O início do tratamento anti-hipertensivo pode ter impacto na qualidade de vida?

A hipertensão não controlada leva a aumento de morbidade e mortalidade, isso pode ser exacerbado por falhas no tratamento anti-hipertensivo.

A hipertensão não controlada leva a aumento de morbidade e mortalidade. Alguns dos motivos que podem contribuir para o controle inadequado são a má aderência medicamentosa e a inércia médica (falha em iniciar ou intensificar o tratamento anti-hipertensivo em pacientes com a doença não controlada). 

O diagnóstico e tratamento da hipertensão estão associados ao impacto na qualidade de vida relacionada a saúde (QVRS), que pode também contribuir para a má aderência ao tratamento. Alguns estudos sugerem que a QVRS pode melhorar ao longo do tempo, porém os estudos que avaliaram estes aspectos são controversos e o motivo para essas alterações não é muito claro.

Foi feito então um estudo que avaliou alteração da QVRS por meio do questionário EQ-5D e sua relação com fatores de risco maiores para doença cardiovascular (DCV) em pacientes recém-diagnosticados com hipertensão, no primeiro ano de tratamento.

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O início do tratamento anti-hipertensivo pode ter impacto na qualidade de vida?

Características do estudo e população envolvida

Estudo observacional realizado em centros de atenção primária da Finlândia, entre 2015 e 2018. Os critérios de inclusão eram: pacientes entre 30 e 75 anos que iriam iniciar o tratamento anti-hipertensivo pela primeira vez por diagnóstico de hipertensão, que tivessem celular com possibilidade de receber SMS e que fossem capazes de cuidar de sua medicação, medir a pressão arterial (PA) de forma adequada e que concordassem em receber prescrições eletrônicas.

Todos os pacientes tinham medias de peso, altura, PA e circunferência abdominal. A PA no consultório foi considerada a média de 3 medidas e a PA residencial a média de todas as medidas por 7 dias (três medidas realizadas duas vezes ao dia, entre 6 e 9 horas da manhã e entre 6 e 9 horas da noite). Foram realizados exames laboratoriais e eletrocardiograma (ECG).

Para a avaliação da qualidade de vida foi utilizado o questionário EQ-5D, que avalia cinco domínios da saúde: mobilidade, autocuidado, atividade habituais, dor/desconforto, ansiedade/depressão, sendo que cada domínio recebe uma pontuação de 1 a 3 (sem problemas, problemas moderados, problemas graves). A informação do questionário foi convertida para uma escala que varia de 0,59 a 1,00, sendo 1 a melhor QVRS possível. Além disso, esse questionário tem uma escala visual para avaliação da percepção de saúde como um todo, com pontuação que varia de 0 (o pior possível) a 100 (o melhor possível). O questionário foi aplicado no início do tratamento e ao final do primeiro ano.

O grupo intervenção foi avaliado pelo médico e recebeu auxílio de um checklist para início da medicação e de SMS personalizado por 12 meses e o grupo controle recebeu o tratamento habitual. O alvo de PA estabelecido foi < 140×90 mmHg para a maioria da população e 140×80 mmHg para os diabéticos. Para as medidas domiciliares, os alvos estabelecidos foram respectivamente 135×85 mmHg e 135×75 mmHg. 

Resultados

Foram avaliados 111 pacientes, 57 no grupo intervenção e 54 no grupo controle. Do total, 62% eram mulheres e a idade média era de 59 anos.  

Após um ano houve redução significativa das medidas de PA no consultório e residencial, tanto sistólica quanto diastólica, redução do colesterol total, do LDL e do consumo de álcool. Houve mudança do tratamento medicamentoso por ocorrência de efeitos colaterais em 23% dos pacientes. Ao final do primeiro ano, 30% dos pacientes estavam no alvo da medida de PA no consultório e 36% no alvo da medida residencial. 

A QVRS, avaliada pelo índice do EQ-5D piorou e a tendência foi semelhante em todos os domínios, porém a magnitude dessa piora foi pequena (0,045), próxima do valor considerado mínimo (0,05) para representar uma mudança significativa. Além disso, o valor do índice encontrado neste estudo (0,87) foi maior que em estudos prévios. A escala visual permaneceu semelhante e os outros desfechos do estudo não tiveram mudança significativa.

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Este estudo mostrou redução de diversos fatores de risco cardiovasculares no primeiro ano de tratamento da hipertensão e uma piora leve da QVRS, sendo que não houve correlação do nível de mudança da PA com a QVRS

Apenas receber o diagnóstico de hipertensão pode ter impacto na QVRS, porém este efeito parece não ser permanente. Além disso, outros fatores relacionados a baixa QVRS são tratáveis (dislipidemia, depressão, tabagismo, macroalbuminúria) e a QVRS pode aumentar ao longo do tempo. Os mecanismos que parecem ter relação com a melhora são a boa relação médico-paciente, ênfase em mudanças de estilo de vida, principalmente realização de atividade física, além de bom controle do tratamento, aderência medicamentosa e continuidade do cuidado.

Conclusão

Mais estudos nesta área, principalmente estudos longitudinais e de duração mais prolongada, poderão trazer mais informações que auxiliem na elaboração de intervenções e protocolos de tratamento que melhorem o controle da hipertensão e a QVRS.

Referências bibliográficas:

  • Thakola A, et al. The impact of antihypertensive treatment initiation on health-related quality of life and cardiovascular risk factor levels: a prospective, interventional study. BMC Cardiovascular Disorders. 2021;21(444). doi: 10.1186/s12872-021-02252-7.

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