CirurgiaAGO 2021

O que causou minha apendicite, doutor?

É extremamente comum na vida de um cirurgião geral a pergunta por parte do paciente qual foi a causa da apendicite dele.

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Por Felipe Victer
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É extremamente comum na vida de um cirurgião geral a pergunta por parte do paciente qual foi a causa da apendicite dele. Normalmente as explicações são técnicas e recaem sobre dados estatísticos, sendo no adulto a causa mais frequente a presença de fecalitos. 

No entanto, sempre há uma correlação familiar de apendicite, e os próprios pacientes criam a hipótese de ser algo geneticamente relacionado. Estatisticamente esta relação existe, porém pela grande incidência de casos é difícil fazer esta correlação direta, isto é, a apendicite aconteceu pelo acaso ou teve um componente genético que influenciou o acometimento inflamatório do apêndice?

Leia também: Avaliação do risco cirúrgico em pacientes vacinados contra Covid-19 e cirurgias eletivas

O trabalho publicado na JAMA Surgery, analisou amostras genéticas de voluntários, e buscou variações que pudessem auxiliar na descoberta genética de causa de apendicite. 

O que causou minha apendicite, doutor?

Método e resultados

Um total de 29.706 voluntários foram incluídos no estudo sendo que 1.743 tinham uma história prévia de apendicite aguda, e os que não possuíam foram utilizados como grupo controle. O grupo apendicite possuía uma maior chance de ser fumante e maior tendência à obesidade (p < 0,001 e p < 0,1, respectivamente).

Em uma área do cromossoma 18q, próxima a região NEED4L, foi identificado um gene com associação com apendicite com risco relativo 0.99; 95% IC, 0,98-1,00. Também foi realizada uma análise de algumas amostras do apêndice inflamado, a qual também demonstrou uma maior produção de RNA relacionados ao gene.

Discussão

Neste estudo foi identificado um novo locus no cromossoma 18q, associado a apendicite aguda que no caso familiar chega a 30%. Além disto a análise molecular dos espécimes cirúrgicos também demonstraram um aumento de RNA, relacionados ao gene identificado.

Esta é a primeira vez que um gene da região NEED4L é associado à apendicite aguda. Alguns outros estudos buscaram uma associação genética para apendicite porém em outras localidades do cromossoma. Demais estudos fizeram associação com outros genes porém não foram reproduzidos os mesmos achados quando aplicados em outras populações. 

Saiba mais: Apendicite aguda: você sabe fazer uma apendicectomia videolaparoscópica?

Um dos mecanismos relacionados a este gene seria um aumento da expressão de canais de sódio. Isto causa uma maior absorção de água para o intracelular que consequentemente irá aumentar o volume da parede do apêndice cecal, e causar a obstrução da luz apendicular.

Conclusão

Apesar da identificação feita neste estudo, com uma associação entre causa e efeito são necessários maiores estudos para caracterizar o território genético da apendicite aguda.

Para levar para casa

Ainda é bastante precoce para afirmarmos que a apendicite é uma doença genética. Sabemos que há uma predisposição familiar, porém ainda não temos comprovação genética. Caso se comprove a associação, voltaremos à discussão se é eticamente recomendável apendicectomias preemptivas, seja durante outras operações abdominais ou até mesmo mesmo agendadas. 

Referências bibliográficas:

  • Mohammed MK, Zuckerbraun BS. NEDD4L Polymorphism and Acute Appendicitis and the Need for a Deeper Dive. JAMA Surg. Published online July 28, 2021. doi:10.1001/jamasurg.2021.3304

É extremamente comum na vida de um cirurgião geral a pergunta por parte do paciente qual foi a causa da apendicite dele. Normalmente as explicações são técnicas e recaem sobre dados estatísticos, sendo no adulto a causa mais frequente a presença de fecalitos. 

No entanto, sempre há uma correlação familiar de apendicite, e os próprios pacientes criam a hipótese de ser algo geneticamente relacionado. Estatisticamente esta relação existe, porém pela grande incidência de casos é difícil fazer esta correlação direta, isto é, a apendicite aconteceu pelo acaso ou teve um componente genético que influenciou o acometimento inflamatório do apêndice?

Leia também: Avaliação do risco cirúrgico em pacientes vacinados contra Covid-19 e cirurgias eletivas

O trabalho publicado na JAMA Surgery, analisou amostras genéticas de voluntários, e buscou variações que pudessem auxiliar na descoberta genética de causa de apendicite. 

O que causou minha apendicite, doutor?

Método e resultados

Um total de 29.706 voluntários foram incluídos no estudo sendo que 1.743 tinham uma história prévia de apendicite aguda, e os que não possuíam foram utilizados como grupo controle. O grupo apendicite possuía uma maior chance de ser fumante e maior tendência à obesidade (p < 0,001 e p < 0,1, respectivamente).

Em uma área do cromossoma 18q, próxima a região NEED4L, foi identificado um gene com associação com apendicite com risco relativo 0.99; 95% IC, 0,98-1,00. Também foi realizada uma análise de algumas amostras do apêndice inflamado, a qual também demonstrou uma maior produção de RNA relacionados ao gene.

Discussão

Neste estudo foi identificado um novo locus no cromossoma 18q, associado a apendicite aguda que no caso familiar chega a 30%. Além disto a análise molecular dos espécimes cirúrgicos também demonstraram um aumento de RNA, relacionados ao gene identificado.

Esta é a primeira vez que um gene da região NEED4L é associado à apendicite aguda. Alguns outros estudos buscaram uma associação genética para apendicite porém em outras localidades do cromossoma. Demais estudos fizeram associação com outros genes porém não foram reproduzidos os mesmos achados quando aplicados em outras populações. 

Saiba mais: Apendicite aguda: você sabe fazer uma apendicectomia videolaparoscópica?

Um dos mecanismos relacionados a este gene seria um aumento da expressão de canais de sódio. Isto causa uma maior absorção de água para o intracelular que consequentemente irá aumentar o volume da parede do apêndice cecal, e causar a obstrução da luz apendicular.

Conclusão

Apesar da identificação feita neste estudo, com uma associação entre causa e efeito são necessários maiores estudos para caracterizar o território genético da apendicite aguda.

Para levar para casa

Ainda é bastante precoce para afirmarmos que a apendicite é uma doença genética. Sabemos que há uma predisposição familiar, porém ainda não temos comprovação genética. Caso se comprove a associação, voltaremos à discussão se é eticamente recomendável apendicectomias preemptivas, seja durante outras operações abdominais ou até mesmo mesmo agendadas. 

Referências bibliográficas:

  • Mohammed MK, Zuckerbraun BS. NEDD4L Polymorphism and Acute Appendicitis and the Need for a Deeper Dive. JAMA Surg. Published online July 28, 2021. doi:10.1001/jamasurg.2021.3304

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Felipe VicterFelipe Victer
Editor Médico de Cirurgia Geral da Afya ⦁  Residência em Cirugia Geral pelo Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁ Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica (Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2016 a 2019) ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)