena por via oral, em parte considerável dos pacientes. Frequentemente, esses pacientes apresentam dificuldades de progressão da dieta, engasgos, vômitos, doença do refluxo gastroesofágico ou outros agravos do trato gastrointestinal que repercutem no status nutricional do paciente. Além disso, situações como o aumento da demanda metabólica devido ao gasto energético alto e  ao quadro pulmonar subjacente, atrasos do desenvolvimento, tabagismo e um menor nível socioeconômico podem gerar um impacto adicional à nutrição dos pacientes com DBP. 

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Estudos realizados em animais avaliaram o impacto da desnutrição na maturação pulmonar, obtendo resultados que apontaram para uma desregulação da formação alveolar. Além disso, a restrição de crescimento após o nascimento demonstrou aumentar a hipertensão pulmonar induzida por oxigênio. 

Fatores dietéticos

A American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda que o leite materno deve ser usado durante os primeiros 6 meses de vida para os pacientes com DBP, resultando em uma menor procura aos serviços de urgência e emergência, menor uso de corticoide sistêmico e menores taxas de internação por quadros respiratórios. A oferta proteica adequada é importante para a promoção do crescimento pulmonar e também para o reparo de tecidos danificados pelo quadro pulmonar, mas não recomendações específicas sobre a ingestão proteica nos pacientes com DBP. Após o desmame, a escolha de uma fórmula infantil deve ser individualizada e baseada na idade do paciente e nas suas necessidades nutricionais, não tendo uma fórmula padrão específica para as crianças com DBP. 

A suplementação calórica é uma realidade para parte considerável dos pacientes com DBP, podendo ser realizada com carboidratos ou com fontes de gordura. Quando realizada com essa última, há uma menor produção de dióxido de carbono, gerando menor impacto pulmonar. No entanto, o ganho ponderal é mais satisfatório quando a suplementação é feita à base de carboidratos. Sendo assim, cada caso deve ser individualizado avaliando-se essas nuances e o objetivo nutricional de cada paciente.

Em relação à suplementação de micronutrientes e vitaminas, as evidências ainda são limitadas, sendo a suplementação de zinco fortemente considerada em crianças com DBP e baixo crescimento, visto que ele atua em vários processos celulares, incluindo crescimento, reparo de tecidos, tolerância a carboidratos e resposta imunológica do hospedeiro. É importante afirmar que não há evidências que sugiram que a suplementação de vitaminas específicas acima da necessidade dietética recomendada tenha um papel no tratamento ou manejo da DBP. 

Em relação à nutrição parenteral (NP), a necessidade contínua de sua administração em crianças com DBP pode coincidir com o diagnóstico de síndrome do intestino curto ou insuficiência intestinal. De forma isolada, ela pode ser utilizada em crianças com dificuldades no manejo nutricional em fases iniciais, com atenção para a oferta adequada de proteínas e de lipídeos. 

Discussão e conclusão  

Apesar da importância da nutrição e do crescimento na DBP, há uma escassez de evidências de alta qualidade para orientar e alinhar as condutas que resultarão em resultados nutricionais ideais na DBP.

O estado nutricional e o crescimento do paciente com DBP é um ponto crítico e decisivo para um melhor prognóstico em longo prazo para os pacientes, resultando em uma melhora dos sintomas respiratórios e menor necessidade de internação hospitalar. 

Sendo assim, para o manejo nutricional na DBP, uma abordagem de equipe interdisciplinar que inclui pneumologistas, gastroenterologistas, nutricionistas e fonoaudiólogos pode trazer grandes benefícios, com uma avaliação minuciosa em cada consulta em busca de possíveis deficiências nutricionais e/ou alterações orgânicas. Exames complementares podem ajudar na avaliação do estado nutricional, como eletrólitos, testes de função hepática, ferro, hemograma, níveis séricos de ferritina, albumina e pré-albumina entre outros, de acordo com o quadro clínico do paciente.

Referências bibliográficas:

  • Bauer SE, Vanderpool C, Ren C, Ioana Cristea A.. Nutrition and Growth in Infants with Established Bronchopulmonary Dysplasia. Pediatric pulmonology. 2021. Advance online publication. doi: 10.1002/ppul.25638
  • Jobe AH, Bancalari EH. Controversies about the definition of bronchopulmonary dysplasia at 50 years. Acta paediatrica (Oslo, Norway : 1992). 2017;106(5):692–693. doi: 10.1111/apa.13775

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