Nutrição Parenteral, Disbiose e Permeabilidade Intestinal

A nutrição parenteral (NPT) é uma estratégia fundamental e indispensável a um grande número de pacientes que apresenta disfunção intestinal.

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A nutrição parenteral (NPT) é uma estratégia fundamental e indispensável a um grande número de pacientes que apresenta disfunção intestinal. O nosso conhecimento a respeito das intervenções nutricionais em diferentes modelos de estudos e condições clínicas, porém, é ainda restrito.

Apresento aos colegas um estudo que se tornará um clássico da terapia nutricional e candidato – a meu ver – a ser um dos top 10 da década. Foi conduzido sob a batuta do falecido prof. Daniel Teitelbaum.

Embora indispensável em muitos cenários clínicos, sabe-se que a nutrição parenteral acarreta modificações da microbiota intestinal, induzindo à dominância característica de proteobactérias, predominantemente da família de enterobacteriáceas. Prof. Teitelbaum e seu grupo mostraram em uma elegante sequência de estudos que estas mudanças no microbioma acarretam muitas e até então insuspeitas modificações na fisiologia intestinal.

Em um modelo experimental com camundongos, dois grupos foram alimentados com nutrição parenteral e comparados com o grupo controle, alimentado com ração. A solução de NPT oferecida continha leucina radioativamente marcada, a fim de permitir rastreabilidade do caminho metabólico do aminoácido. Após o período de exposição, uma análise metabolômica do conteúdo intestinal foi realizada.

Mais do autor: ‘Oferta de proteínas no paciente grave: o que devemos saber’

Observou-se que o conteúdo intestinal dos animais alimentados com NPT apresentavam alto grau de semelhança com a própria solução de NPT, com recuperação de leucina radioativamente marcada no efluente intestinal (!). Este fato sugere um escape transmembrana em direção à luz intestinal do conteúdo plasmático.

Em seguida, o caminho metabólico desta leucina marcada foi rastreado. Seu destino era a utilização por parte das enterobactérias na própria luz intestinal, constituindo-se seu macronutriente principal. O conteúdo intestinal desses animais foi recuperado e instilado em camundongos livres de germe, com o intuito de testar a hipótese de uma “transmissibilidade” do fenótipo de disbiose-hiperpermeabilidade intestinal. Os animais receptores desse conteúdo desenvolveram um fenótipo pró-inflamatório, com perda da barreira intestinal e mesmo padrão de permeabilidade.

Esse estudo muito completo e elegante nos mostra que a dependência de nutrição parenteral acarreta um aumento da permeabilidade aos nutrientes da própria NPT para a luz do intestino delgado. Estes nutrientes são aproveitados por bactérias patogênicas para perpetuação da disbiose.

Muito mais do que um libelo contra o uso da NPT, os achados nos mostram que intervenções de alta complexidade como terapia nutricional precisam da participação do especialista. Não se trata simplesmente de pendurar ou instalar bolsas de NPT. Como qualquer outra modalidade terapêutica, riscos e benefícios precisam ser pesados e assumidos.

Para saber mais sobre o artigo confira em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27586649.

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