O mel pode ser eficaz no tratamento de sintomas de infecções respiratórias?

As infecções respiratórias das vias aéreas superiores (IVAS) são muito comuns e, frequentemente, levam à prescrição de antibióticos.

As infecções respiratórias são muito comuns e, frequentemente, levam à prescrição de antibióticos. Porém, além de muitas dessas infecções das vias aéreas superiores (IVAS) serem virais e o antibiótico não surtir efeito, a prescrição exagerada desse tipo de medicamento pode levar a resistência a antimicrobianos importante.

Por isso, procurar outras opções de tratamento que possam ser eficazes, sem causar tantos efeitos adversos é essencial. O mel é recomendado por diretrizes para sintomas de IVAS em crianças, como tosse aguda, mas não possui recomendações oficiais em outras populações. Sendo assim, um estudo retrospectivo, publicado recentemente no BMJ Evidence-Based Medicine, avaliou a eficácia dessa terapia no alívio dos sintomas mais comuns.

Mel para sintomas de infecções das vias aéreas superiores

A revisão sistemática e metanálise incluiu 14 ensaios clínicos randomizados, que compararam o mel a pelo menos um outro tipo de tratamento para sintomas de infecções do trato respiratório superior (sem tratamento, placebo ou outro medicamento). Deles, nove foram estudos apenas em populações pediátricas.

Nove estudos utilizaram o mel puro, enquanto outros usaram xaropes à base de mel ou combinaram o mel com café ou leite. Além de tosse, os estudos também incluíram resultados para outros sintomas, como dificuldade de dormir, sintomas subjetivos gerais e duração de uma combinação de rinite, mialgia, congestão e tosse avaliada pelos pesquisadores.

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Resultados

  • Em dois estudos, com o total de 372 pacientes, o mel não foi superior ao placebo;
  • Três estudos em crianças, avaliando um escore combinado de sintomas, consideraram que o mel teve melhora significativa quando comparado com o tratamento usual;
  • Estudos que avaliaram a frequência e gravidade da tosse também tiveram uma melhora considerável com o mel, quando comparado ao tratamento usual;
  • Em outros dois estudos, com alto risco de viés, que incluíram o total de 334 pacientes, houve heterogeneidade moderada e o mel não foi significativamente diferente dos cuidados habituais;
  • Em comparação com o dextrometorfano, em dois estudos com total de 137 pacientes, o mel não foi significativamente melhor para a melhora dos sintomas combinados (MD-2,32, 95% CI -5,88 a 1,24), frequência de tosse (MD -0,52, 95% CI -1,51 a 0,46, I2 = 0%) ou gravidade da tosse ( MD −0,56, IC de 95% −1,65 a 0,53, I2 = 0%);
  • Em três estudos combinados, em comparação à difenidramina, o mel foi significativamente melhor para a melhora de todos os três resultados (pontuação combinada de sintomas MD −5,31, IC 95% −7,96 a −2,67, frequência de tosse MD −0,29, IC 95% −0,58 a −0,01, I2 = 46%, tosse gravidade MD −0,50, IC 95% −0,88 a −0,13, I2 = 53%). A combinação dos estudos teve 385 pacientes, e um deles tinha baixo risco de viés, enquanto os outros dois tinha de moderado a alto.

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Dos efeitos apenas em adultos:

  • Em comparação com o placebo, um único estudo concluiu que o mel foi significativamente melhor (SMD −1,03, IC de 95% −1,32 a −0,75, baixo risco de viés);
  • Na comparação com os cuidados habituais, as reduções na frequência e na gravidade da tosse permaneceram estatisticamente significativas: frequência da tosse SMD −0,30 (IC 95% −0,47 a −0,12), I2 = 0%; gravidade da tosse SMD -0,43 (-0,69 a -0,17), I2 = 38%;
  • Quando comparado o mel com a difenidramina, SMD para frequência de tosse foi −0,16 (−0,42 a 0,10) e I2 diminuiu de 17% para 3%. Para a gravidade da tosse, SMD diminuiu para −0,51 (−1,24 para 0,22) enquanto I2 aumentou para 77%.

Com risco geral de viés moderado, o estudo entendeu que o mel melhorou sintomas relacionados às IVAS de forma mais eficaz que o tratamento usual, tanto no escore de sintomas combinados (três estudos, diferença média −3,96, IC 95% −5,42 a −2,51, I2 = 0%), quanto na frequência de tosse (oito estudos, diferença média padronizada (SMD) −0,36, 95 % CI -0,50 a -0,21, I2 = 0%) e gravidade da tosse (cinco estudos, SMD -0,44, 95% CI -0,64 a -0,25, I2 = 20%).

Conclusões

Apesar de o mel ser consideravelmente melhor que os tratamentos usuais para os sintomas de infecções respiratórias, na comparação com o placebo os dados foram limitados e são necessários mais ensaios clínicos controlados.

No geral, as evidências mais fortes são para uso em tosse aguda, onde o mel atua melhorando a frequência e gravidade. Como não possui efeitos colaterais importantes, o mel pode ser uma opção barata e amplamente disponível.

Entre as limitações da metanálise, estão os riscos de viés variáveis dos estudos incluídos e as informações limitadas sobre os estudos com placebos.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referência bibliográfica:

  • Abuelgasim H, Albury C, Lee JEffectiveness of honey for symptomatic relief in upper respiratory tract infections: a systematic review and meta-analysisBMJ Evidence-Based Medicine Published Online First: 18 August 2020. doi: 10.1136/bmjebm-2020-111336

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