O gasto energético total não varia dos 20 aos 63 anos

Estudo publicado em agosto buscou avaliar a variação no gasto energético total ao longo da vida, comparando diferentes faixas etárias.

Nos atendimentos médicos em obesidade, é frequente ouvirmos a frase anedótica: “depois de certa idade, tudo que eu comia engordava. Quando eu era mais novo (a) não era assim”. Às vezes certos dogmas transmitidos entre pacientes, que até fazem sentido do ponto de vista lógico, são reproduzidos e pouco questionados. Estudos que avaliam de fato o gasto energético total (GET) não são práticos e há escassos dados sobre a comparação desse índice ao longo da vida, sobretudo em uma longa coorte. A maioria dos trabalhos nessa área se limitaram à avaliação do gasto energético de repouso/basal (GEB — que avalia o gasto no repouso, mas não leva em conta os gastos com atividade física, que também variam ao longo da vida — e corresponde a aproximadamente 70% do GET).

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Nesse contexto, um estudo publicado em agosto/2021 na Science buscou avaliar a variação no GET ao longo da vida, comparando diferentes faixas etárias, bem como os efeitos de variáveis como atividade física, sexo e composição corporal.

O gasto energético total não varia dos 20 aos 63 anos

O estudo

O estudo selecionou uma grande base de dados internacional (N = 6.421), envolvendo 29 países, com idade variando entre 8 dias de vida a 95 anos. 64% dos participantes eram do sexo feminino. A avaliação do GET foi feita por análise de mensuração de água duplamente marcada (padrão ouro para a mensuração) e equação única a partir dos resultados. A estimativa do GEB foi feita por calorimetria indireta ou estimada a partir do GET.

Resultados

O primeiro ponto importante é que o GET e GEB aumentam em relação exponencial à massa livre de gordura (MLG). Isso é importante porque para efeitos comparativos entre sexos e diferentes idades (o peso corporal de uma criança, por exemplo, é muito menor do que o peso de um adulto) o GET precisa ser normatizado para a MLG.

A seguir, os autores avaliaram o comportamento do GET ao longo da vida. Aqui, o dado mais interessante do estudo. Por meio de regressão, foi possível estimar 3 pontos de inflexão onde o GET variou entre as faixas etárias, propondo que o GET se divide em 4 fases ao longo da vida:

  1. Neonatos (<1 ano de vida): O maior GET para a MLG
  2. Crianças/jovens (1 a 20a): Há um decréscimo no GET nesse período
  3. Adultos (20 a 63a): Estabilização
  4. Idosos (>63a): Redução no GET novamente

Isso significa que entre adultos de 20 a 63 anos não houve diferença no gasto energético total normatizado para a massa livre de gordura. Quando avaliado sem controle para a MLG, ou seja, incluindo-se também massa gorda, a tendência de variação no GET ao longo da vida se manteve, sendo diferente entre mulheres e homens, refletindo a composição corporal de ambos os sexos.

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O GET teve um decremento após os 63 anos e, por meio de comparação com os resultados encontrados com modelos previamente descritos baseados em atividade física e na taxa metabólica tecidual (que pode variar entre tecidos ao longo da vida), a conclusão foi de que o declínio na atividade física e no metabolismo tecidual foram os principais fatores impactantes para essa queda no GET.

Mensagem prática

Pacientes entre 20 e 63 anos tendem a manter o GET. Este foi provavelmente o maior estudo que avaliou o comportamento do GET em indivíduos ao longo da vida. Tal dado é importante na abordagem ao paciente com obesidade, já que é preciso desmistificar as variáveis que interferem no processo do emagrecimento.

Vale lembrar que o GET pode variar entre indivíduos e para o estabelecimento de dietas mais restritivas isso deve ser levado em conta. Sempre que possível, devemos ter uma avaliação da composição corporal e estimativas do GEB e GET do paciente que iniciará o tratamento para obesidade.

Referências bibliográficas:

  • Pontzer H, et al. Daily energy expenditure through the human life course. Science. 2021;373(6556):808-812. doi: 10.1126/science.abe5017

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