O dilema dos novos testes rápidos para a detecção do SARS-CoV-2

Ao atender a demanda por exames para o Covid-19, fabricantes lançaram, em tempo recorde, seus kits de diagnósticos. O que levanta a questão da eficácia.

A atual pandemia de Covid-19 vem gerando grandes desafios para toda a sociedade e comunidade científica, de diferentes maneiras. Enquanto a população tem que lidar com situações como a mudança de hábitos e o isolamento social, os pesquisadores correm contra o tempo para apresentarem soluções a perguntas que, muitas vezes, ainda não têm respostas.

Enquanto a pandemia se alastra a uma velocidade impressionante, milhares de estudos e ensaios clínicos estão em andamento, objetivando avanços no que se refere ao diagnóstico, transmissibilidade, complicações, terapêutica, etc.

Embora todos esses esforços e rapidez sejam importantíssimos no enfrentamento contra o novo coronavírus, no ímpeto de dar respostas e gerar conclusões imediatas, alguns estudos podem apresentar falhas metodológicas que podem comprometer sua aplicabilidade clínica.

Paciente realizando teste diagnóstico para detecção do Covid-19.

Testes diagnósticos

Como não podia deixar de ser, no âmbito dos testes diagnósticos isso também ocorre. Há uma enorme escassez de testes moleculares (tanto na rede pública quanto na privada), devido a uma forte demanda inicial, além da falta de insumos à nível mundial para as determinações. Some-se a isso à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de testagem populacional em massa, devido ao sucesso que alguns países obtiveram ao implantar essa prática.

A fim de fazer frente a essa crescente demanda por exames laboratoriais, acompanhando o aumento vertiginoso dos casos, diversos fabricantes da área de medicina laboratorial lançaram, em tempo recorde, os seus próprios kits de diagnósticos. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou a comercialização de 11 kits para o diagnóstico in vitro do SARS-CoV-2. Destes, 9 kits são de testes rápidos (imunocromatográficos) e apenas 2 de ensaios moleculares, os quais utilizam a única metodologia diagnóstica validada até o momento (reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa em tempo real/RT-PCR).

Diferentemente das técnicas moleculares, que identificam genes virais específicos, as técnicas imunocromatográficas aprovadas podem detectar os anticorpos IgM e IgG (as que utilizam amostras de sangue) ou os antígenos virais (no caso das que utilizam secreções respiratórias). As grandes vantagens dos novos testes imunocromatográficos são: a sua caraterística de poder ser transportado facilmente, inclusive até a casa do paciente (tem a forma de pequeno plástico moldado, conhecido como “sabonete”), a sua simplicidade de operação e interpretação, o custo menor, não necessitar de equipamentos complementares, e a rapidez do resultado (em torno de 15 minutos, enquanto na técnica molecular, classicamente, varia de 24 a 48 horas).

Então qual seria a desvantagem desses novos testes rápidos?

Todo teste diagnóstico, antes de ser disponibilizado comercialmente em larga escala, necessita ser submetido a vários procedimentos, passar por etapas e avaliações rigorosas, a fim de ter a segurança/eficácia dos seus resultados comprovada. A questão é que isso demanda tempo.

Esses kits ainda estão sendo avaliados quanto ao seu desempenho, possíveis interferentes, sua sensibilidade e especificidade, inclusive na fase aguda da doença. Ainda não se sabe ao certo o período da janela imunológica (tempo decorrido entre o início da infecção e a produção de anticorpos), bem como se os procedimentos de fabricação e controle da qualidade condizem com as boas práticas dos laboratórios clínicos. Dessa maneira, resultados falso-negativos ou falso-positivos podem ocorrer em proporções ainda não muito bem definidas, o que pode comprometer a extrapolação clínica dos resultados laboratoriais.

Leia também: Swabs retais positivos em crianças com Covid-19: o que isso pode indicar?

Mensagem final

Os testes rápidos para o diagnóstico da Covid-19 serão de grande valia para o enfrentamento dessa pandemia, na medida em que podem ser testadas milhões de pessoas em pouco espaço de tempo, a um custo relativamente baixo. No entanto, os resultados ainda devem ser interpretados com cautela, especialmente quando conflitantes com o quadro clínico-epidemiológico.

Com o avanço dos estudos e validações, poderemos ter mais segurança na análise desses resultados, fornecendo assim um precioso suporte às decisões médicas, bem como ao ordenamento das políticas públicas.

Referências Bibliográficas:

  • Corman VM et al. Detection of 2019 novel coronavirus (2019-nCoV) by real-time RT-PCR. Euro Surveill. 2020;25(3):pii=2000045. https://doi.org/10.2807/1560-7917.ES.2020.25.3.2000045
  • SBPC/ML. Diretriz para a Gestão e Garantia da Qualidade de Testes Laboratoriais Remotos (TLR) da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). 2aed. Barueri, SP: Minha Editora, 2016.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.